terça-feira, 22 de maio de 2012

REUNIÃO DE PAIS E RESPONSÁVEIS NA ESCOLA: Momento de interação, diálogo e busca de soluções


Alexandro Muhlstedt

Introdução

A família deve participar das reuniões escolares e sempre que possível estar presente na instituição para trocar ideias com a equipe escolar, mesmo não sendo chamada, acompanhando de perto o desenvolvimento da criança e do adolescente. Dessa maneira, também criará vínculos e perceberá que a escola precisa da colaboração da família para que o trabalho tenha resultados positivos. Resultados estes relacionados ao desenvolvimento e aprendizagem do aluno.
No Colégio Estadual Professor Francisco Zardo, de Curitiba, há quatro momentos anuais, previsto no Calendário, de reuniões na escola com as famílias dos alunos: fevereiro, maio, agosto e outubro. São semanas em que acontecem as reuniões de pais e responsáveis, não como mero evento protocolar para dar algumas satisfações aos pais, mas para efetivar o diálogo com as famílias e reavivar o papel social da escola.
O objetivo principal dessas reuniões, então, é compartilhar interesses e missões, tendo em vista os benefícios para o aluno, pois a relação entre a escola e os pais é entendida como uma relação de parceria. Nesses encontros os pais recebem orientações, esclarecem dúvidas e, assim, estabelecem uma relação de confiança e cooperação com os profissionais da escola. Também são informados sobre as ações da escola, bem como respondem a pesquisas e questionários sobre assuntos educacionais.
Do ponto de vista social, estar presente nas reuniões também traz benefícios aos pais e, consequentemente, ao aluno, pois a troca de vivências é grande, sendo que acontece o esclarecimento de dúvidas e o sentimento de participação se eleva. Afinal, é importante que os pais dos alunos se conheçam e troquem experiências. Nessa questão, um problema apontado pelos pais foi o caso de comportamentos indisciplinares dos alunos. Desordens, ofensas verbais, atitudes de grosseria, enfim, aquilo que se caracteriza de forma geral, como “falta de respeito” pode ser denominado indisciplina.
Este tem sido um dos problemas mais complexos vivenciados pela escola e tem se caracterizado como uma fonte profunda de estresse nas relações interpessoais, especificamente ao associar-se a situações de conflito no interior da sala de aula. Nota-se que a indisciplina gera, ainda, dificuldades para o desenvolvimento da aprendizagem, sem contar os prejuízos na formação moral e ética dos alunos.

A Pesquisa

Tendo em vista essa problemática, e partindo do pressuposto que a resolução dos casos de indisciplina devem priorizar ações partilhadas entre escola e família, no ano de 2011, nas reuniões de pais nos meses de maio e agosto, foi feito um levantamento minucioso junto aos pais sobre suas opiniões e percepções sobre essa problemática, por meio de um questionário. Foram questões abertas nas quais os pais poderiam expressar suas opiniões e indagações sobre o comportamento geral dos alunos. Os dados foram tabulados e organizados, e apresentaram como principais respostas o seguinte:
A primeira pergunta dizia:
PERGUNTA 1
O que você considera mais importante para resolver os problemas de indisciplina, mau comportamento e falta de respeito na turma de seu filho?
RESPOSTAS 1
(Foram inúmeras as respostas apresentadas pelos pais.
Num trabalho minucioso a Equipe Pedagógica sintetizou o que mais apareceu).
Avisar os pais por telefone, convocar à escola e cobrar que acompanhem de perto seu filho.
Chamar a Polícia no final das aulas para não haver brigas.
Cobrar que a família faça o seu papel: a educação básica vem de casa.
Cortar o horário do recreio e dar aulas mais puxadas, para não ter tempo de conversar.
Oferecer serviços na escola, como limpar as mesas, cadeiras e o pátio.
Proporcionar palestras aos pais e exigir que os pais participem de uma aula na sala do filho.

A segunda pergunta feita foi:

PERGUNTA 2
Que ações poderiam ser desenvolvidas aos alunos que continuam a causar problemas (que não cumprem as regras da escola, nem as obrigações de alunos)?
RESPOSTAS 2
(Foram inúmeras as respostas apresentadas pelos pais.
Num trabalho minucioso a Equipe Pedagógica sintetizou o que mais apareceu).
Acompanhar de perto esses alunos: conversar e incentivar.
Dar advertência e se não adiantar trocar de colégio.
Encaminhar o aluno para um acompanhamento psicológico.
Estabelecer normas mais rígidas, assinada pelos pais, com obrigações a serem feitas.
Ter uma sala de aula exclusiva para esse tipo de aluno para na prejudicar os alunos de bom comportamento.
Tirar fora da sala de aula e registrar a falta.

Esse conjunto de respostas para as duas questões, tabuladas nos meses de setembro a novembro, proporcionou vários questionamentos para a Equipe Pedagógica e Professores, o que contribuiu para implementar ações no cotidiano da escola com intuito de tomar atitudes que levassem em consideração os aspectos legais e morais, e também as opiniões manifestas dos pais.
Assim, para o ano letivo de 2012 decidiu-se retornar a pergunta aos pais, porém agora em questões objetivas, com o objetivo de analisar o percentual de escolha de respostas. Com isso, a Equipe entendia que poderia priorizar determinadas ações para o enfrentamento do problema de atos de indisciplina. Para isso, nas reuniões que ocorreram entre 07 a 12 de maio de 2012, foi aplicado aos pais um questionário sobre a questão de comportamento dos alunos. Foram aplicadas as duas questões novamente, com as seis alternativas para cada uma delas. O questionário foi respondido por 487 pais.

Os Resultados

Segue o resultado das respostas dos pais:

(Gráfico 1: Ações para resolver atos de indisciplina)

Percebe-se, então, que um pouco mais da metade dos pais (51%) considera que ser avisado sobre os problemas disciplinares de seus filhos em sala de aula colabora para amenizar ou eliminar os problemas disciplinares. Interessante que 32% dos pais considera que a escola deve cobrar da família que esta cumpra o seu papel de educar em casa. Castigo, servições escolares, palestra e chamamento da Polícia aparece em percentual menor e isso justamente demonstra uma mudança de pensamento em relação aos o que fazer quando as regras não são cumpridas. Os resultados sugerem que a maioria dos pais dão importância a formas de diálogo, bem como um posicionamento mais evidenciado da escola com relação às regras ali existentes.
Nota-se que, ao somar os dois resultados, 83% dos pais considera que exigindo que as famílias acompanhem de perto seus filhos, haveria uma maior conscientização de seu papel.

Para a pergunta número 2, o percentual de respostas foi:

(Gráfico 2: Ações para aluno reincidentes em atos de indisciplina)

Nota-se que 36% dos pais considera que é preciso haver regras rígidas na escola para fazer cumprir os ensinamentos de boa educação e respeito ao próximo, havendo, no entanto, a necessidade da escola organizar espaços para atendimento específico de cada caso (18%) e ampliar os canais de diálogo e tomada de consciência sobre os problemas causados (16%). Atitudes antes tomadas pela instituição de ensino (encaminhar a tratamento psicológico, advertência e retirada da sala) é percebido como eficiente por 29% dos pais. Assim, infere-se que fazer cumprir as normas definidas, dialogando e exigindo uma postura mais adequada dos alunos, parece ser um caminho mais apropriado, que foi apontado pelos pais nessa pesquisa.

Diante dos resultados, a Equipe Pedagógica concluiu que uma alternativa viável, e que já vinha acontecendo, é realizar o diálogo sério, “olho no olho”, dando espaço para que os alunos também sejam ouvidos e levados a perceber a necessidade de serem responsáveis. É questão de se estabelecer limites, negociar a melhor maneira de alcançar os objetivos a que se propõem, fazer perceber-se como integrantes de um grupo organizado, onde cada um tem seu espaço, seus direitos e seus deveres, e também tem a responsabilidade de respeitar os limites desse espaço para não prejudicar o espaço do outro. E nesse cotidiano, o papel da família tem de ser evidenciado e a participação desta deve ser buscada a fim de atingir os objetivos da escola.
Entende-se que a reunião de pais deve ser focalizada na troca de informações para que a partir desse ponto possa elaborar de forma conjunta uma solução, e que não se resuma somente em períodos de fechamento de notas, mas no decorrer de todo o ano. Por isso que a aplicação de questionários sobre comportamento vai nortear, de certa forma, a tomada de decisões para melhorar os níveis comportamentais dos alunos. A partir desses questionários aos pais faz-se levantamentos precisos sobre as opiniões e posições dos pais ante as questões que envolvem a escola, a educação e os processos de ensino aprendizagem. Afinal, a educação deve ser instituída com a participação efetiva dos pais na escola. E os pais, de algum modo, precisam ser ouvidos. Os questionários, então, são ferramentas que nos ajudam a ouvir as famílias, compreender os anseios e tomar decisões para melhoria da escola.

Considerações Finais

As reuniões já fazem parte da realidade do Colégio Zardo como algo harmonioso e um centro de soluções para vida escolar dos alunos. Sabe-se que a educação perpassa tanto o ambiente escolar quanto o familiar e a interação entre ambos é muito importante para a efetivação do processo ensino-aprendizagem. Os pais que participam das reuniões na escola conhecem e acompanham melhor o trabalho da escola e, além disso, supervisionam os estudos, o cumprimento de tarefas e também os progressos e dificuldades de seus filhos. Essa participação na vida escolar possibilita uma revalorização do saber e os filhos compreendem que estudar é importante. Tendo mais contato com o trabalho que a escola desenvolve, os pais compreendem melhor as dificuldades e os empecilhos que existem no processo de ensinar e aprender, tornando-se mais aptos a colaborar.
E há um resultado positivo, que é indireto, que, quando demonstram confiar na escola, os pais ajudam a reconstruir a autoridade do professor, hoje um item fundamental para que a aprendizagem possa ocorrer. Pois quando os alunos não confiam e/ou não respeitam os docentes, não aprendem.
No Colégio Zardo, incentiva a participação dos pais dos alunos sabendo da importância destes para o desempenho escolar, sem contar que a comunidade tem um papel importante na construção da autonomia da escola, porque essa ocorrerá na medida em que a escola esteja a serviço dos interesses autênticos da população.
Os pais são capazes de apontar problemas e dar sugestões para a resolução dos mesmos. No Colégio Zardo, compreende-se que a participação dos pais não deve ser encarada como sendo debilidade, último recurso quando as coisas não andam bem (mau comportamento ou notas baixas), ou como necessária apenas nos eventos festivos promovidos pela escola. O aluno cuja família participa de forma mais direta no cotidiano escolar, em diferentes momentos, apresenta um desempenho superior em relação aos alunos cujos pais estão ausentes do seu processo educacional.

Por fim, entendendo que a interação é uma possibilidade de enriquecimento mútuo e de ampliação do espaço democrático na escola, é que se desenvolvem processos para que os pais dos alunos que estudam no Colégio Zardo conheçam como essa escola funciona, opinem e sugiram ações. Esse diálogo, espera-se, amplie-se nas casas, pois, ao conversarem com o filho sobre o que acontece na escola, os pais também cobram dele comportamento mais adequado, ajudam a fazer o dever de casa, falam para não faltar à escola, tirar boas notas e ter hábitos de leitura. E assim, os pais estarão contribuindo para que este obtenha melhores notas e, mais que isso, motiva a frequência deste às aulas, contribui para que haja um espaço menos violento e aumenta a postura de respeito às pessoas e ao patrimônio escolar.