Alexandro
Muhlstedt
Colégio
Estadual do Paraná
Resumo
O
presente trabalho trata-se de um relato de experiência das ações
desenvolvidas por pedagogos, na hora atividade, junto aos professores
das disciplinas de Biologia, Ciências e Geografia, do Colégio
Estadual do Paraná, em Curitiba. Parte-se do princípio da
necessidade de garantir, semanalmente, tempo para estudos, reflexões
e discussões acerca de questões que envolvem as disciplinas
mencionadas, de modo coletivo, com o acompanhamento e mediação do
pedagogo escolar. Para isso, utiliza-se de metodologia ativa, na qual
os pedagogos apresentam pautas que são discutidas pelo grupo de
professores e as decisões são assentadas em atas e socializadas via
endereço eletrônico. Os temas de estudos são definidos a partir
daquilo que emerge no grupo, como: Avaliação, Recuperação de
Estudos, Plano de Trabalho Docente, Metodologias de Ensino,
Disciplina, Currículo Escolar, Conteúdos Programáticos, Projeto
Político Pedagógico, Regimento Escolar, etc. Como resultado, tem-se
observado o desenvolvimento da profissionalidade do professor, bem
como maior interação entre os pares naquilo que concerne a unidade
de ação pedagógica em sala de aula. Ainda ressalta-se o vínculo
positivo e o trabalho coerente entre pedagogos e professores dessas
áreas, fortalecendo as identidades das disciplinas, o trabalho ético
dos docentes e a prática reflexiva. Em torno disso, tem-se como
principais autores CONTRERAS (2012), NÓVOA (1992) e ZEICHNER (1993).
Palavras-chave:
Hora Atividade; Formação Continuada; Trabalho Docente; Ensino;
Atuação do Pedagogo.
INTRODUÇÃO
Na
escola pública estadual do Paraná tem-se a opção por um currículo
disciplinar. Assim, os professores do tradicional Colégio Estadual
do Paraná,
localizado em Curitiba, desenvolvem seu trabalho pedagógico tendo
como subsídios principais o Projeto Político Pedagógico, a
Proposta Pedagógica Curricular e o Regimento Escolar. Esses
documentos são a expressão das opções e o retrato das vivências
e necessidades do Colégio.
As
demandas impostas ou assumidas pelos profissionais da escola são
muitas – formar o cidadão crítico, possibilitar a emancipação
humana, dar conta de questões sociais, econômicas e culturais –
as quais, muitas vezes, extrapolam a dimensão curricular. Nesse
sentido, a escola deve incentivar a prática pedagógica fundamentada
em diferentes metodologias, valorizando concepções de ensino, de
aprendizagem (internalização) e de avaliação que permitam aos
professores e estudantes conscientizarem-se da necessidade de “uma
transformação emancipadora. É desse modo que uma
contraconsciência, estrategicamente concebida como alternativa
necessária à internalização dominada colonialmente, poderia
realizar sua grandiosa missão educativa” (MÈSZÁROS, 2007, p.
212).
Para
isso, compreende-se o professor como aquele que estuda e que, em meio
a tantas demandas, busca aprimorar-se, formar-se e capacitar-se,
portanto é o sujeito que tem o domínio do saber e deve mediar este
saber - oferecê-lo ao seu aluno de forma organizada e sistematizada.
É aquele que ensina. Com certeza não ensina qualquer conteúdo
apenas como via de desenvolver capacidades mentais como apregoavam os
Parâmetros Curriculares Nacionais.
É aquele que seleciona o recorte do conteúdo, o qual não é
aleatório e sim planejado, movido por uma intenção social,
política, histórica e cultural.
O
currículo é, então, configurador da prática, produto de ampla
discussão entre os sujeitos da educação, fundamentado nas teorias
críticas e com organização disciplinar. E é em razão
dele que se organizam as atividades que envolvem o trabalho coletivo
de pedagogos e professores da escola. Esse trabalho é realizado no
momento da hora atividade do professor, no qual, toda quarta-feira,
ocorre o encontro de pedagogo e professores para discussões e
reflexões acerca do trabalho pedagógico escolar.
1. A hora atividade do
professor na Legislação
A
hora atividade é uma conquista dos professores que desde a década
de 1980 era
pauta
de reivindicação junto ao governo do estado. Pelo decreto no 3749
ficou estabelecido o percentual de 10% (dez por cento) para hora
atividade do professor. Pela aprovação da Lei 13.087/2002 o
percentual da hora atividade foi aumentado para 20% (vinte por
cento), ocorrendo sua implantação em 2003. A ampliação do
percentual da hora atividade sempre foi uma antiga reivindicação
dos professores e desde a assinatura da Lei do Piso Salarial
Profissional Nacional (PSPN) – Lei 11.738 em 2008 pelo presidente
Luíz Inácio Lula da Silva os professores lutam pela instituição
dos 33% (trinta e três por cento) de hora atividade. A referida lei
determina que 2/3 (dois terços) da carga horária do professor deve
ser destinada ao trabalho em sala de aula com os alunos e que 1/3 (um
terço) será utilizada para atividades de planejamento, avaliação
e estudos na hora atividade.
A
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96)
prevê que seja reservado aos professores tempo voltado aos estudos,
planejamento e avaliação incluído na carga de trabalho. No artigo
67 , em seu inciso V, assegura aos professores “período
reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga
de trabalho”.
Embora a Lei não traga
a expressão hora-atividade, a mesma determina que os professores
tenham em sua
carga
horária semanal um percentual dedicado aos estudos, ao planejamento
e à avaliação.
No
Paraná, a Assembleia Legislativa sanciona a Lei Complementar nº
103, em 15 de março de 2004. Ao tratar do regime de trabalho dos
professores, em seu Capítulo IX, explicita que o regime de trabalho
do professor poderá ser de 20 (vinte) ou 40 (quarenta) horas
semanais, sendo
que a hora-aula
é de até cinquenta minutos, assegurado ao aluno o mínimo de
oitocentas horas anuais, nos termos da lei.
Sobre
a hora atividade, a Lei Complementar 155, de 08/05/2013 altera o
artigo 31, garantindo 2/3 (dois terços) da carga horária para o
desempenho das atividades de interação com os educandos. Ainda
explicita que a hora-atividade deverá ser cumprida na escola,
podendo ser cumprida fora da escola, excepcionalmente, em atividades
autorizadas pela Secretaria de Estado da Educação, desenvolvidas no
interesse da educação pública.
Assim, se o professor
tiver 14 aulas de regência de classe, serão atribuídas a ele mais
06 (seis) aulas para a hora atividade, totalizando 20 aulas semanais.
No Colégio Estadual do
Paraná convencionou-se que semanalmente uma hora aula será de
trabalho coletivo do pedagogo com os professores, chamada então de
hora atividade concentrada.
Afinal, a hora atividade
segundo aspectos legais (Lei nº 13.807 e Instrução nº 02/2004 –
SUED) deve configurar-se em duas dimensões,
a primeira
como trabalho individual do professor, através da realização do
planejamento das aulas e da elaboração e correção das avaliações
dos alunos; e a segunda como trabalho coletivo através da leitura,
estudo e discussões sobre o processo pedagógico. Esta segunda
dimensão, a da leitura e do estudo coletivo, deve ser mediada pelo
pedagogo escolar, sendo este o profissional
responsável
pela organização da hora atividade.
2. A composição da
hora atividade no Colégio Estadual do Paraná
A hora atividade é o
tempo reservado aos professores em exercício de docência voltado
para estudos e reflexões acerca da prática, bem como ao
planejamento das atividades docentes.
No
Colégio Estadual do Paraná, desde 2011, ocorre a intervenção
pedagógica de pedagogos nesse momento junto aos professores. Este
relato se propõe a mostrar a prática de pedagogos que vem sendo
vivenciada no Colégio, em 2014, junto aos professores de Biologia,
Ciências e Geografia.
Este momento ocorre nas quartas-feiras nos turnos da manhã e da
tarde e dele participam professores que atuam Ensino Fundamental,
Médio e Profissional, dos turnos da manhã, tarde e noite.
Nesta prática,
especificamente, concretiza-se a garantia legal do tempo para estudos
assegurando a efetividade e a melhoria da prática pedagógica. A
equipe pedagógica ocupa papel central tanto na organização dos
encaminhamentos a serem realizados, quanto propriamente na mediação
de estudos, reflexões e discussões junto aos professores
A hora atividade é o
espaço de formação continuada que se constitui em momento de
estudos e leituras que promovem a formação do professor numa
perspectiva integral, omnilateral
associando o saber teórico aos problemas encontrados pelo professor
em sua prática diária no processo do ensino aprendizagem. Sendo
entendida como espaço de formação continuada, também é destinada
para tarefas diárias do professor, como planejamento de atividades,
correção de avaliações, preenchimento de Livros Registros de
Classe, entre outras.
A conquista da
hora-atividade é resultado dos
movimentos
dos professores dos anos 1980, nos quais as condições do trabalho
docente
foram exaustivamente denunciadas, gerando um movimento em defesa de
um trabalho que oportunizasse a reflexão e a formação continuada
em serviço.
Ainda é uma luta dos
educadores a expansão progressiva do percentual até que se atinja
50% (cinquenta por cento) e a ideia que se defende nesta pesquisa é
a de que este tempo seja reservado para atividades práticas
inerentes a função do professor, mas que também seja espaço de
estudos, leituras e discussões sobre o processo pedagógico entre o
grupo dos professores e equipe pedagógica na busca de soluções aos
problemas encontrados no ensino aprendizagem. E é tal premissa que
conduz a prática vivenciada no Colégio Estadual do Paraná.
3. O aspecto da
formação continuada dos professores
Embora os professores
reconheçam a importância de estudos durante a hora atividade, via
de regra restringem-se a realização das atividades práticas,
imediatas, inerentes a atividade docente. Muitos ainda não conseguem
vislumbrar a hora atividade como possibilidade para o fortalecimento
de sua formação, não querendo perder esse espaço tão importante
como meio de suavizar o acúmulo de funções que lhe são impostas.
É contra essa prática que os pedagogos do Colégio Estadual do
Paraná organizam sua ação pedagógica para atender os professores,
semanalmente, numa proposta de estudos e reflexões.
O processo de formação
continuada de professores
em serviço
requer uma promoção contínua de diálogos e reflexões acerca dos
problemas que
atingem a
prática pedagógica, acreditando que a formação continuada de
professores em serviço enrique, problematiza e fortalecer a ação
educativa.
A hora atividade só
poderá ser apropriada como
espaço
para formação em serviço se ela tornar-se orgânica ao contexto
escolar. Conquistada essa ”organicidade” a hora atividade poderá
ser apropriada como espaço para estudos e formação dos
professores. Para tanto, ela terá que ser
contemplada
com o projeto político pedagógico escolar, isto é, deverá
integrar todo o projeto educativo, construído à luz de um plano
amplo, orgânico e original. Trata-se de um projeto articulado aos
anseios da sociedade, a partir da sua própria concepção não só
de escola, mas de mundo, de homem que se deseja formar. O processo de
organicidade é então um processo de unificação que
exige que a
escola tenha um projeto de reforma original que seja fruto de sua
realidade e dos anseios da comunidade em que está inserida, que seja
fruto da sua filosofia. É preciso considerar todos esses elementos
através de um processo de discussão crítica.
Ao refletir sobre o
próprio termo “hora atividade”, remete-se à ideia de ser
destinada às atividades práticas da docência, inviabilizando a sua
utilização para estudos teóricos. No entanto, o trabalho do
professor só tem sentido numa perspectiva da práxis, na qual não
exista uma indissociabilidade entre teoria e prática.
A teoria é necessária
para orientar a prática, nesse sentido almeja-se que o professor
tenha clareza de que seu trabalho docente, numa perspectiva da
totalidade, precisa estar fundamentado por elementos teóricos e
práticos. Daí decorre a necessidade do momento da hora atividade
transcender para além das atividades práticas individualizadas a
momentos coletivos pedagógicos e de estudos.
4. A intervenção do
pedagogo: diálogos e registros
Para Saviani (1985) o
papel do pedagogo necessita estar voltado para a gestão
pedagógica
e para a organização do trabalho pedagógico, neste sentido é que
se afirma que a
mediação
deste profissional junto ao professor torna-se fundamental na hora
atividade. O pedagogo sempre que necessário deve sugerir diferentes
estratégias metodológicas que possibilitem ao professor
redimensionar seu trabalho com o objetivo de garantir ao aluno em
sala de aula a apropriação do conhecimento.
No Colégio Estadual do
Paraná, uma das atribuições do pedagogo definidas no Regimento
Escolar, artigo 86, inciso III é “participar e intervir na
organização do trabalho pedagógico, no sentido de realizar a
função social e a especificidade da educação escolar”.
Destaca-se também a função de “promover e coordenar reuniões
pedagógicas e grupos de estudos para reflexão e aprofundamento de
temas relativos ao trabalho pedagógico para elaborar propostas de
intervenção com vistas à qualidade de ensino”, estabelecido no
incio VII do Artigo 86 do Regimento Escolar. De acordo com o Projeto
Político Pedagógico (Versão Preliminar 2013) e Regimento Escolar
(2012), a prática dos pedagogos pode ser organizada em três
dimensões principais:
Tabela 01:
Dimensões
do trabalho do pedagogo no Colégio Estadual do Paraná
Prática
Pedagógica
|
Prática
Política
|
Prática
Organizacional
|
-
Ênfase na dimensão social da aprendizagem humana
-
Formação continuada como processo permanente
-
Atenção à questão cultural
-
Organização da escola como ambiente educativo
|
-
Interface com o entorno externo econômico, político e cultural
-
Atenção à comunidade e à sociedade
-
Participação externa nas decisões internas
-
Interface família-escola; escola-comunidade, professores e
cidadania
|
-
Uso de formas ativas e autogestionárias
-
Descentralização do poder
Gestão
escolar mais horizontal, participativa e democrática
-
Estabelecimento de parcerias e trabalho cooperativo
|
Fonte: Regimento
Escolar 2012, Artigo 86.
No
que se refere à formação continuada do coletivo de professores da
escola os pedagogos assumem a função de elaborar o projeto de
formação continuada dos profissionais da escola para o
aprimoramento teórico-metodológico, na forma de trocas de
experiências, estudos sistemáticos e oficinas; desenvolver processo
contínuo pessoal e profissional de fundamentação teórica;
pesquisar e fornecer subsídios teórico-metodológicos para o estudo
e atender necessidades do trabalho pedagógico e organizar reuniões
de estudo para a reflexão e aprofundamento de temas relativos ao
trabalho pedagógico da escola, em especial sobre as questões
curriculares.
Desse
modo, para concretização e efetivação de um trabalho coerente com
as necessidades da
escola, a ampliação da hora atividade é um dos fatores principais,
visto que isso promoverá a valorização do trabalho do professor.
Por isso, o fortalecimento dos encontros semanais de pedagogos e
professores é uma prática fundamental para discutir a importância
da utilização do espaço da hora atividade, realizando estudos e
promovendo um processo de trabalho pedagógico consciente, crítico,
ético e coerente com as decisões tomadas pelo coletivo.
É importante destacar
que estes momentos de estudos são feitos uma aula, uma vez por
semana, pois entende-se a importância da realização das atividades
práticas inerentes a função do professor, e sabe-se que tal espaço
foi uma conquista da categoria, já que nem sempre o professor teve
assegurado este direito em sua carga horária semanal obrigando-o a
levar tarefas para serem realizadas em casa. Mas na medida em que o
grupo sentir a necessidade de buscar o aprofundamento teórico sobre
questões que surgirem no dia a dia da escola torna-se necessário
utilizar também a hora atividade como espaço de formação
continuada.
5. A metodologia do
trabalho do pedagogo na hora atividade dos professores
O trabalho que envolve
pedagogos e professores de Biologia, Ciências e Geografia do Colégio
Estadual do Paraná pauta-se num processo de ensino como prática
reflexiva.
Os movimentos da prática
reflexiva têm como pano de fundo a autonomia do professor. A
reflexão é entendida neste estudo de acordo com as idéias de
Zeichner (1993). Para este autor a reflexão envolve o
aluno/professor, a sua prática, o seu aluno e as condições sociais
nas quais o processo educacional em questão se situa.
Complementarmente, a reflexão assume um papel democrático e
emancipador e é entendida muito mais como prática social do que
como ação independente.
Espera-se, como grande
objetivo a alcançar, a busca por estratégias de mudanças e
transformação para melhorar a realidade, a partir da formação
continuada dos professores na hora atividade concentrada. A grande
questão que se coloca é a necessidade de produzir conhecimento no
decorrer do processo.
Assim, como forma de
estabelecer e fortalecer o vínculo pedagógico entre pedagogos e
professores, promovendo as discussões em torno de currículo e
reflexões acerca dos problemas cotidianos, organizou-se o seguinte
método de trabalho:
1. Conversa com
Coordenadores das disciplinas e definição das pautas (segunda ou
terça-feira);
2. Reunião dos pedagogos
junto aos coordenadores de disciplina e professores, nas
quartas-feiras, nos turnos da manhã e da tarde;
3. Registro em Ata das
orientações, dos temas levantados e das decisões tomadas
(quarta-feira).
No Colégio Estadual do
Paraná existe a função de Coordenador de disciplina,
que são professores eleitos anualmente pelo coletivo de professores
da disciplina para orientar o trabalho docente e organizar as
atividades da disciplina. Estes Coordenadores participam, toda
segunda-feira, de reunião junto à Chefia da Divisão Educacional e
Equipe Diretiva para o repasse das informações, discussão de
problemas e organização das atividades da semana.
Os pedagogos Alexandro
Muhlstedt e Percia Cicarelli assumiram, no início do ano letivo, a
coordenação pedagógica das disciplinas de Biologia, Ciências e
Geografia do Ensino Fundamental, Médio e Profissional, envolvendo os
professores dos turnos da manhã, tarde e noite. Os pedagogos se
encontram nas terças-feiras à noite e definem juntos a pauta para a
hora atividade concentrada.
Essa hora atividade
concentrada é realizada na quarta feira de manhã, pela pedagoga
Percia Cicarelli e à tarde pelo pedagogo Alexandro Muhlstedt. Os
pedagogos realizam o encontro por disciplina, ou seja, atendem o
grupo de Biologia e Ciências, na sala 313 e o grupo de geografia na
sala 113. Os coordenadores das disciplinas participam juntamente com
os professores.
O processo de diálogo
ocorre da seguinte forma: Os coordenadores apresentam a pauta da
semana, anotando as dúvidas e questionamentos do grupo, bem como
orientando naquilo que diz respeito à disciplina (por exemplo, a
Olimpíada de Biologia ou o Projeto da Copa do Mundo, em Geografia).
Em seguida, o pedagogo realiza as orientações pedagógicas dos
temas levantados no encontro anterior, como por exemplo, feedbacks
sobre o Plano de Trabalho Docente, discussão, definição e
orientações sobre a Planilha Eletrônica de Notas, Avaliação e
Recuperação de Estudos, Registros no Livro de Registro de Classe,
Disciplina e Indisciplina dos Alunos, etc. Todo esse processo é
registrado em Ata, a qual é assinada por todos ao final do encontro.
Essa proposta de trabalho
pauta-se na reflexão sobre as mudanças e a necessidade de inovação
das práticas escolares, não mais como no princípio da
racionalidade técnica, que estabelece como alguns princípios, via
de regra, a tarefa a alguns que pensam e outros que executam a
prática docente. A prática do professor deve levar em conta o
estudo da sua própria prática, como um dos meios constitutivos da
construção de novos saberes profissionais. Sob esse prisma,
evidencia a superação da dicotomia entre teoria e prática, as
políticas públicas descontextualizadas das necessidades inerentes
ao ensino e da escola.
Para além de se
compreender os processos de desenvolvimento pessoal e profissional do
professor, é considerá-lo detentor de uma profissão na qual o
próprio sujeito histórico é capaz de produzir o seu próprio
ofício. O desafio atual, segundo NÓVOA (1992) está na
valorização de
paradigmas de formação que promovam a preparação de professores
reflexivos, que assumam a responsabilidade do seu próprio
desenvolvimento profissional e que participem como protagonistas na
implementação das políticas educativas (pág. 27).
As práticas coletivas,
construtivas e colaborativas apontam caminhos contornáveis acerca da
polêmica instaurada e viáveis na articulação e (re) construção
dos saberes docentes, a partir do resgate da prática em si,
modelando e remodelando-se juntamente com contextos organizacionais,
estabelecendo um diálogo entre pedagogos e professores.
O trabalho envolve
diretamente os dois pedagogos responsáveis pelas disciplinas, dois
coordenadores e 14 professores de Biologia e Ciências e os dois
coordenadores e os 13 professores de Geografia.
Tabela
02: Número
de Professores de Biologia, Ciências e Geografia 2014
DISCIPLINA
|
Nº
DE PROFESSORES
|
DISCIPLINA
|
Nº
DE PROFESSORES
|
DISCIPLINA
|
Nº
DE PROFESSORES
|
BIOLOGIA
|
13
|
CIÊNCIAS
|
03
|
GEOGRAFIA
|
15
|
Fonte:
SAE
Esses professores atendem
as seguintes turmas:
Tabela 03: Cursos,
Turmas e Número de Alunos 2014
ENSINO
FUNDAMENTAL
|
ENSINO
MÉDIO
|
ENSINO
PROFISSIONAL
|
ANO
|
Nº
DE TURMA
|
Nº
DE ALUNOS
|
SÉRIE
|
N°
DE TURMAS
|
Nº
DE ALUNOS
|
SÉRIE
|
N°
DE TURMAS
|
Nº
DE ALUNOS
|
6º
|
1
|
23
|
1ª
|
22
|
658
|
1ª
|
2
|
60
|
7º
|
2
|
59
|
2ª
|
22
|
751
|
2ª
|
1
|
36
|
8º
|
3
|
91
|
3ª
|
24
|
751
|
3ª
|
3
|
81
|
9º
|
4
|
143
|
|
|
|
4ª
|
3
|
67
|
Total
|
316
|
Total
|
2160
|
Total
|
244
|
Fonte: Replica-SAE
Os encontros ocorrem
semanalmente, às quartas-feiras, nas salas das disciplinas (Sala
113, de Geografia e Sala 313, de Biologia e Ciências). Os materiais
e instrumentos necessários são: Pautas previamente definidas,
Livros Ata, Laboratório de informática e Blog dos Docentes
(www.docentescep.blogspot.com). Todas as informações e decisões
são enviadas para o endereço eletrônico dos professores.
Essa organização tem
constituído a busca por um trabalho coletivo dos docentes de
Biologia, Ciências e Geografia compreendendo este trabalho como uma
ação coletiva intencional, ou seja, propositiva, deliberada,
estimulada pela gestão escolar, que envolve um fazer – um conjunto
de procedimentos e um pensar –, um conjunto de ideias que
fundamenta a ação. Esta ação não é construída ou implementada
na escola por decreto ou pelo ato da instituição e sim é
constituída no processo, pois a prática, o fazer que dão sentido e
significado à ação coletiva.
Os docentes no processo
de ação coletiva são sujeitos do ensino entendidos em sua
identidade individual, considerando seus valores, crenças e
ideologias. No processo de trabalho coletivo, eles reconstroem essa
identidade, ou a ressignificam, conforme passam a formar um coletivo
e a formar um sujeito coletivo permeado pelo currículo da
disciplina. Entretanto, esse processo não é espontâneo nem
automático. São necessárias certas condições para que aconteça,
tais como: uma dada conjuntura política e pedagógica favorável à
organização de processos associativos, um ambiente de estímulo à
participação social, e não de controle e regulação de condutas
e, fundamentalmente, uma conjuntura política entre os sujeitos
participantes da ação que lhes favoreça uma leitura de mundo em
que suas políticas tenham sentido e significado num contexto maior,
de esperança por mudanças.
Os estudos sobre a ação
e identidade coletiva estão presentes em vários autores, a exemplo
de Alberto Melucci. Ele define a ação coletiva como:
Um conjunto de práticas
sociais que envolvem simultaneamente certo número de indivíduos ou
grupos que apresentam características morfológicas similares em
contigüidade de tempo e espaço, implicando um campo de
relacionamentos sociais e a capacidade das pessoas de incluir o
sentido do que estão fazendo. (MELUCCI, 1997, p.154)
O que caracteriza uma
ação coletiva é o compartilhamento de objetivos e interesses, as
motivações comuns que levem a aderir a um determinado trabalho.
Muitas vezes, o fato dos docentes estarem reunidos num mesmo espaço
e tempo não significa coletivo, pois talvez estejam realizando um
trabalho de orientação individualista, no qual cada um atua por
razões próprias e diversas do outro. É nesse momento que age,
semanalmente, o pedagogo. Profissional que fomenta o fortalecimento
da identidade coletiva e organiza a relação pedagógica junto aos
docentes.
Afinal, os professores
têm um conjunto de saberes (formado pela teoria, prática, e
experiência profissional) que vale a pena ser compartilhado, e nesse
compartilhamento se diversificam o repertório pedagógico e os seus
instrumentos de intervenção. Nóvoa (2004) diz que a vivência
coletiva entre os professores abre novas possibilidades, proporciona
novas ferramentas teóricas e metodológicas “que lhes permitem pôr
em prática ideias e perspectivas que já aderem, mas que não sabem
pôr em prática” (NÓVOA, 2004, p.5).
Ao tratar a cultura
biológica ou geográfica docente, não há como remeter a
significados e valores que estão presentes na ação coletiva dos
professores e que fundamentam o Projeto Político Pedagógico da
escola. Assim, o Projeto Político Pedagógico não poderia ficar de
fora das categorias de análise porque explicita a ação coletiva
desenvolvida na escola, refletindo-se na cultura escolar e na cultura
da escola. Tudo isso num movimento que se concretiza em sala de aula
pela ação pedagógica do professor e sua interação com o
currículo escolar.
6. À GUISA DE
CONCLUSÃO
A hora atividade como
espaço de formação continuada, de problematização das questões
curriculares e de discussão coletiva dos
problemas
pedagógicos tem promovido no Colégio Estadual do Paraná a
superação das formas alienadas do pensamento
através
das reflexões e tomadas de decisão numa perspectiva crítica,
promovendo a análise, por parte do professor, sobre seu trabalho e,
consequentemente, o fortalecimento do sentido numa perspectiva
de formação
humana. Neste sentido a hora atividade promove a transformação
através da humanização do trabalho do professor de forma que este
profissional passe a assumir o compromisso político com a classe
trabalhadora, através da garantia da competência técnica em seu
trabalho.
Ainda é possível notar
a existência de algumas fragilidades nas concepções sobre as
temáticas educacionais abordadas, especialmente naquelas inerentes
ao fazer pedagógico, como o Currículo, Avaliação e Relação
Professor – Aluno, bem como pela necessária busca pela
caracterização mais apurada do Projeto Político Pedagógico.
O pedagogo, nessa teia de
possibilidades e limitações, é o mediador na interação com
professores na hora atividade e deve
estar
atento, observando os problemas e dificuldades que se apresentam
nesse processo
pedagógico
para que, no coletivo, possam ser pensadas ações que conduzam a
equacionar os problemas da escola. A hora atividade constitui-se em
espaço de interação entre pedagogo e professores e, desta forma,
propicia o momento de discussão e mediação às questões
pedagógicas.
Com isso, tem-se notado
um processo de segurança ao agir pedagogicamente por parte dos
professores, um diálogo rico e profícuo entre pedagogos e
professores e, sobretudo, o desenvolvimento da profissionalidade
docente, no qual o professor sente-se amparado e subsidiado para agir
consciente e eticamente na sala de aula e em todos os momentos da
escola.
7.
Referências Bibliográficas
BRASIL.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB Lei nº
9394/96. Estabelece
as diretrizes e bases da educação nacional.
Brasília, 2014.
______. Lei
nº 11.738, de 16 de julho de 2008. Regulamenta
o piso salarial profissional nacional para os profissionais do
magistério público da educação básica. Brasília, 2014.
CONTRERAS,
J. A autonomia dos professores. 2 ed. Trad. Sandra Trabucco
Valenzuela. São Paulo: Cortez, 2012.
ESTEBAN, M. T. et al.
Professora-pesquisadora: uma práxis em construção. Rio de Janeiro:
DP&A, 2002.
GOODSON, I. Teoria do
currículo. São Paulo: Cortez, 1995.
LOPES, A. C.; MACEDO, E.
Currículo: debates contemporâneos. São Paulo: Cortez, 2002.
MELUCCI,
A. Movimentos sociais e sociedade complexa. Cadernos do Núcleo de
Estudos e Pesquisa sobre Movimentos Sociais. Movimentos Sociais na
Contemporaneidade. São Paulo, Programa de Estudos Pós-Graduados em
Serviço Social, PUC-SP, nº.2, p.11-32, abril 1997a.
MÈSZÁROS, I. A educação
para além do capital. In: O desafio e o fardo do tempo histórico: o
socialismo no século XXI. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 195-224.
NÓVOA, A. (org.) Os
professores e sua formação. Lisboa: DOM Quixote, 1992.
______. A. O professor, a
escola e as mudanças educacionais – Entrevista com o professor
António Nóvoa. Jornal Currículos 2002 - Textos Reflexivos. São
Paulo, GRUHBAS - Projetos Educacionais e Culturais, ago 2004.
PARANÁ. Lei Estadual n.º
13 807, de 30 de setembro de 2002. Instituiu os 20% de hora
atividade. Curitiba, 2002.
______. Reformulação
Curricular do Estado do
Paraná. Curitiba: SEED/SUED, 2003.
______.
Instrução nº 02/2004, de 27 de fevereiro de 2004. Orienta sobre a
organização da hora atividade. Curitiba: SUED/SEED, 2004.
______.
Lei Complementar nº 103, de 5 de março de 2004. Institui
e dispõe sobre o Plano de Carreira do Professor da Rede Estadual de
Educação Básica do Paraná e adota outras providências.
Curitiba, 2004.
______. Os Desafios
Educacionais Contemporâneos e os conteúdos escolares: reflexos na
organização da Proposta Pedagógica Curricular e a Especificidade
da escola pública. In: Orientações para a Semana Pedagógica.
SEED/SUED: 2008.
______.
Lei Complementar 155, de 08 de Maio de 2013. Dá nova redação ao
caput do art. 31 da Lei Complementar nº 103, de 15 de março de
2004, conforme especifica e adota outras providências. Curitiba,
2013.
PEREIRA, J. E. D.;
ZEICHNER, K. M. (Org.). A pesquisa na formação e no trabalho
docente. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
SACRISTÁN,
J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Trad.
Ernani F. da F. Rosa, Porto Alegre: ArtMed, 2000.
SAVIANI, D. Pedagogia
Histórico-Crítica: primeiras aproximações. 4 ed. Campinas:
Autores Associados, 1994.
______. O sentido da
pedagogia e o papel do pedagogo. Revista ANDE, São Paulo, no 9,
1985.
ZEICHNER, K. M.
Concepções de prática reflexiva no ensino e na formação de
professores. In: ZEICHNER, K. M. A formação reflexiva de
professores: ideias e práticas. Lisboa: Educa, 1993.