terça-feira, 3 de julho de 2012

EVASÃO NOS CURSOS SUBSEQUENTES DO COLÉGIO ZARDO: Analisando as causas no 1º semestre de 2012

Alexandro Muhlstedt
INTRODUÇÃO

Há três modalidades de cursos técnicos de nível médio. No "integrado", o currículo reúne os conhecimentos do ensino médio e as competências da educação profissional, ou seja, o aluno tem uma única matrícula para obter os dois diplomas. No "concomitante", o aluno se matricula em dois cursos distintos: no técnico e no ensino médio, o que pode ser feito em uma mesma escola ou em instituições diferentes. A terceira modalidade é a "subsequente" na qual o aluno que já concluiu a Educação Básica se matricula nesse curso e procura apenas a formação técnica. É sobre esta modalidade que o presente artigo se debruça.
O Colégio Estadual Professor Francisco Zardo, de Curitiba, oferta vagas para três cursos técnicos na modalidade subsequente: Administração, Informática e Meio Ambiente. As aulas ocorrem no período noturno e os três cursos têm duração de 1 ano e meio, organizado em 3 semestres.
Um dos problemas apontados nos cursos é a Evasão dos alunos, sendo que este não é um problema exclusivo dessa escola. É uma problemática escolar oriunda de questões sociais abrangentes e complexas que atingem, sobremaneira, os cursos técnicos, especialmente os de oferta subsequente do período noturno.

1. A Evasão escolar

Para Queiroz (2004), evasão escolar é o abandono da escola antes da conclusão de uma série ou de um determinado nível. A evasão consiste no ato ou processo de evadir, de fugir, de escapar ou esquivar-se dos compromissos assumidos ou por vir a assumir. Nesse sentido, pode-se perceber que o termo evasão tem como marca o abandono de uma instituição.
No caso específico do ensino, a evasão é um fenômeno caracterizado pelo abandono do curso, rompendo com o vínculo jurídico estabelecido, não renovando o compromisso ou sua manifestação de continuar no estabelecimento de ensino. Esta situação de evasão é vista como abandono, sem intenção de voltar, vez que não renovando a matrícula rompe-se o vínculo existente entre aluno e escola.
A evasão, sendo um fenômeno complexo, pode ocasionar sérias repercussões sociais e econômicas. Além dos problemas escolares para alunos e para a sociedade, podem ocorrer perdas de financeiras para a instituição e para o governo. Todos os recursos disponíveis da instituição (professores, funcionários, espaço físico, equipamentos, parte estrutural da escola), estarão disponíveis, mesmo que para atender somente 5 alunos, embora numa sala preparada para receber 30. Quando uma sala de aula é projetada, o investimento prevê a sua lotação. Mas, o que está ocorrendo é que as salas recebem menos alunos do que o previsto já no primeiro semestre, e qualquer que seja o número de alunos evadidos, acarreta ociosidade para a instituição.
Diante deste fato, muitas instituições estão matriculando alunos a mais nas turmas, já contando com uma grande taxa de evasão, conforme afirma Digiácomo,

A evasão escolar é um problema crônico em todo o Brasil, sendo muitas vezes passivamente assimilada e tolerada por escolas e sistemas de ensino, que chegam ao exercício de expedientes maquiadores ao admitirem a matrícula de um número mais elevado de alunos por turma do que o adequado já contando com a “desistência” de muitos ao longo do período letivo. (2005, p. 1).

Como afirma Arroyo (1993), a evasão escolar é uma questão social resultante da desigualdade social no Brasil, pois a interrupção dos estudos por parte dos alunos pode gerar prejuízos tanto para a sociedade quanto para si mesmo, tornando o aluno um trabalhador sem qualificação, mal remunerado e à mercê do desemprego, reproduzindo a exclusão para que parte da sociedade não tenha acesso ao conhecimento.

2. A Pesquisa

De acordo com estudos e pesquisas realizadas entre os anos de 2009 a 2011, constatou que os motivos mais presentes no abandono escolar nos três cursos técnicos dessa escola, não se referem ao “desinteresse pela escola”, mas sim, por questões socioeconômicas, que envolvem as dificuldades de conciliar estudo e trabalho, necessidade de trabalhar e problemas de ordem familiar.
Tendo em vista essa realidade, fez-se um levantamento mais detalhado no 1º semestre do ano letivo de 2012 com o objetivo de compreender os motivos que conduziram alunos ao abandono do curso.
No dia 02 de julho de 2012, de acordo com o Calendário Escolar, foi realizado na escola o Conselho de Classe. Nessa atividade, foi possível estabelecer as causas e motivos de evasão dos alunos matriculados no primeiro período dos cursos. A estratégia foi comparar os dados já levantados pela Equipe Pedagógica (Informações na Pasta de cada turma, bem como junto à Secretaria da escola) com os relatos dos professores e coordenadores de curso. A partir dessas informações a Equipe Pedagógica da escola, juntamente com os coordenadores, elencaram as ações tomadas para verificar o problema, bem como ações para evitar que tal problema se instale ainda mais.

3. Os dados levantados e as ações efetivadas

De acordo com o levantamento do número de alunos matriculados, evadidos e concluintes no 1º Semestre de 2012, nota-se:

CURSO
NÚMERO DE MATRICULADOS
NÚMERO DE EVADIDOS
NÚMERO DE CONCLUINTES
ADMINISTRAÇÃO
40
12
28
INFORMÁTICA
29
07
22
MEIO AMBIENTE
24
09
15
TOTAL
93
28
65
Tabela 1: Número de alunos matriculados, evadidos e concluintes no 1º Semestre de 2012.
Fonte: Secretaria do Colégio Zardo – SERE 2012


Gráfico 1: Número de alunos matriculados, evadidos e concluintes no 1º Semestre de 2012.
Fonte: Secretaria do Colégio Zardo – SERE 2012


Levando em consideração que a evasão é um problema que interfere sobremaneira nos aspectos pedagógicos de cada um dos cursos, foi feito o levantamento dos motivos que causaram o abandono do curso desses 28 alunos.
Os motivos da evasão, de acordo com levantamentos feitos pela Equipe Pedagógica e coordenadoras de Administração Meio Ambiente no Conselho de Classe, apontou as ações efetivadas via telefone e visitas que ocorreram ao longo do semestre, sendo que tais motivos são os seguintes:
  • 08 alunos tiveram mudanças no horário de trabalho (sendo o término entre 19 e 20h), tornando-se inviável frequentar as 3 primeiras aulas.
  • 04 alunos relataram passar por problemas familiares (alcoolismo, drogadição e problemas de saúde – câncer) optando por cuidar da família.
  • 04 alunos não encontraram no curso aquilo que procuravam numa formação profissional, explicando uma certa inadequação a expectativa e o que o curso propunha.
  • 04 alunos efetuaram a matrícula, porém nunca compareceram.
  • 03 alunos que mudaram de endereço e de município, dificultando o acesso à escola e chegada no horário.
  • 02 alunos que foram aprovados no Vestibular, e optaram por frequentar o Ensino Superior.
  • 02 alunos tiveram promoção no trabalho e optaram pela formação profissional ofertada na própria empresa.
  • 01 aluna atendida pela Lei de Amparo a Maternidade, porém desistiu pela impossibilidade de atender filho e estudos.

Durante o semestre, a equipe escolar (pedagógica e coordenação) desenvolveu várias ações, a começar pelo levantamento dos alunos faltosos às aulas, fazendo contato telefônico e registro dos motivos de faltas. Essa ação preventiva proporcionou a retomada de ações educativas e possibilidade de fazer adequações às peculiaridades de cada situação dos alunos.
Nos mês de abril, onde ocorreu o pré conselho, o problema da evasão já foi mencionado pelos professores, por isso, como atividade pós conselho, a Equipe efetivou as seguintes ações pedagógicas:
  • Chamamento individual dos alunos para conversa e orientação (via telefone), mas nem todos os faltosos compareceram.
  • Desenvolvimento de atividades e aumento dos prazos para entrega dos trabalhos, a fim de corrigir a rigidez em prazos que muitas vezes ignora as razões dos alunos (que na grande maioria são adultos).
  • Registro em ata e na Ficha individual do aluno de desempenho geral e orientações pedagógicas.
  • Replanejamento, com os professores, adequando os conteúdos e organizando atividades para melhor aprendizagem pelo aluno.
  • Ligação telefônica aos alunos e / ou suas famílias, solicitando os motivos das faltas e / ou abandono.
  • Intensificação de um trabalho permanente com os professores, elaborando e sugerindo atividades diferenciadas (palestras, seminários, visitas técnicas, etc, que foi tudo sendo publicado no Blog da Pedagogia).
  • Reunião com os alunos Monitores no qual solicitamos avaliação de cada disciplina e do curso com o intuito de corrigir as falhas por meio do apontamento dos próprios alunos.

Observou-se que, quando vários alunos foram contados para retornarem às aulas, muitos relataram que não teriam condições de recuperar o período “perdido”. Que se tornariam muito difícil acompanhar a turma, tendo em vista as aulas não assistidas. Mediantes aos fatos relatados, fica evidente a preocupação da Equipe com o problema que atinge nossos cursos técnicos, tentando de todas as formas possíveis, evitar a instalação deste. Fica evidente também que, em nenhum momento, foi deixado de verificar os motivos do abandono do curso pelos alunos, tentando ajustar o seu retorno às aulas. Inclusive, os professores foram incentivados a proporcionarem atividades diferenciadas, a fim de que as aulas sejam motivadoras e dinâmicas.

4. Reflexão dos professores sobre a Evasão

Como discussão e reflexão a respeito da problemática, organizou-se um Fórum on line no blog da Equipe Pedagógica (www.pedagogiazardo.blogspot.com), sobre os motivos da evasão. Lá, os professores opinaram a partir de algumas questões norteadoras: Quais os fatores internos geram evasão em nossa escola? Como o trabalho docente contribui ou não para a Evasão? Que conhecimentos são necessários aos profissionais da educação para planejar o trabalho escolar com vistas de prevenir a evasão? Quais dificuldades encontramos em nosso cotidiano para lidar com o problema da evasão?
Assim, foi possível conhecer os posicionamentos dos profissionais que vivenciam o dia a dia das aulas nos cursos técnicos subsequentes. Seguem reflexões de alguns professores sobre a temática:

Os motivos são os mais variados, percebidos de maneira diferente em cada turma, cada qual com um perfil próprio. O Ensino Noturno, por si só é "um segundo plano" na vida de alguns alunos, sempre, entretanto, visto por nós profissionais com a mesma importância que o ensino diurno. Quanto aos responsáveis, o próprio sistema capitalista e educacional é responsável, pois observa-se que alguns alunos param no inicio do curso por necessitarem trabalhar, outros pelas distancias percorridas, horários diversos, frustração em relação ao curso, desanimo em estudar, visto que "estudar não é tarefa fácil", vários alunos com diversos problemas familiares e sociais, os quais desembocam na escola, dentre outros...
O governo precisa incentivar a educação, principalmente com adequações de qualidade, através de laboratórios de mídia, que sejam funcionais, equipamentos de datashow, disponibilidade de livros, artigos e formas de pesquisa, assim como, estrutura física para as escolas; investir também na efetiva e continua formação dos profissionais da educação.
A valorização dos alunos também é importante, pois quando sentem-se valorizados a motivação e a produção técnica/científica aumenta, assim como, investimentos a nível social em infraestrutura das cidades, melhorias em emprego e renda para que de maneira indireta vislumbre, nas pessoas, a importância do conhecimento, através da valorização da escola e seus profissionais. a melhoria social do salário dos menos favorecidos também é fator de peso.
Gilmara / Meio Ambiente

A respeito do texto sobre evasão, buscamos sempre um verdadeiro culpado, muitas vezes nos punindo, acreditando estar este, no ato de realizarmos nosso trabalho em sala de modo deficitário, ou fora da realidade dos alunos, ou arcaico. Os tempos evoluíram, tecnologicamente, mas nos docentes, somos frutos da educação sem tecnologia e em nenhum momento paramos de sonhar e também de buscar nossos objetivos. A de se pensar que não é praticando aulas mirabolantes, cheias de requintes, como os aulões de cursinho, que nos vamos obter êxito com esta clientela. Também não cabe a nos avaliar ou julgar os verdadeiros motivos da evasão. Não nos cabe explicar o que todos já sabemos. Culpado é o sistema que requer a responsabilidade sobre o professor que segundo este, não cumpre seu papel direito e faz com que o aluno desista do sonho iniciado. Só esta faltando ao sistema pedir para que nos alem de educadores passemos a fazer um papel de assistente social. O que não nos compete... Sabemos qual é o nosso papel como educadores. Gráficos, notas, aprovação em massa, isso quem busca é o sistema. Cumprimos o nosso papel e é o que nos compete
Everson Adelmo Pasquali / Meio Ambiente

Os motivos da evasão são muitos. As medidas por parte da escola, estão sendo tomadas há tempo dentro das suas próprias possibilidades. A escola aberta à comunidade, toma medidas preventivas tanto no aspecto pedagógico quanto no que dizem respeito à interação com os pais dos educandos e professores. exemplo disso são as reuniões em que os pais são convidados a comparecer à escola numa tentativa de sanar os desafios que ora se apresentam.
As políticas públicas, bem aplicadas, com certeza minimizaria tal desafio.
Como sugestão prática: tanto para os cursos técnicos e regulares, proporcionar condições para que participem de estágios supervisionados no último ano do curso, parceria com empresas como a sanepar (meio ambiente), copel(técnico) bem como com as empresas privadas.os educandos devem conhecer o ambiente onde poderão trabalhar futuramente.
Palestras poderão ser promovidas com pessoas envolvidas com o desafio da drogadição, testes vocacionais do primeiro ao terceiro ano do ensino médio, montar equipe multidisciplinares que visitem os familiares daqueles educandos que apresentam maiores dificuldades. projeto de incentivo ao bom aluno proporcionando a ele, bolsa de estudos.festivais de música, dança, a exemplo do que já acontecem na área de esportes.
Apresento aqui algumas sugestões que, unidas a outras intervenções pedagógicas, poderão fazer a diferença.
João Vianei Braga (Filosofia)Meio Ambiente

A escola em dias atuais desenvolve muitas funções, inclusive diversas delas de responsabilidade da família, família esta, que hoje sai para trabalhar e deixa os filhos sozinhos, na creche, com a vizinha, dentre outros; responsabilidades também, que tomam muito tempo, do professor, em sala de aula, como chamar a atenção de alunos que não tem limites, não tem respeito e pior ainda, se dedicam a tudo, fones, celulares e dispersão de diversas maneiras, o tempo todo, e por ultimo, menos importante e mais chato e dispendioso, como os alunos assim consideram, que é participar da proposição do professor. Por outro lado, todos nós profissionais da escola, especialmente professores, temos que ter direcionamento das aulas e conteúdos, de maneira organizada e bem preparada, pois o aluno precisa ter sequencia e ser direcionado pelo profissional ao longo do ano, em cada disciplina, cada qual com suas especificidades. Desta maneira é possível "amenizar" a dispersão dos alunos, é necessário citar que, para o profissional da educação produzir esta aula, precisa de muito tempo para leitura, estudo, aprendizado, disponibilidade de mídias e conhecimentos para utilizá-las, tempo para organizar estas aulas, e o tempo destinado para hora-atividade, disponível pelo estado é mínimo, assim como o salário desmotivador do professor, a falta de recursos a disposição. Por outro lado, muitos problemas socio-econômicos refletem diretamente no trabalho da escola, e como não de competência única da escola, nem sempre é possível manter e ou trazer o aluno de volta para a sala de aula. De maneira específica, vejo que nós profissionais desta escola, nos empenhamos muito, conjuntamente com toda a equipe, para promover ações contínuas e bem direcionadas tanto na busca para reduzir a evasão, quanto no contexto geral da sala de aula, voltado a aprendizagem, onde somos compromissados, dedicados, companheiros e responsáveis, e cito mais, somos carinhos e tentamos constantemente valorizar os alunos, principalmente do horário noturno, onde a evasão é pouco mais acentuada; por outro lado, no horário da manhã, temos evasão mínima, mas a motivação, a falta de interesse e o desempenho dos alunos deveria ser, pelas condições e "facilidades" que os mesmos tem, muito maior enquanto produção de conhecimento, e deveria ser muito menor a falta de limites e de educação.
"Nós profissionais da educação ainda sonhamos com o máximo possível de dedicação dos alunos, voltada ao conhecimento e a aprendizagem".
Gilmara / Biologia – Meio Ambiente

Fazendo uma reflexão sobre o tema em questão, chego a um pensamento, que não sei ao certo, se conseguiremos achar um denominador comum. Mas a evasão está aí, e não podemos fechar os olhos para ela. Está, pelo que noto e vejo no dia a dia, principalmente no período noturno. E quero crer eu que os motivos para ela acontecer, está bem mais externo que interno, e porque digo isso? Para fora dos portões escolares ao ponto de vista de muitos jovens, o lado de fora é muito mais atrativo e pode trazer emoções mais fortes, novas experiências, mais liberdade (não que eu ache que escola prende ou faça outra coisa semelhante), em resumo a rua ou mesmo em casa "as coisas são mais legais". E os professores do noturno da escola, vejo que estão sempre se esforçando para que suas aulas sejam dinâmicas, interessantes, incentivadoras, e ainda com várias atividades externas, onde se procura mostrar a prática de algum assunto visto em sala de aula.
E falando um pouco da nossa escola no aspecto de infraestrutura, ela também faz a sua parte, pois temos uma escola equipada (claro que, com os poucos recursos disponíveis, e ainda faz milagre com esse pouco) possuímos auditório com equipamentos para aulas e palestras, laboratórios de informática, entre outros. Então ela também faz sua parte, para manter a escola atrativa para o aluno.
E mesmo com tudo isso, estamos aqui discutindo o problema de evasão. Então essa luta contra a evasão, não é fácil, será que um dia os estudantes em geral e suas famílias, (sim suas famílias, pois ninguém me tira da cabeça, que muitos dos problemas que enfrentamos dentro da escola, seriam minimizados se as famílias) fizessem sua principal parte no contexto da educação. Pois aquela velha frase ainda vale: "educação vem de berço", nós apenas devíamos transmitir conhecimento. E deixo uma pergunta: "Será que devemos, nós corpo docente, devemos ser treinados, para evitar a evasão escolar?". Daqui a pouco vai ser mais um curso, valendo pontuação para avanço na carreira dos educadores.
Vilmar Marques / Administração

O perfil em geral do aluno do noturno é diferente dos demais períodos. Percebemos que muitos já são "acostumados" a começarem a estudar e abandonar no decorrer do ano, outros já iniciam com planos de frequentarem somente por algum tempo. Muitas vezes já ouvi que estavam estudando só até arranjarem emprego. No caso dos cursos técnicos, muitos iniciam ser ter muita ideia do que seria o curso, e algumas vezes também acham que é muito "puxado" para eles, principalmente para alguns que haviam deixado de estudar ha anos.
N
ão tem como acharmos e sonharmos que a escola noturna terá os mesmos dados e resultados da diurna, visto o abismo entre as realidades pessoais da clientela.
Porem é claro que não devemos nos desmotivar, temos que buscar sim, sempre, maneiras de mostrar ao aluno a importância dos estudos, a grandeza de ter conhecimento. As ações adotadas pela pedagogia acho extremamente válidas e a meu ver é o que está ao nosso alcance, pois chega um ponto em que a escola não consegue mais interferir nas decisões dos alunos que realmente não querem mais estudar.
Carmen Cinthia B Sekitani / Inglês - Informática

Estar atento aos problemas e tentar da resolver da melhor forma possível é ter como objetivo um curso técnico ou ensino médio de qualidade.
Os alunos desistentes normalmente reclamam do cansaço, horário de trabalho inflexível, ou o não acompanhamento das matérias por estarem a muito tempo fora de sala de aula.
Motivos para estarem fora do ambiente escolar sempre existirão tentar então uma junção entre professores alunos e equipe pedagógica a fim de diminuir essas causas pode ser o diferencial.
Prestar atenção aos sinais dados pelos alunos que estão pensando em desistir e talvez mudar essa ideia seria de suma importância, não só tentar buscar os que já desistiram, mas evitar que o façam.
Claro que ter um ambiente equipado, professores com melhores salários e com atualização de conhecimentos, é de suma importância, mas se ficarmos no aguardo disso para ter um menor índice de evasão acabaremos desempregados ou pelo menos tendo de procurar outro colégio para dar aula, pois como vimos a previsão é de que se feche turmas, então temos de nos unir e buscar soluções para ontem, e que possam ser tomadas por nós por enquanto.
Josiane / Informática

A partir da leitura, e os apontamentos realizados pelos profissionais do colégio noto que nós educadores, vivenciamos o investimento de força desprendido pela equipe como um todo.
Foram elencadas várias ferramentas usadas, na tentativa de minimizar este problema de EVASÃO o qual sabemos não existe apenas no Colégio Estadual Professor Francisco Zardo, existe em nível de Brasil.
Sendo profissional do ensino, já presenciei inúmeras vezes a direção orientar e pedir para que as aulas sejam atrativas aos alunos. Entretanto, os professores se desdobram para que este “atrativo” aconteça como auxílio de ferramentas pedagógicas todos os dias. Mesmo não dominando com excelência as mídias disponíveis a educação, o esforço em se ajudar é notório, nas poucas horas de permanência que temos, sempre vejo professores se ajudando, na tentativa real de primar pela qualidade. Todavia, digo que é de nosso interesse que o aluno conclua seus estudos, trabalhamos para eles e por eles. A escola também prima para que prossigam estudando, aprendendo e reproduzindo seus conhecimentos.
No dia-a-dia, estamos cansados de trabalhar para oferecer aos alunos o que falta nas ações de boas políticas publicas, é notório o investimento da direção para que tenhamos um ambiente limpo e organizado, o qual, estimule a produção de conhecimento e a apropriação do mesmo. Refiro-me a estrutura do prédio, sem dúvida a direção busca melhorar o que temos todos os dias, aplicando o fruto do trabalho comunitário de alunos/pais, professores/funcionários e direção/equipe pedagógica na melhoria do ambiente escolar. Todos esses investimentos deveriam ser custeados pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), pois, o abandono e a evasão refletem na escola, uma vez que é organizada a partir do número de alunos efetivamente matriculados e frequentando a escola. Enfim, estamos em busca de minimizar os resultados de evasão e maximizar a qualidade do ensino.
Vagna Ap. S. Munhão / Biologia – Meio Ambiente

Ao ler os comentários percebo que estamos lidando com um fenômeno muito complexo,a evasão, que envolve inúmeras variáveis. Independente de quaisquer causas sociais, muitas delas fora da alçada da escola, temos as causas motivacionais. Creio que é pela motivação que podemos instigar alguém a realizar um trabalho ou um projeto de vida, como é o caso dos alunos dos cursos técnicos. Podemos encontrar duas formas básicas de motivação: a intrínseca e a extrínseca. Na motivação extrínseca, tudo vem de fora do sujeito: dinheiro, reconhecimento e notas escolares. Explicando melhor, o aluno que se pauta nessa motivação depende sempre que lhe sejam dados "empurrões", ou seja, busca um pontinho aqui, outro acolá, enfim é aquele aluno que sempre entrega na última hora, no último momento e na maioria das vezes, quando não entrega no dia, pergunta ao professor: "dá pra dar um trabalhinho para melhorar a nota?"
O aluno com motivação intrínseca sabe que seu sucesso, não depende apenas de nota. Ele sabe que é sua atitude que determinará seu sucesso pessoal, escolar e profissional. Portanto, ele é responsável pelas datas determinadas para entregar seus trabalhos e nunca deixa para estudar um dia antes das avaliações. Peço a gentileza para os colegas professores que perguntem aos seus alunos quantos deles estudam com antecedência para a suas provas. Quantos estudam um dia antes ou pior, no dia da prova na aula de outro professor?
Com certeza esse aluno é motivado apenas extrinsecamente. Ele será aquele futuro profissional que trabalhará apenas por retribuição financeira e não para contribuir para a sociedade com os seus talentos e aptidões. Como professores nós devemos estar atentos ao comportamento de nossos alunos e procurar ser um "facilitador motivacional". As pessoas que são automotivadas encontram um caminho para a superação de suas dificuldades. Encontram forças e tempo para suas obrigações, inclusive escolares. Não podemos em pouco tempo mudar uma pessoa. Podemos ser exemplos dessa motivação intrínseca sendo professores responsáveis, assíduos e comprometidos na arte de ensinar. Independentemente das políticas públicas que tanto afetam a educação e qualidade de ensino e valorização do educador.
Marcos Gomes / Filosofia – Meio Ambiente

A temática da evasão é muito complexa e não se define, por simples fatores. Acredito que podemos melhorar, enquanto resolução interna da escola, o levantamento dos alunos faltosos e as associações como já têm sido feitas, com o Conselho Tutelar, dentre outros. E por parte dos professores, o aviso ao setor pedagógico dos alunos faltosos, a mudança metodológica para tornar as aulas mais significativas aos alunos trabalhadores e o vínculo com as turmas. O olhar diferenciado para este aluno.
Como apresentei acima, o trabalho docente se inicia com o olhar diferenciado do professor para com os alunos, a criação do vínculo para que ocorra a aprendizagem e a revisão das questões metodológicas, para tornar os conteúdos mais significativos aos alunos trabalhadores. Os mesmos gostam de falar de suas vivências, que devem ser, sempre que possível, usada para a contextualização dos conteúdos.
Acredito que o estudo de quem são os alunos trabalhadores ou melhor, os trabalhadores que tornam-se alunos. A questão metodológica, para adequação dos conteúdos que devem ser transpostos para a realizada, com retomada contínua e com acompanhamento de fato processual da aprendizagem, para o aluno se sentir amparação, visualizado pela instituição escolar.
A escola, para o aluno é menos atrativa que a sociedade e o mundo midiático. Na primeira dificuldade, muitos alunos da noite desistem da escola. Sempre pergunto dos alunos faltosos, os incentivo a darem continuidade aos estudos, mas é um trabalho a longo prazo, porque o aluno vem para a escola noturna na busca de uma certificação para manter-se no trabalho. O texto apresentou várias questões legais e sociais que interferem no andamento do trabalho pedagógico. Acredito que devemos continuar a fazer o nosso papel de instituição escolar, mas tendo o olhar diferenciado para o aluno trabalhador, sempre adequando a metodologia, visando rever e aprofundar os conteúdos básico, que perpassam em todas as áreas do conhecimento, a leitura, a escrita, a interpretação e o raciocínio lógico.
Michele P A Santos / Pedagoga

A partir desse Fórum de discussão, consolidou-se um processo de reflexão sobre o problema, no qual os professores puderam expor opiniões e angústias e, a partir disso, tornar a evasão uma questão em que todos devem se envolver no sentido de enfrentá-lo, naquilo que compete à escola.

4. Considerações Finais

A evasão escolar, historicamente, faz parte dos debates e reflexões do dia a dia da educação brasileira e ocupa espaço de relevância no cenário das políticas públicas educacionais.
No estudo desenvolvido nas turmas dos cursos técnicos subsequentes do período noturno, de Administração, Informática e Meio Ambiente do Colégio Estadual Professor Francisco Zardo, apontaram alguns aspectos sociais que foram determinantes da evasão escolar no 1º Semestre de 2012, dentre eles: mudanças no horário de trabalho inviabilizando a frequência nas três primeiras aulas, problemas de ordem familiar, inadequação da expectativa do aluno em relação à proposta do curso, mudança de endereço e de município, dificultando o acesso à escola e chegada no horário, acesso ao ensino superior, entre outros.
Ainda que a questão econômica tenha um peso forte para que o aluno desista do curso, ela não é o único motivo da evasão. Há uma série de medidas a serem tomadas pela escola para que os alunos não abandonem os cursos antes de concluí-los. Preparar materiais didáticos adequados é uma delas, afinal, o aluno fala que não tem base para acompanhar o curso e isso é um problema dele e da escola. E para isso, os professores precisam estar preparados para lidar com esse público. A escola precisa investir em laboratórios e em equipamentos para que os cursos tenham um forte viés prático, já que uma das reclamações dos alunos é que os cursos são muito teóricos. Além disso, muitos alunos já trabalham na área do curso e trazem conhecimentos que precisam ser reconhecidos e considerados.
Sendo um problema social, que fortemente interfere nas ações pedagógicas dos cursos técnicos, não se pode deixar de lado as reflexões e as definições coletivas para enfrentar o problema. Afinal, a educação profissional de qualidade é fundamental, para que os alunos de classes sociais marginalizadas historicamente, possam se inserir no setor produtivo e societário, contribuindo para minimizar as drásticas diferenças socioeconômicas brasileiras e caminhar na direção de um desenvolvimento mais humano e igualitário.
A escola, enquanto instituição formadora tem a responsabilidade de atuar na transformação e na busca do desenvolvimento dos sujeitos que dela fazem parte, assegurando a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico, fazendo com que todos se sintam corresponsáveis na concretização do que foi discutido e elaborado. Mas não pode agir sozinha, ao Governo por meio da mantenedora (Secretaria de Estado da Educação do Paraná) compete garantir as condições básicas para que a escola possa ser vista com qualidade, destinando os recursos financeiros necessários à infraestrutura, bem como, promover a democratização no âmbito escolar, oportunizando a autonomia da gestão escolar e investindo na formação dos profissionais.
Dessa forma, a organização do trabalho pedagógico estará fundamentada em princípios democráticos e comprometida com uma escola que contemple as reais necessidades da sociedade. Ciente das dificuldades na busca pelo êxito do aluno na aprendizagem, somente com o envolvimento dos que fazem parte do cotidiano da escola é que se chegará ao sucesso escolar.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARROYO, M. G. Educação e exclusão da cidadania. In BUFFA, E. Educação e cidadania: quem educa o cidadão. 4 ed. São Paulo: Cortez, 1993.
BONETI, L. W. (coord.). Educação, exclusão e cidadania. Ijuí: Unijuí, 2003.
BRASIL / MEC / SETEC. Educação profissional técnica de nível médio integrado ao ensino médio. Documento Base. Brasília / DF, 2007.
CALDAS, E.de L. Combatendo a evasão escolar. http://www2.fpa.org.br/>. Acesso em: 08/05/2012.
CUNHA, L. A. O Ensino profissional na irradiação do industrialismo. São Paulo: Editora Unesp; Brasília: Flacso, 2005.
DIGIÁCOMO, M. J. Evasão escolar: não basta comunicar e as mãos lavar. Disponível em: . Acesso em: 15/05/2012.
FRIGOTTO, G. CIAVATTA, M.. RAMOS M. (org.). Ensino médio integrado: Concepções e contradições. S. Paulo: Cortez, 2005.
JOHANN, C. C. Evasão escolar no Instituto Federal Sul-rio-grandense: um estudo de caso no Campus Passo Fundo. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de Passo Fundo, 2012.
PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia, Editora Casa do Psicólogo: 1987.
QUEIROZ, L. D. Um estudo sobre a evasão escolar: para se pensar na inclusão escola. Disponível em: . Acesso em: 14/05/2012.

SOUZA, P. R. A revolução gerenciada: educação no Brasil (1995/2002). São Paulo: Prentice Hall, 2005.