Alexandro
Muhlstedt
INTRODUÇÃO
O presente texto é
resultado das atividades empreendidas no Grupo de Trabalho em Rede
(GTR) em 2011. O GTR/2011 constitui uma das atividades da Turma do
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE / 2010) e caracteriza-se
pela interação a distância entre o Professor PDE e os demais
professores da Rede Pública Estadual, cujo objetivo é a
socialização e discussão das produções e atividades
desenvolvidas. O grupo no qual este foi elaborado teve como tema “O
Pedagogo no desenvolvimento da práxis educativa no contexto
escolar”. O principal objetivo foi oportunizar aos cursistas a
participação em estudos e reflexões para a compreensão da práxis
do Pedagogo para as mudanças significativas no processo educativo.
Assim, apresenta pontos de vista sobre o pedagogo escolar, bem como a
descrição de vivência pela Equipe Pedagógica do Colégio Zardo.
1.
QUEM É O PEDAGOGO ESCOLAR
Desde que houve, por
parte da classe e do governo, a efetivação do pedagogo como
componente da equipe escolar na rede pública do Paraná, vem se
discutindo o seu papel e as implicações de sua atuação na rotina
escolar. Muito se diz, e vem sendo dito, sobre as incumbências do
pedagogo na escola.
Ocorre que, muitas vezes,
o pedagogo tem uma formação inicial deficitária, haja vista que,
por meio de pesquisas institucionais, constatou-se que uma parte
considerável dos estudantes de Pedagogia tem histórico de fracasso
escolar. E esses estudantes concluem o curso e acabam atuando nas
escolas de Ensino Fundamental e Médio. E muitas vezes essa atuação
tende a ser capenga, fragmentada, dissociada de fundamentação
teórica consistente, consequentemente forçando a uma ação
acrítica.
Nota-se no cotidiano da
escola que existem pedagogos que nem sequer possuem noção de
aspectos básicos da pedagogia para uma atuação adequada. Em
encontros de pedagogos (reuniões técnicas, jornadas pedagógicas,
formação continuadas, entre outras) ainda impera o senso comum, os
discursos fofoqueiros de temas referentes a alunos e professores, as
reclamações da falta de estrutura para trabalhar, as queixas da
falta de condições mínimas, o acúmulo de tarefas e,
consequentemente, por faltar espaço de tempo, a dificuldade em
manter uma discussão teórica sem cair no mero espontaneísmo e a
uma interpretação duvidosa do que seja a realidade escolar.
Desse modo, a equipe
pedagógica da escola acaba não "resgatando" o trabalho
competente e ético, nem constituindo a sua identidade de fato.
Infere-se desses fatos que, por haver deficiência na formação, os
profissionais desconhecem realmente quais as atribuições e
competências do pedagogo. Há prevalência de cultivar as amarguras
da profissão e as lamúrias de rotina desgastante, do que realmente
fortalecer a dinâmica de trabalho desse profissional.
Percebe-se que é
recorrente no discurso de pedagogos a expressão "apagar
incêndio" para ilustrar a rotina de seu trabalho. Há que se
considerar que é interessante e necessário haver uma definição
adequada para essa expressão, uma vez que muitos pedagogos
constituem sua identidade profissional "apagando incêndio",
justamente por não conseguirem realizar de fato as atribuições que
cabem a ele. Consolida-se desse modo um perfil de pedagogo somente
analisando as atividades "apaga incêndio" e isso
demonstraria a falta de posicionamento ético e realmente
profissional, coerente e adequado. Por isso, junto com respeito e
profissionalismo, é fundamental o reconhecimento e o fortalecimento
de uma identidade como articuladores dos aspectos pedagógicos e
humanos, trazendo clareza à função e dando a devida importância
para a atuação no âmbito pedagógico.
Sabe-se que o papel do
pedagogo escolar (da equipe pedagógica) é bastante claro e
substancial na legislação. Quando se observa nas escolas públicas
do Paraná, nota-se a presença do pedagogo em todas elas. E, se
perguntar para qualquer diretor sobre a possibilidade de administrar
a escola hoje, sem o pedagogo, certamente a resposta seria "não".
Pois bem, a reflexão que se torna necessária é: a quem está
servindo as ações do pedagogo que não são, a priori, de sua
alçada? Afinal, é grande a quantidade de tarefas outorgadas ao
pedagogo para as quais não é necessário ter formação em
pedagogia para resolvê-las. São as ações "apaga incêndio"
que impedem ou dificultam a atuação referendada em posicionamento
profissional adequado.
Como se sabe, o trabalho
do pedagogo está pautado nos princípios da gestão democrática e
participativa, tendo como referencial teórico a ética profissional,
a autonomia da escola, a atitude investigativa, a formação
continuada e a escola como ambiente educativo. Desse modo, é
importante estabelecer no interior da equipe pedagógica, elaborada
por todos os seus membros, uma organização do trabalho pedagógico
que fortaleça a ação profissional e crítica.
No caso da experiência
que ocorre no Colégio Professor Francisco Zardo - Ensino
Fundamental, Médio e Profissional, em Curitiba, na qual a equipe é
constituída por 10 pedagogos, foi organizado o Plano de Ação da
Equipe Pedagógica baseados nos seguintes itens:
1.Construção do projeto
político-pedagógico,
2. Implementação do
trabalho pedagógico no coletivo da escola (organização do espaço
e tempo escolar e da prática pedagógica),
3. Formação continuada
do coletivo de profissionais da escola,
4. Relações entre a
escola e a comunidade e
5. Avaliação do
trabalho pedagógico
A partir dessa
organização, as tarefas do cotidiano foram distribuídas entre os
membros da equipe, na qual cada pedagogo tornou-se responsável e
referência para cada um dos aspectos do Plano. Desse modo, a
teorização, análise e planejamento foram articulados com as ações
de rotina, “apaga incêndio” e imprevistos.
Enfatizou-se sempre a
linguagem em comum e as ações para os 03 turnos da escola e, para
manter a unidade de discursos e ações, há reunião semanal, toda
terça-feira, das 17h30 às 19h, juntamente com a direção e
secretária (que registra em ata), na qual se discutem e se definem
as ações da semana e do bimestre. Nesses encontros, ficam definidas
ações de Conselho de Classe, Reunião de Pais, eventos da escola,
Pautas de encontros pedagógicos com os docentes, partilha de
experiências, organização do calendário bimestral, levantamento
de soluções para os problemas pontuais, etc. Há uma dinâmica
própria do grupo, na qual cada membro assume as responsabilidades e
definição sua ação juntamente com seus pares. Desde o ano 2009
essa prática tem contribuído grandemente para fortalecer a
identidade e ações dos pedagogos nessa escola.
2. EXPERIÊNCIA E
REFLEXÃO
Ao longo dos anos de
atuação na rede pública, tenho tido a preocupação de, por meio
da minha ação pedagógica, melhorar a escola nos seus aspectos de
ensino aprendizagem. Há um discurso recorrente de que a educação
pública está péssima (e em alguns pontos tem razão), mas não
posso ficar concordando com isso e não fazer nada. Por isso,
juntamente com a equipe da qual faço parte, definimos bem onde
estamos e aonde queremos chegar, com o fim principal de melhorarmos
nossa escola e, consequentemente, nosso ambiente de trabalho.
Temos uma série de
desafios e problemas no Colégio Zardo, mas temos conseguido superar
muitos deles, dentre os quais os de violência, de drogas, de
pichações e de indisciplina (ainda que existam, porém em escala
menor que no passado recente). Ainda temos muito que melhorar, e o
trabalho sério que temos empenhado tem contribuído para nosso maior
entusiasmo para enfrentar a rotina. E é claro, o planejamento e a
clareza de ações são a chave para que nosso trabalho seja
percebido com o devido valor.
Como
na minha escola somos 10 pedagogos, cada um com suas ideias,
interesses, posicionamentos, direcionamentos, preferências, nos
reunimos semanalmente para reforçar nossa unidade. Para melhorar
nossa comunicação, temos o mural dos professores e da pedagogia, os
e-mails e um blog, no qual publicamos informações que é para
todos: conselho de classe, reunião de pais, atividades com alunos,
textos de assuntos da pedagogia, notícias da escola ente outros. O
blog é o www.pedagogiazardo.blogspot.com.
Com isso, fortalece-se a
certeza de que um trabalho coeso, sério e ético possibilita que nos
tornemos agentes ativos na construção de uma escola melhor, na qual
todos fazem a sua parte e, somadas, essas partes colaboram para
sermos mais felizes no trabalho.
Por fim, sendo o pedagogo
escolar o profissional que domina as formas de organização dos
conhecimentos constituídos historicamente e possibilita, por sua
ação clara e coerente, o acesso à formação cultural e social,
então nos resta fortalecer, enquanto equipe pedagógica, a
identidade e as ações detalhadamente descritas no Plano de Ação
da Equipe Pedagógica da Escola.
3. CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Historicamente, o
pedagogo sempre buscou seu "lugar ao sol", carecendo ainda
de inúmeras ações para realmente provar a que veio. Nota-se, com
certa angústia, o quanto o trabalho ainda é fragilizado e
fragmentado por perceber que as teorias de organização do trabalho
pedagógico ainda são baseadas num modelo ideal de educação,
muitos vezes não aterrizando no chão da escola, com todas as suas
contradições.
Infelizmente, as dores da
prática na escola pública, deixadas de lado por serem senso comum
ou simplistas, estão aí, conectadas há anos na pele da pedagogia,
sem a devida importância. Por isso, acaba que não realizamos uma
função para a qual tem-se a formação, e assume, pouco a pouco, a
insensatez da realidade que retrata e reproduz na escola a tragédia
social que se vive. Ainda bem que, pelo menos, tem havido espaço
para partilha e busca de alternativas para construir realmente uma
identidade.
Evidentemente, trabalhar em equipe grande é bem interessante. Há grandes desafios, como estabelecer consensos em determinadas questões e cuidar para que a linguagem em comum aconteça. Afinal, como no Colégio Zardo são 10 pedagogos, sendo também uma multiplicidade de ideias, de interesses, de posicionamentos, de direcionamentos, de preferências, de história e vinculação pessoal com a educação pública. Porém, as discussões e os acordos fazem com que se tenha uma unidade de ação e, assim, torna-se possível organizar tudo para fazer o trabalho pedagógico deslanchar como tem de ser. Os encontros que ocorrem às terças-feiras contribuem muito para isso.
Evidentemente, trabalhar em equipe grande é bem interessante. Há grandes desafios, como estabelecer consensos em determinadas questões e cuidar para que a linguagem em comum aconteça. Afinal, como no Colégio Zardo são 10 pedagogos, sendo também uma multiplicidade de ideias, de interesses, de posicionamentos, de direcionamentos, de preferências, de história e vinculação pessoal com a educação pública. Porém, as discussões e os acordos fazem com que se tenha uma unidade de ação e, assim, torna-se possível organizar tudo para fazer o trabalho pedagógico deslanchar como tem de ser. Os encontros que ocorrem às terças-feiras contribuem muito para isso.
Trabalhar sozinho é bem
puxado e desgastante. Mesmo a escola sendo pequena, as obrigações
de pedagogo devem ser cumpridas. Sendo sozinho, realmente o trabalho
fica bem extenuante; ainda mais se tiver que cumprir outras funções.
Acaba sendo um trabalho solitário. E seja como for, é sempre bacana
ter por perto um companheiro para trocar ideia e tomar juntos a
decisão nalgum caso com aluno, professor, família, etc. Seja como
for, vale mesmo a postura clara e o trabalho sério do pedagogo para
implementar as melhorias na escola.
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