domingo, 20 de abril de 2014

PROBLEMAS DE SAÚDE DOS ALUNOS: Olhar pedagógico e ação do professor



Pedagogo Alexandro Muhlstedt


Colégio Estadual do Paraná
e-mail: supervisoralex@bol.com.br

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, “saúde é um estado de completo bem estar físico, mental e social e, não meramente a ausência de doença e enfermidade”. A partir desse conceito, pode-se compreender a necessidade de considerar pedagogicamente os problemas de saúde apresentados por nossos alunos, objetivando conhecê-los para desenvolver um processo de ensino sensível às dificuldades oriundas dos mesmos. Evidentemente não se espera trabalhar com os problemas de saúde em si, mas saber em que medida interferem na aprendizagem dos alunos. Torna-se importante destacar que não se trata de estigmatizar, rotular ou discriminar tais alunos, tampouco entendê-los como incapazes ou pensar que não devem ser cobrados em suas obrigações discentes.
Shiu (2004b) aponta o importante papel dos professores e dos colegas de sala de aula como fator que determina a permanência do aluno com doença na escola, quando incentivam, respeitam e, sobretudo, valorizam as suas capacidades. Afinal, a escola pode representar o único lugar onde o aluno doente pode ser visto como estudante em lugar de um paciente.
Nesse sentido, considero importante que os professores tomem conhecimento dos problemas de saúde de seus alunos, informando-se sobre a doença, prognósticos e tratamentos, com intenção de entender melhor os comportamentos, os limites e as possibilidades de aprendizagem dos mesmos. Reforço que não se trata de adotar uma postura de compaixão ou absenteísmo em relação ao aluno, mas desenvolver um olhar diferente e consciente, tendo por objetivo a elevação dos níveis de aprendizagem. Com isso, a cobrança e as exigências aos alunos com problemas de saúde também são válidas e necessárias, porém, sempre considerando a especifidade de sua condição.
Vale ressaltar que Organização Mundial da Saúde define doença como “um conjunto de sinais e sintomas que podem afetar todo o corpo ou qualquer das suas partes, e as suas etiologias, patologia e prognóstico podem ser conhecidos ou desconhecidos”. Já a deficiência é definida como “a perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, temporária ou permanente”. Assim, ao considerar as doenças de nossos alunos, podemos desenvolver um olhar crítico aos seus comportamentos e ter uma postura condizente com suas necessidades de ser em desenvolvimento. Até porque as doenças e/ou condições crônicas, consideradas incuráveis e permanentes, exigem que o indivíduo ressignifique sua existência, adaptando-se às limitações, frustrações e perdas (PILGER; ABREU, 2007).
Especialmente nos casos crônicos, o adolescente tem seu cotidiano modificado, muitas vezes, com limitações, principalmente físicas, devido aos sinais e sintomas da doença e podem ser frequentemente submetidos a hospitalizações para exames e tratamento à medida que a doença progride. Assim, a hospitalização permeia seus processos de crescimento e desenvolvimento, modificando, em maior ou menor grau, o cotidiano, separando-os do convívio de seus familiares e ambiente (VIEIRA; LIMA, 2002).
Para Shiu (2004b), se forem mantidos uma relação, atitudes e comportamentos positivos dentro da comunidade escolar, é possível assegurar ao adolescente com uma doença ter as mesmas oportunidades e resultados como os seus semelhantes.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos escolares currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências e; a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar.
Vale destacar que o Projeto Político Pedagógico do Colégio Estadual do Paraná (versão preliminar 2013) expressa que “... o conhecimento não é construído de forma espontânea, mas é mediado a partir de um diagnóstico do nível de desenvolvimento em que o aluno se encontra, para possibilitar a intervenção do professor no sentido da aprendizagem. Portanto, há ensino e há aprendizagem. Com base neste pressuposto, o desenvolvimento da capacidade cognitiva, da capacidade de pensar, analisar, abstrair, resolver situações problemas formular hipóteses, ler, compreender, interpretar, produzir, ou seja, das funções mentais superiores é consequência da produção e do acesso ao conhecimento. Este movimento, por sua vez, não prescinde de um trabalho planejado pela escola, pelo projeto pedagógico, pela proposta pedagógica e em especial pelo professor”. Isto posto, pode-se compreender a importância de se considerar os alunos em suas especificidades, incluindo aí as questões que envolvem saúde / doença.
Por fim, considero fundamental que tenhamos todos, Equipe Pedagógica e Professores (em consequência os demais alunos da classe), um olhar de respeito, sem pre-julgamentos ou aderência a discursos pessimistas, e uma postura ética que contribua para a formação intelectual dos alunos. Consideremos, pois, as necessidades físicas, emocionais e sociais de nossos alunos e que, através de estratégias pedagógicas humanizadoras, possamos contribuir para minimizar o estresse ocasionado pelas intervenções médicas, tanto físicas quanto emocionais, e, com o apoio de suas famílias, socializemos de modo efetivo o conhecimento historicamente elaborado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Secretaria de Edições Técnicas, 1997. 48p.
COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ. Projeto Político Pedagógico (versão preliminar). Curitiba, 2013.
OLIVEIRA, M. L. C. L; SILVA, M. T. A. da. Educação em Saúde: repensando a formação de professores. Revista Brasileira de Saúde Escolar, v. 1, n. 2, p. 3-20, 1990.
PILGER, C.; ABREU, I. S. Diabetes mellitus na infância: repercussões no cotidiano da criança e de sua família. Cogitare Enferm. v. 12, n. 4, p. 494-501, out/dez 2007.
SHIU, S. E. Maintaining the thread: including young children with chronic illness in the primary classroom. Australian Journal of Early Childhood, v. 29, n. 1, p. 33-38, march 2004b.

VIEIRA, M. A.; LIMA, R. A. G. de. Crianças e adolescentes com doença crônica: convivendo com mudanças. Ribeirão Preto, Rev. Latino-Am. Enfermagem, v. 10, n. 4, jul/ago 2002. 


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