Pedagogo
Alexandro Muhlstedt
Colégio
Estadual do Paraná
e-mail:
supervisoralex@bol.com.br
De
acordo com a Organização Mundial da Saúde, “saúde é um estado
de completo bem estar físico, mental e social e, não meramente a
ausência de doença e enfermidade”. A partir desse conceito,
pode-se compreender a necessidade de considerar pedagogicamente os
problemas de saúde apresentados por nossos alunos, objetivando
conhecê-los para desenvolver um processo de ensino sensível às
dificuldades oriundas dos mesmos. Evidentemente não se espera
trabalhar com os problemas de saúde em si, mas saber em que medida
interferem na aprendizagem dos alunos. Torna-se importante destacar
que não se trata de estigmatizar, rotular ou discriminar tais
alunos, tampouco entendê-los como incapazes ou pensar que não devem
ser cobrados em suas obrigações discentes.
Shiu
(2004b) aponta o importante papel dos professores e dos colegas de
sala de aula como fator que determina a permanência do aluno com
doença na escola, quando incentivam, respeitam e, sobretudo,
valorizam as suas capacidades. Afinal, a escola pode representar o
único lugar onde o aluno doente pode ser visto como estudante em
lugar de um paciente.
Nesse
sentido, considero importante que os professores tomem conhecimento
dos problemas de saúde de seus alunos, informando-se sobre a doença,
prognósticos e tratamentos, com intenção de entender melhor os
comportamentos, os limites e as possibilidades de aprendizagem dos
mesmos. Reforço que não se trata de adotar uma postura de compaixão
ou absenteísmo em relação ao aluno, mas desenvolver um olhar
diferente e consciente, tendo por objetivo a elevação dos níveis
de aprendizagem. Com isso, a cobrança e as exigências aos alunos
com problemas de saúde também são válidas e necessárias, porém,
sempre considerando a especifidade de sua condição.
Vale
ressaltar que Organização Mundial da Saúde define doença como “um
conjunto de sinais e sintomas que podem afetar todo o corpo ou
qualquer das suas partes, e as suas etiologias, patologia e
prognóstico podem ser conhecidos ou desconhecidos”. Já a
deficiência é definida como “a perda ou anormalidade de estrutura
ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, temporária ou
permanente”. Assim, ao considerar as doenças de nossos alunos,
podemos desenvolver um olhar crítico aos seus comportamentos e ter
uma postura condizente com suas necessidades de ser em
desenvolvimento. Até porque as doenças e/ou condições crônicas,
consideradas incuráveis e permanentes, exigem que o indivíduo
ressignifique sua existência, adaptando-se às limitações,
frustrações e perdas (PILGER; ABREU, 2007).
Especialmente
nos casos crônicos, o adolescente tem seu cotidiano modificado,
muitas vezes, com limitações, principalmente físicas, devido aos
sinais e sintomas da doença e podem ser frequentemente submetidos a
hospitalizações para exames e tratamento à medida que a doença
progride. Assim, a hospitalização permeia seus processos de
crescimento e desenvolvimento, modificando, em maior ou menor grau, o
cotidiano, separando-os do convívio de seus familiares e ambiente
(VIEIRA; LIMA, 2002).
Para
Shiu (2004b), se forem mantidos uma relação, atitudes e
comportamentos positivos dentro da comunidade escolar, é possível
assegurar ao adolescente com uma doença ter as mesmas oportunidades
e resultados como os seus semelhantes.
A
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº 9.394/96,
no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos
escolares currículo, métodos, recursos e organização específicos
para atender às suas necessidades; assegura a terminalidade
específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a
conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências e;
a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do
programa escolar.
Vale
destacar que o Projeto Político Pedagógico do Colégio Estadual do
Paraná (versão preliminar 2013) expressa que “...
o conhecimento não é construído de forma espontânea, mas é
mediado a partir de um diagnóstico do nível de desenvolvimento em
que o aluno se encontra, para possibilitar a intervenção do
professor no sentido da aprendizagem. Portanto, há ensino e há
aprendizagem. Com base neste pressuposto, o desenvolvimento da
capacidade cognitiva, da capacidade de pensar, analisar, abstrair,
resolver situações problemas formular hipóteses, ler,
compreender, interpretar, produzir, ou seja, das funções mentais
superiores é consequência da produção e do acesso ao
conhecimento. Este movimento, por sua vez, não prescinde de um
trabalho planejado pela escola, pelo projeto pedagógico, pela
proposta pedagógica e em especial pelo professor”. Isto
posto, pode-se compreender a importância de se considerar os alunos
em suas especificidades, incluindo aí as questões que envolvem
saúde / doença.
Por
fim, considero fundamental que tenhamos todos, Equipe Pedagógica e
Professores (em consequência os demais alunos da classe), um olhar
de respeito, sem pre-julgamentos ou aderência a discursos
pessimistas, e uma postura ética que contribua para a formação
intelectual dos alunos. Consideremos, pois, as necessidades
físicas, emocionais e sociais de nossos alunos e que, através de
estratégias pedagógicas humanizadoras, possamos contribuir para
minimizar o estresse ocasionado pelas intervenções médicas, tanto
físicas quanto emocionais, e, com o apoio de suas famílias,
socializemos de modo efetivo o conhecimento historicamente elaborado.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL.
Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Secretaria
de Edições Técnicas, 1997. 48p.
COLÉGIO
ESTADUAL DO PARANÁ. Projeto Político Pedagógico (versão
preliminar). Curitiba, 2013.
OLIVEIRA,
M. L. C. L; SILVA, M. T. A. da. Educação em Saúde: repensando a
formação de professores. Revista Brasileira de Saúde Escolar, v.
1, n. 2, p. 3-20, 1990.
PILGER,
C.; ABREU, I. S. Diabetes mellitus na infância: repercussões no
cotidiano da criança e de sua família. Cogitare Enferm. v. 12, n.
4, p. 494-501, out/dez 2007.
SHIU,
S. E. Maintaining the thread: including young children with chronic
illness in the primary classroom. Australian Journal of Early
Childhood, v. 29, n. 1, p. 33-38, march 2004b.
VIEIRA,
M. A.; LIMA, R. A. G. de. Crianças e adolescentes com doença
crônica: convivendo com mudanças. Ribeirão Preto, Rev. Latino-Am.
Enfermagem, v. 10, n. 4, jul/ago 2002.
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