Alexandro Muhlstedt
Não
deve bastar interpretar o mundo de diferentes maneiras;
o
que importa é transformá-lo.
(Marx;
Engels, 1987. p. 14)
INTRODUÇÃO
No
ano de 2010 a Secretaria de Estado da Educação do Paraná
proporcionou Formação Continuada na qual os Professores da Rede
poderiam atuar como docentes, desenvolvendo oficinas. O evento foi
denominado Itinerante por tratar de atividade descentralizada, na
qual era possível desenvolver atividades em formato de Oficinas.. As
oficinas deveriam apresentar práticas pedagógicas consistentes,
fundamentadas nas diretrizes curriculares e contribuir para que os
professores ampliassem as possibilidades metodológicas em sala de
aula. Aos professores, diretores, pedagogos e funcionários foi dada
a oportunidade de partilhar suas experiências e discutir temas da
diversidade, inclusão, uso das tecnologias na educação, desafios
contemporâneos e demais temas referentes a sua área de atuação.
Para
participar, os profissionais deveriam inscrever sua oficina junto ao
Núcleo Regional de Educação (NRE) ao qual pertencessem que, após
analisar a proposta, encaminhava para o Departamento de Educação
Básica (DEB) o qual fazia a avaliação e seleção.
Basicamente, as oficinas
inscritas poderiam se constituir em práticas pedagógicas ou em
resultado de estudo conceitual sobre os tópicos sugeridos, avaliados
a partir dos critérios de educação para toda à escola pública:
Concepção, Coerência do desenvolvimento do conteúdo, Organização
do conteúdo da oficina atendendo aos elementos orientados e
disponível no sistema.
Assim,
motivado pela possibilidade de socializar uma prática pedagógica na
área do Currículo, bem como refletir sobre o papel, função e
desafios no cotidiano do trabalho do Pedagogo, decidi inscrever uma
Oficina. Denominei a oficina de
“O pedagogo e o currículo: a intervenção necessária”, visando
discutir e refletir sobre essa temática.
1. FUNDAMENTOS
Etimologicamente
o termo currículo vem do latim curriculum
que significa “pista de corrida, caminho ou trajetória”. Em se
tratando de educação, expressa, portanto, um projeto de escola e,
consequentemente, de sociedade e de mundo.
A concepção de
currículo na escola pública, por sua vez, deve expressar a intenção
desta trajetória, que não é espontânea, pelo contrário, é
intencional e deve revelar as necessidades históricas daqueles que
dependem da escola pública como via de acesso ao conhecimento.
Currículo, portanto, se situa nas disputas de poder que ocorrem
entre aqueles que vem na educação o espaço para seus projetos e
expectativas, bem como disputas de poder no interior das próprias
políticas públicas.
Moreira e Silva (1995)
salientam que:
O currículo não é um
elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada do
conhecimento social. O currículo está implicado em relações de
poder, o currículo transmite visões sociais particulares e
interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais
particulares. O currículo não é um elemento transcendente e
atemporal – ele tem uma história, vinculada a formas específicas
e contingentes de organização da sociedade e da educação (p. 8).
Assim, partindo desse
pressuposto, é possível afirmar que a escola pode ser considerada,
também, uma instituição produtora de políticas curriculares. E
mais, que ela possa ser vista como um local permanente de decisões.
E nessa perspectiva, o pedagogo, constrói sua prática, devendo
questionar a realidade e refletir sobre o vivido no cotidiano.
Sobre o profissional
pedagogo, a percepção que se tem é que ele tem se tornado
elemento-chave na articulação entre o sistema de ensino oficial e a
escola, o que remete a compreender que em certos momentos, o seu
papel é requisitado como mediador na condução e efetivação de
políticas educacionais, sejam quais forem suas concepções e
intenções. Deste modo, o pedagogo torna-se um profissional a
serviço do Estado, e não necessariamente a serviço da comunidade.
Diante desse quadro, o
pedagogo tem como desafio constituir sua identidade profissional como
intelectual orgânico das massas e como cientista da educação, ou
seja, um profissional comprometido com a maioria da população dos
trabalhadores, com a promoção do acesso à educação. Para tal
investiga, propõe estratégias e alternativas para a melhoria do
processo ensino e aprendizagem.
Nesse sentido, é
fundamental o reconhecimento do Currículo escolar, as disciplinas e
o conjunto de conteúdos historicamente construído, mas, sobretudo,
compreender o Currículo que compõe o conjunto de conhecimentos da
prática pedagógica do Pedagogo.
2. TÓPICOS
De acordo com a
organização dos elementos de inscrição, incluí minha proposta de
Oficina no tópico: O papel do pedagogo na mediação do currículo
(disciplinar) e das Diretrizes Curriculares Estaduais.
3. JUSTIFICATIVA
O pedagogo é, hoje, na
escola pública, um profissional indispensável com papel claramente
definido e, por isso mesmo, assume a função de mediador entre as
concepções teóricas de currículo e a organização do cotidiano
da escola. Dito isso, a presente Oficina justifica-se pela
necessidade de discussão e aprofundamento do papel do pedagogo ante
a implementação de currículo com opção pelas disciplinas.
Justifica-se também pela
relevância em investigar e definir com maior propriedade o papel do
pedagogo na articulação do currículo, a prática do professor e a
reflexão dessa mesma prática à luz dos fundamentos curriculares.
4. PROBLEMATIZAÇÃO
Atualmente, com a
implantação das Diretrizes Curriculares Estaduais e a elaboração
e reelaboração das Propostas Pedagógicas Curriculares das escolas,
torna-se um desafio grandioso transpor a teoria (curricular) à
prática pedagógica no dia a dia do professor e vice-versa. Os
pedagogos e professores se deparam com inúmeras situações na
rotina escolar e, por conseguinte, estão a todo momento sendo
desafiados a dar conta dessa rotina e dessas situações, além
daquelas inerentes à função de cada um. É necessário, pois,
redefinir e reorganizar determinadas práticas, a fim de contribuir
para a implementação de um currículo que leve em consideração as
especificidades de cada realidade e a necessária consolidação do
Projeto Político Pedagógico.
Discutir com os
professores, ao mesmo tempo avaliando e reorganizando a prática
pedagógica, nem sempre é uma tarefa fácil aos pedagogos, visto que
isso demanda tempo e todo um arsenal de argumentos para convencimento
e “sedução pedagógica”.
Há, por fim, que levar
em conta que são entraves para a implementação real uma certa
resistência por parte dos professores em realizar o Plano de
Trabalho Docente de forma atualizada e coerente com as novas
propostas curriculares.
5. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento da
Oficina, escolhi uma metodologia que dá prioridade a diferentes
formas de análise da problemática e diferentes abordagens e
propostas de soluções:
a.
Problematização do assunto
|
Utilizar
a técnica da “Árvore dos Problemas” para o levantamento
dos problemas enfrentados no dia a dia pelos participantes.
Pergunta chave: “Quais
são as dificuldades enfrentadas pelos pedagogos na rotina
escolar”?
O
docente distribui papeletas aos participantes solicitando que cada
um escreva problemas do cotidiano (um problema em cada papeleta),
que são afixadas em um painel para serem visualizadas por todos.
Agrupam-se
os problemas iguais, sendo que os participantes determinam o
problema central, as causas e as consequências desse problema.
Os
problemas apresentados são discutidos, sendo ou não confirmados
pelo grupo, lembrando que, a partir do momento que as ideias são
colocadas no painel, elas são consideradas de propriedade do
grupo.
O
grupo constrói, então a "árvore" (diagrama),
obedecendo a relação causa-efeito entre os problemas. Se for o
caso, novos problemas são acrescentados.
Esta
técnica
possibilita o
estabelecimento da relação de causa e efeito.
|
b. Painel Integrado
|
Sistematização
das papeletas escritas, selecionando os problemas que se referem
ao professor e sua prática.
Em
seguida, os participantes escreveram relatos sobre esses
problemas.
Após,
houve a socialização dos relatos, discutindo o papel do
pedagogo.
|
c.
Trabalho em grupo
|
-
Em grupos, os participantes escrevem sobre conceito de currículo
e proposta pedagógica curricular.
-
Em seguida, inicia a construção da “Árvore das Soluções”
(o inverso do que foi escrito na Árvore dos Problemas).
-
Executa-se a elaboração dos objetivos e de funções práticas
do pedagogo na implementação de currículo, refletindo sobre a
necessidade da constituição de práticas do pedagogo em
consonância com a necessária compreensão, pelo professor, da
importância do currículo, proposta pedagógica e plano de
trabalho docente.
|
d.
Leitura e a análise do texto
|
-
Estudo do texto sobre o currículo e papel do pedagogo, encerrando
a discussão de acordo com as orientações gerais feitas pela
SEED (presente no texto escolhido).
|
6. MATERIAIS
Para o desenvolvimento
adequado da atividade, é necessário providenciar alguns materiais
com antecedência: 8m de Papel Bonina, 1 resma de Papel sulfite,
Tesoura, Fita adesiva, um pincel atômico para cada participante,
cópias do texto “O papel do pedagogo na gestão: possibilidades de
mediação do currículo”.
7. RELATO DA OFICINA
DESENVOLVIDA NO SETOR PORTÃO - CURITIBA
Nos
dias 16 e 17 de junho de 2010 desenvolvi a Oficina junto aos
pedagogos que atuam nas escolas do Setor Portão, Curitiba. Foram
aproximadamente 120 participantes, sendo 40 em cada Oficina.
A
Oficina foi desenvolvida três vezes, com grupos distintos, sendo uma
Oficina em cada turno, com duração de 4 horas cada.
A
seguir, apresento as “Árvores” construídas pelos grupos,
seguida de algumas observações feitas posteriormente, refletindo a
produção.
OFICINA
01 – 16 DE JUNHO - MANHÃ
ÁRVORE
DOS PROBLEMAS
|
ÁRVORE
DAS SOLUÇÕES
|
REFERENTE
AO PEDAGOGO
Pedagogo
substituindo o professor que falta
Falta
de hora atividade para estudos e organização do trabalho
Incompreensão
da função de pedagogo
Falta
de colaboração e apoio
Número
de pedagogos insuficiente
REFERENTE
AO PROFESSOR
Falta
de Professor
Falta
do Professor à aula
Falta
de ética, compromisso e comprometimento
Mau
desempenho em sala de aula
Dificuldade
em preencher o livro de registro
Resistência
à mudança
Falta
de domínio de classe
REFERENTE
AO ALUNO
Gazetas
de aula
Uso
de drogas
Indisciplina
Não
há atendimento ao aluno com dificuldade
Alunos
em aula vaga
Desinteresse
pelas aulas
REFERENTE
À ESTRUTURA
Falta
inspetor de pátio
Falta
de valores
Violência
Uso
inadequado dos meios legais
“Vícios”,
“tem que ser assim”
Comunicação
truncada e relacionamentos conflitivos
Falta
de profissionais e atendimentos especializados
|
REFERENTE
AO PEDAGOGO
Definição
de funções
Hora
atividade ao pedagogo para estudos e organização do trabalho
pedagógico
Compreensão
do trabalho e função do pedagogo
Colaboração
de funcionários
Demanda
adequada de funcionários
REFERENTE
AO PROFESSOR
Substituição
rápida
Não
falta à aula de forma negligente
Trabalho
realizado com ética, compromisso e comprometimento
Domínio
de classe
Informação
clara e precisa
Interação,
conhecimento e respeito
Domínio
de classe
REFERENTE
AO ALUNO
Aluno
em sala de aula
Prevenção
e combate ao uso de drogas
Disciplina
e limites
Atendimento
adequado ao aluno com dificuldades
Interesse
do aluno
REFERENTE
À ESTRUTURA
Presença
de Inspetor no pátio
Resgate
do valor da educação
Respeito,
ética e paz
Utilização
dos meios legais de forma precisa
Flexibilidade
Entrosamento,
relação interpessoal e atitudes de respeito
Estrutura
e demanda adequadas
|
Os participantes dessa
Oficina manifestaram inúmeros questionamentos a respeito da função
primordial do pedagogo. A problemática girou em torno das ações de
rotina que impedem uma ação coerente e de acorda com a função
definida em lei.
O problema mais
evidenciado foi a falta do professor à aula e a falta de professor
em diferentes disciplinas. Nota-se a demora na substituição e por
isso tendo o pedagogo que realizar o atendimento aos alunos.
A indisciplina, portanto,
tende a aumentar, de acordo com grupo, por causa dos inúmeros
momentos que ficam ociosos no pátio. Sendo que não há inspetor que
cuida e fiscaliza esse espaço.
Em função dessa
problemática, acaba que muitas vezes o trabalho do pedagogo é
incompreendido pelos professores e demais profissionais sendo que o
mesmo é solicitado a dar conta de sua função precípua e também
das cotidianidades que nem sempre são decisões e ações
pedagógicas, mas sim, atividades de cunho administrativo,
comportamental e burocrático.
Ante a este contexto,
evidencia-se a necessidade de uma estruturação e organização do
trabalho pedagógico, fortalecendo a reelaboração de Projeto
Político Pedagógico coerente com a realidade e as necessidades da
escola, bem como implementar a concretização de Planos de Ação do
Pedagogo conectado à função definida em lei e de acordo com as
necessidades de cada unidade escolar.
Fazer pedagogia é
realizar atividades que envolvem pessoas e grupos sociais com
intencionalidades educativas diferentes. É uma ação que implica
comprometimento moral e ético, assim como capacidades para articular
a vida da escola com o mundo social global. Assim, todo profissional
da educação deve se enxergar, antes de tudo, como um educador,
mesmo que especialista em alguma área específica do conhecimento.
Assim, o pedagogo, com
função articuladora dos processos de ensino e aprendizagem é peça
fundamental para estabelecer a tão sonhada qualidade educacional.
Para isso, defende-se e
sugere-se a concretização de Plano de Ação e organização clara,
coerente e concisa (e simples, sim) de ações na rotina escolar.
OFICINA
02 – 16 DE JUNHO - TARDE
ÁRVORE
DOS PROBLEMAS
|
ÁRVORE
DAS SOLUÇÕES
|
REFERENTE
AOS PEDAGOGOS
Ações
“apaga incêndio”
Falta
de pedagogos
Estudo
com professores não é realizado
Tempo
inexistente para estudos
Trabalhos
e tarefas fora da função do pedagogo
Excesso
de trabalho
Pedagogos
sem linha telefônica
“Invasão
de espaços”
Falta
de unidade de ação
REFERENTE
AOS PROFESSORES
Falta
de professor
Troca
de professores
Falta
professor substituto
Problemas
na formação inicial dos professores
Resistência
Descomprometimento
Falta
de dedicação, responsabilidade e atualização
Acomodação
REFERENTE
AO ALUNO E SUA FAMÍLIA
Dificuldade
na participação dos pais na escola
Indisciplina
em sala de aula
Falta
de respeito
Evasão
escolar
REFERENTE
À ESTRUTURA
Falta
de autonomia
Burocracia
Falta
de profissionais e inspetores de pátio
|
REFERENTE
AOS PEDAGOGOS
Elaboração
do Plano
de ação
Número
de pedagogos conforme a demanda da escola
Espaço
para estudo com os professores
Clareza
na função do pedagogo no Plano de ação
Trabalhos
compatíveis com a função
Linha
telefônica para acesso e uso exclusivo
Respeito
pelo espaço / atuação
Unidade
nas / de ações
REFERENTE
AOS PROFESSORES
Substituição
rápida dos professores em licença, afastados ou em tratamento de
saúde
Condições
de trabalho
Melhorar
a formação inicial – Universidades
Flexibilidade
Compromisso
e comprometimento
Responsabilidade,
ética e estudos
Atualização
REFERENTE
AO ALUNO E SUA FAMÍLIA
Participação
dos pais
Disciplina
e limites
Respeito
Permanência
na escola
REFERENTE
À ESTRUTURA
Autonomia
Desburocratização
Profissionais
e inspetores de pátio
|
As pedagogas
participantes dessa oficina apresentaram questões cruciais na rotina
do pedagogo escolar. A falta de professores, o abandono de turmas e a
falta do professor à aula tem sido motivo de completa desarticulação
do trabalho do pedagogo.
Percebe-se que o pedagogo
acaba realizando, então, inúmeras outras tarefas, deixando de lado
o papel preponderante de articulador. Além disso, enfrenta a
resistência, a incompreensão de seu trabalho, a falta de
companheirismo, bem como a corrida contra o tempo para dar conta de
tantas atribuições.
Exige-se do pedagogo
muito mais do que ele é capaz de dar conta. Além das atribuições
legais e morais, a ele cabe o cumprimento de um imenso conjunto de
tarefas; muitas vezes, pelo simples de não estar em sala de aula
acaba assumindo tais papeis. Ainda assim, é tido como aquele que
“não faz nada” na escola.
Pode-se inferir que o
final do expediente do pedagogo é o momento de lembrar que o seu
fazer esgotou-se e tornou-se “fumaça” por agir nas consequências
e não nas causas dos problemas de rotina.
A tão necessária
reflexão e articulação teoria prática mais parece um sonho, um
ideal, do que a atribuição principal do pedagogo.
O pedagogo assiste a
descaracterização e secundarização de sua função. Acaba por
fazer de tudo (profissional multitarefa): correr atrás de aluno que
não quer assistir aulas, que briga com o colega, com o professor,
com o funcionário; do aluno que está doente, que se acidenta, que
chega atrasado, que vem sem uniforme, que não faz tarefas; do
professor que não domina sua turma, que não explica a matéria,
acarretando, com isso, problemas de disciplina, os quais são
repassados para o pedagogo resolver e, quando este toma alguma
decisão contrária ao que o professor esperava, ainda o trata de
modo hostil.
Além disso, deve
“cobrir” e até substituir professores ausentes; do diretor que
não compreende o trabalho do pedagogo, delegando a ele o papel de
disciplinador, além de outros papeis, como, por exemplo, colocar em
prática projetos que chegam à escola, sem uma devida análise,
avaliação e discussão sobre a viabilidade dos mesmos para os
alunos.
Necessita-se, então,
compreender e respeitar o pedagogo como o profissional que articula e
organiza o trabalho pedagógico na e da escola, garantindo a
coerência e uma unidade de concepção entre as diversas áreas do
conhecimento respeitando as suas especificidades.
A identidade e autoridade
do pedagogo como profissional vai sendo outorgada quando possui a
responsabilidade de discutir, refletir, buscar soluções coletivas
para as práticas pedagógicas. Isso implica conhecer com
profundidade a realidade em que a escola está inserida para poder
explicitar essa realidade nas contradições, nas necessidades do
grupo e agir, de forma organizada e planejada, junto ao conjunto de
profissionais da comunidade escolar.
A
atuação do pedagogo poderá ser encaminhada no anúncio de uma nova
proposta de ação que visualize e combata as estratégias de
alienação. Desafiar as concepções conservadoras de educação
exige que seja desvelada a ideologia contida e utilizada nos
discursos “ da proposta de gestão democrática – originada nos
movimentos dos trabalhadores da educação – para impor praticas
autoritárias e desumanas, em prol da manutenção dos privilégios
de uma minoria absoluta da população (...) detentora do capital
(Silva Junior, 1997. p. 9).
OFICINA
03 – 17 DE JUNHO - MANHÃ
ÁRVORE
DOS PROBLEMAS
|
ÁRVORE
DAS SOLUÇÕES
|
REFERENTE
AOS PEDAGOGOS
Desconhecimento
da real função do pedagogo
Falta
tempo para estudos
Resistência
de professores ao encaminhamento dos pedagogos
Falta
pedagogo na escola (quantidade insuficiente para atender a
demanda)
Realização
de outras funções, atividades e tarefas
Função
indefinida
REFERENTE
AO ALUNO E SUA FAMÍLIA
Falta
de acompanhamento da vida escolar pela família
Indisciplina
Falta
de limites
Agressividade
Alunos
sem perspectivas
Carência
emocional / afetiva
Atrasos
Não
uso do uniforme
Descaso
às normas
REFERENTE
AOS PROFESSORES
Falta
de comprometimento
Rotatividade
Falta
de professores
Formação
dos professores incoerente com a realidade
Comodismo
Falta
dos professores às aulas
Professores
despreparados
REFERENTE
À MANTENEDORA
SEED
não dá suporte às decisões da escola
Burocracia
que impede prática
|
REFERENTE
AOS PEDAGOGOS
Atuação
na especificidade da função
Espaço
para estudos em reuniões semanais
Parceria
de pedagogos e professores
Número
de pedagogos suficientes para atender a demanda
Realização
de atividades e tarefas compatíveis com sua função mediadora e
articuladora entre conhecimento, ensino e aprendizagem
Função
clara e definida no Plano de ação
REFERENTE
AO ALUNO E SUA FAMÍLIA
Família
acompanhando a vida escolar e conhecendo a escola
Disciplina
Limites
cobrados
Harmonia
Alunos
com perspectivas de futuro
Alunos
motivados
Cumprimento
de horário
Uso
do uniforme
Cumprimento
das regras
REFERENTE
AOS PROFESSORES
Compromisso,
ética e seriedade
Fixação
de padrão na escola
Substituição
rápida
Formação
continuada coerente com as necessidades dos professores e da
escola
Comprometimento
Disponibilidade
de professo substituto
Professores
preparados
REFERENTE
À MANTENEDORA
Suporte
pela SEED nas decisões da escola
Desburocratização
e facilidade nos acessos de melhoria
|
Os participantes dessa
oficina apresentaram como principal problema, do qual decorrer os
demais, embora não seja este a causa geral dos problemas escolares,
a realização de tarefas que não são pedagógicas.
As observações
apontadas pelos participantes ilustram os equívocos em relação às
atribuições do Pedagogo, ocasionados pela história recente de sua
pretensa profissionalidade.
Percebe-se claramente a
angústias por causa do deslocamento do foco de seu trabalho,
descaracterizando sua função e secundarizando o sentido do
pedagógico.
Evidencia em suas
colocações que o pedagogo é compreendido como burocrata,
disciplinador de alunos, fiscalizador de professores e/ou
profissional multitarefa.
Em função disso,
decorrem problemas de origem docente, discente, relações humanas,
stress, entre outros e a sensação de estar “fazendo, fazendo mas
não chegando a lugar algum”..
Diante desse quadro,
compreende-se que o pedagogo tem como desafio constituir sua
identidade profissional como intelectual orgânico dos processos
escolares e como cientista da educação, ou seja, um profissional
comprometido com a maioria da população dos trabalhadores, com a
promoção do acesso à educação. Para tal torna-se necessário
investigar, propor estratégias e alternativas para a melhoria do
processo ensino e aprendizagem.
Assim, a construção do
Plano de Ação torna-se peça essencial na articulação dessas
proposições e necessidades das escolas do setor, superando e
minimizando os problemas e atingindo os objetivos que podem ser
definido a partir das soluções elencadas.
De modo geral, o Plano de
Ação constitui num conjunto de ações educativas planejadas e
articuladas com o objetivo de definir o caminho a ser trilhado na
rotina do pedagogo. Cabe, nesse plano, a definição no coletivo dos
pedagogos, quais são as ações prioritárias e quais devem ser as
ações de rotina que caracterizam a ação pedagógica.
8.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao
desenvolver a Oficina junto a três grupos de pedagogos, atingindo
aproximadamente 120 profissionais, foi possível fazer levantamento
de inúmeras questões presentes no trabalho cotidiano desses
profissionais.
A
conquista da profissionalidade destes, exigirá, inicialmente, uma
tomada de consciência do próprio pedagogo diante da realidade.
Essa tomada de consciência se dará, por um lado, através da
sensibilidade, reflexão e ação em prol daqueles que hoje estão na
escola publica e que dela mais necessitam para sua humanização.
Isso demanda interesse em aprofundar-se nas questões da ciência da
educação, nas questões didático-pedagógicas e nas questões da
atualidade, para que possa fazer enfrentamentos necessários para a
transformação da escola em um espaço, não de reprodução e
manutenção do status
quo,
mas sim de oportunidades e possibilidades para todos a uma vida
social e produtiva digna.
Como
profissional da educação, que tem a função de coordenar,
organizar, promover, articular, mediar o processo educativo e
pedagógico, o pedagogo deve refletir sobre os problemas sociais e
educacionais, procurando, na coletividade, possíveis
encaminhamentos. Tudo isso é componente fundamental do Currículo
que compões os saberes do pedagogo. Articular isso junto aos
professores, faz emergir de modo mais profícuo as reflexões e
tomada de decisões a respeito do Currículo escolar.
Discutir
a respeito dessas questões como algo inerente a função do pedagogo
não constitui tarefa fácil, pois surge o risco de cometer
equívocos, pois é fundamental que o pedagogo e os demais
profissionais envolvidos com e no processo ensino e aprendizagem,
possam fazer a diferença quando sua formação for apuradamente
crítica, pela assunção consciente e profissional da união
indissociável entre a ação política e pedagógica, e entre a
teoria e a prática.
9. REFERÊNCIAS
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1990.
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Cortez, 1995.
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