Alexandro Muhlstedt
Introdução
A família deve
participar das reuniões escolares e sempre que possível estar
presente na instituição para trocar ideias com a equipe escolar,
mesmo não sendo chamada, acompanhando de perto o desenvolvimento da
criança e do adolescente. Dessa maneira, também criará vínculos e
perceberá que a escola precisa da colaboração da família para que
o trabalho tenha resultados positivos. Resultados estes relacionados
ao desenvolvimento e aprendizagem do aluno.
No Colégio Estadual
Professor Francisco Zardo, de Curitiba, há quatro momentos anuais,
previsto no Calendário, de reuniões na escola com as famílias dos
alunos: fevereiro, maio, agosto e outubro. São semanas em que
acontecem as reuniões de pais e responsáveis, não como mero evento
protocolar para dar algumas satisfações aos pais, mas para efetivar
o diálogo com as famílias e reavivar o papel social da escola.
O objetivo principal
dessas reuniões, então, é compartilhar interesses e missões,
tendo em vista os benefícios para o aluno, pois a relação entre a
escola e os pais é entendida como uma relação de parceria. Nesses
encontros os pais recebem orientações, esclarecem dúvidas e,
assim, estabelecem uma relação de confiança e cooperação com os
profissionais da escola. Também são informados sobre as ações da
escola, bem como respondem a pesquisas e questionários sobre
assuntos educacionais.
Do ponto de vista social,
estar presente nas reuniões também traz benefícios aos pais e,
consequentemente, ao aluno, pois a troca de vivências é grande,
sendo que acontece o esclarecimento de dúvidas e o sentimento de
participação se eleva. Afinal, é importante que os pais dos alunos
se conheçam e troquem experiências. Nessa questão, um problema
apontado pelos pais foi o caso de comportamentos indisciplinares dos
alunos. Desordens, ofensas verbais, atitudes de grosseria, enfim,
aquilo que se caracteriza de forma geral, como “falta de respeito”
pode ser denominado indisciplina.
Este
tem sido um
dos problemas mais complexos vivenciados pela escola e
tem se caracterizado como uma
fonte
profunda de estresse nas relações interpessoais, especificamente ao
associar-se a situações de conflito no interior da sala de aula.
Nota-se
que a
indisciplina gera, ainda, dificuldades para o desenvolvimento da
aprendizagem, sem
contar os prejuízos na formação moral e ética dos alunos.
A
Pesquisa
Tendo
em vista essa problemática, e partindo do pressuposto que a
resolução dos casos de indisciplina devem priorizar ações
partilhadas entre escola e família, no ano de 2011, nas reuniões de
pais nos meses de maio e agosto, foi feito um levantamento minucioso
junto aos pais sobre suas opiniões e percepções sobre essa
problemática, por meio de um questionário. Foram questões abertas
nas quais os pais poderiam expressar suas opiniões e indagações
sobre o comportamento geral dos alunos. Os dados foram tabulados e
organizados, e apresentaram como principais respostas o seguinte:
A primeira pergunta
dizia:
PERGUNTA
1
|
O
que você considera mais importante para resolver os problemas de
indisciplina, mau comportamento e falta de respeito na turma de
seu filho?
|
RESPOSTAS
1
(Foram
inúmeras as respostas apresentadas pelos pais.
Num
trabalho minucioso a Equipe Pedagógica sintetizou o que mais
apareceu).
|
Avisar
os pais por telefone, convocar à
escola e cobrar que acompanhem de perto seu filho.
Chamar
a Polícia
no final das aulas para não haver brigas.
Cobrar
que a família
faça o seu papel: a educação básica vem de casa.
Cortar
o horário
do recreio e dar aulas mais puxadas, para não ter tempo de
conversar.
Oferecer
serviços
na escola, como limpar as mesas, cadeiras e o pátio.
Proporcionar
palestras aos pais e exigir que os pais participem de uma
aula na sala do filho.
|
A
segunda pergunta feita foi:
PERGUNTA
2
|
Que
ações
poderiam ser desenvolvidas aos alunos que continuam a causar
problemas (que não cumprem as regras da escola, nem as obrigações
de alunos)?
|
RESPOSTAS
2
(Foram
inúmeras as respostas apresentadas pelos pais.
Num
trabalho minucioso a Equipe Pedagógica sintetizou o que mais
apareceu).
|
Acompanhar
de perto esses alunos: conversar e incentivar.
Dar
advertência
e se não adiantar trocar de colégio.
Encaminhar
o aluno para um acompanhamento psicológico.
Estabelecer
normas mais rígidas,
assinada pelos pais, com obrigações a serem feitas.
Ter
uma sala de aula exclusiva para esse tipo de aluno para na
prejudicar
os alunos de bom comportamento.
Tirar
fora da sala de aula e registrar a falta.
|
Esse
conjunto de respostas para
as duas questões, tabuladas nos meses de setembro a novembro,
proporcionou
vários questionamentos para a Equipe Pedagógica e Professores, o
que contribuiu para implementar ações no cotidiano da escola com
intuito de tomar atitudes que levassem em consideração os aspectos
legais e morais, e também as opiniões manifestas dos pais.
Assim,
para o ano letivo de 2012 decidiu-se retornar a pergunta aos pais,
porém agora em questões objetivas, com o objetivo de analisar o
percentual de escolha de respostas. Com isso, a Equipe entendia que
poderia priorizar determinadas ações para o enfrentamento do
problema de atos de indisciplina. Para isso, nas reuniões
que ocorreram entre 07 a 12 de maio de
2012, foi aplicado aos pais um
questionário sobre a questão de comportamento dos alunos. Foram
aplicadas as duas
questões novamente,
com as seis
alternativas para cada
uma delas. O questionário foi
respondido
por 487 pais.
Os Resultados
Segue o resultado das
respostas dos pais:
(Gráfico
1: Ações para resolver atos de indisciplina)
Percebe-se,
então, que um pouco mais da
metade dos pais (51%)
considera que ser avisado
sobre os problemas disciplinares de seus filhos em sala de aula
colabora para amenizar ou
eliminar os problemas disciplinares. Interessante que 32% dos pais
considera que a escola deve cobrar
da família que esta cumpra o
seu papel de educar em casa. Castigo,
servições escolares, palestra e chamamento da Polícia aparece em
percentual menor e isso justamente demonstra uma mudança de
pensamento em relação aos o que fazer quando as regras não são
cumpridas. Os resultados sugerem que a maioria dos pais dão
importância a formas de diálogo, bem como um posicionamento mais
evidenciado da escola com relação às regras ali existentes.
Nota-se
que, ao somar os dois resultados, 83% dos pais considera que exigindo
que as famílias acompanhem de perto seus filhos, haveria uma maior
conscientização de seu papel.
Para
a pergunta número 2, o percentual de respostas foi:
(Gráfico 2: Ações
para aluno reincidentes em atos de indisciplina)
Nota-se que 36% dos pais
considera que é preciso haver regras rígidas na escola para fazer
cumprir os ensinamentos de boa educação e respeito ao próximo,
havendo, no entanto, a necessidade da escola organizar espaços para
atendimento específico de cada caso (18%) e ampliar os canais de
diálogo e tomada de consciência sobre os problemas causados (16%).
Atitudes antes tomadas pela instituição de ensino (encaminhar a
tratamento psicológico, advertência e retirada da sala) é
percebido como eficiente por 29% dos pais. Assim, infere-se que fazer
cumprir as normas definidas, dialogando e exigindo uma postura mais
adequada dos alunos, parece ser um caminho mais apropriado, que foi
apontado pelos pais nessa pesquisa.
Diante dos resultados, a
Equipe Pedagógica concluiu que uma alternativa viável, e que já
vinha acontecendo, é realizar o diálogo sério, “olho no olho”,
dando espaço para que os alunos também sejam ouvidos e levados a
perceber a necessidade de serem responsáveis. É questão de se
estabelecer limites, negociar a melhor maneira de alcançar os
objetivos a que se propõem, fazer perceber-se como integrantes de um
grupo organizado, onde cada um tem seu espaço, seus direitos e seus
deveres, e também tem a responsabilidade de respeitar os limites
desse espaço para não prejudicar o espaço do outro. E nesse
cotidiano, o papel da família tem de ser evidenciado e a
participação desta deve ser buscada a fim de atingir os objetivos
da escola.
Entende-se que a reunião
de pais deve ser focalizada na troca de informações para que a
partir desse ponto possa elaborar de forma conjunta uma solução, e
que não se resuma somente em períodos de fechamento de notas, mas
no decorrer de todo o ano. Por isso que a aplicação de
questionários sobre comportamento vai nortear, de certa forma, a
tomada de decisões para melhorar os níveis comportamentais dos
alunos. A partir desses questionários aos pais faz-se levantamentos
precisos sobre as opiniões e posições dos pais ante as questões
que envolvem a escola, a educação e os processos de ensino
aprendizagem. Afinal, a educação deve ser instituída com a
participação efetiva dos pais na escola. E os pais, de algum modo,
precisam ser ouvidos. Os questionários, então, são ferramentas que
nos ajudam a ouvir as famílias, compreender os anseios e tomar
decisões para melhoria da escola.
Considerações Finais
As reuniões já fazem
parte da realidade do Colégio Zardo como algo harmonioso e um centro
de soluções para vida escolar dos alunos. Sabe-se que a educação
perpassa tanto o ambiente escolar quanto o familiar e a interação
entre ambos é muito importante para a efetivação do processo
ensino-aprendizagem. Os pais que participam das reuniões na escola
conhecem e acompanham melhor o trabalho da escola e, além disso,
supervisionam os estudos, o cumprimento de tarefas e também os
progressos e dificuldades de seus filhos. Essa participação na vida
escolar possibilita uma revalorização do saber e os filhos
compreendem que estudar é importante. Tendo mais contato com o
trabalho que a escola desenvolve, os pais compreendem melhor as
dificuldades e os empecilhos que existem no processo de ensinar e
aprender, tornando-se mais aptos a colaborar.
E há um resultado
positivo, que é indireto, que, quando demonstram confiar na escola,
os pais ajudam a reconstruir a autoridade do professor, hoje um item
fundamental para que a aprendizagem possa ocorrer. Pois quando os
alunos não confiam e/ou não respeitam os docentes, não aprendem.
No Colégio Zardo,
incentiva a participação dos pais dos alunos sabendo da importância
destes para o desempenho escolar, sem contar que a comunidade tem um
papel importante na construção da autonomia da escola, porque essa
ocorrerá na medida em que a escola esteja a serviço dos interesses
autênticos da população.
Os pais são capazes de
apontar problemas e dar sugestões para a resolução dos mesmos. No
Colégio Zardo, compreende-se que a participação dos pais não deve
ser encarada como sendo debilidade, último recurso quando as coisas
não andam bem (mau comportamento ou notas baixas), ou como
necessária apenas nos eventos festivos promovidos pela escola. O
aluno cuja família participa de forma mais direta no cotidiano
escolar, em diferentes momentos, apresenta um desempenho superior em
relação aos alunos cujos pais estão ausentes do seu processo
educacional.
Por
fim, entendendo que a interação
é uma possibilidade de enriquecimento mútuo e de ampliação do
espaço democrático na escola, é
que se desenvolvem processos para que os pais dos alunos que estudam
no Colégio Zardo conheçam como essa escola funciona, opinem e
sugiram ações. Esse diálogo, espera-se, amplie-se nas casas, pois,
ao conversarem com o
filho sobre o que acontece na escola, os
pais também cobram
dele comportamento
mais adequado,
ajudam a fazer o dever de casa, falam para não faltar à escola,
tirar boas notas e ter hábitos de leitura. E
assim, os pais
estarão contribuindo para que
este obtenha melhores notas e, mais que isso, motiva a frequência
deste às aulas, contribui para que haja um espaço menos violento e
aumenta a postura de
respeito às pessoas e ao patrimônio escolar.
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