Alexandro Muhlstedt
Na função de Diretor
auxiliar do turno da tarde no Colégio Estadual Professor Francisco
Zardo, localizado no tradicional bairro de Santa Felicidade, em
Curitiba, desenvolvi uma atividade de comunicação com os pais via
e-mail. A ideia nasceu a partir do Show de Talentos, ocorrida no
final do mês de agosto de 2012, na Semana de Integração Família e
Escola, no qual os pais realizaram apresentações artísticas aos
alunos do turno da tarde. Nessa atividade surgiu a ideia de manter
contato mais próximo com as famílias, de modo mais eficiente: a
troca de mensagens via e-mail com intuito de estreitar as relações
e facilitar a comunicação.
No mês de setembro
realizei, juntamente com a Equipe Pedagógica, Professores e Alunos
monitores de classe, o levantamento dos e-mails dos pais dos alunos
do turno da tarde. Essa lista propiciou o envio de informações e
esclarecimento de dúvidas, num canal aberto e direto, entre a escola
e os pais.
No mês de outubro tive a
ideia de enviar um pequeno texto para o e-mail das famílias
cadastradas no grupo como forma de fomentar a leitura e a reflexão
sobre um tema educacional. O texto foi enviado no dia 24 de
outubro de 2012 e tinha como título: “Aescola hoje e os
alunos que não aprendem” de autoria de Roberto Leal Lobo
e Silva Filho, publicado originalmente no Jornal Folha de São
Paulo, em 23 de outubro de 2012. Trata-se de um ponto de vista
em que o autor, professor titular aposentado do Instituto de
Física de São Carlos da USP e ex-Reitor da USP, presidente
do Instituto Lobo, expõe de modo bastante lúcido a necessidade
de questionar alguns paradigmas da educação brasileira, que muitas
vezes impedem a real aprendizagem e desenvolvimento dos
alunos.Entre várias passagens, o autor menciona o livro “A Escola
dos Bárbaros” de Isabelle Stal e Françoise Thom, publicado
em 1987. Segundo as autoras, a falta de disciplina nas escolas
reflete uma sociedade que “adota o prazer como o ideal, em todas as
direções - para tal sociedade, o objetivo da civilização é se
divertir sem limites”. Ou seja, a escola teria
desistido de conduzir os jovens à vida adulta.
O autor então, defende a
destruição de alguns paradigmas na educação escolar como a
qualidade do trabalho em grupo; afrouxidão e a
permissividade em vez de disciplina e cobrança; a valorização
dos pesquisadores de banalidades; entre outros, deixando o
questionamento sobre a necessidade do estudo persistente e a
valorização do conteúdo.
Para minha surpresa,
inúmeros pais enviaram respostas sobre as reflexões realizadas a
partir desse texto. Com isso, percebi que aquela forma de comunicação
poderia ser um modo fecundo de conhecer os pontos de vista das
famílias sobre a educação e sobre como a escola desenvolve
seu trabalho.
Muito
bom esse texto e retrata realmente o que as escolas estão passando
hoje em dia... Deve ser muito difícil para os professores terem
que "educar" as crianças quando o trabalho deles
deveria ser o de "ensinar", pois acho que a educação deve
vir de casa... Infelizmente, as pessoas estão cada vez mais mal
educadas e por qualquer coisinha discutindo umas com as outras e as
crianças achando que isso é normal! (…) Admiro a forma como
vocês vem tratando de vários assuntos nas reuniões e o trabalho
que vem sendo feito para melhorar a escola.
(Sra.
Deise Cristina Caron)
Acho
muito importante a participação dos pais nesta fase escolar onde
estão desenvolvendo caráter e suas companhias são muito
influenciadas. Converso muito com minha filha e acho muito importante
a presença dos pais na escola.
(Sra.
Juliana da Cruz)
Em
relação ao texto teria muito a comentar, pois o assunto e polêmico,
acredito também que a educação está em crise, a família
está em crise .....o que vemos hoje noticiados nos jornais e TV nos
revolta mais. Como brasileira acredito que tudo pode mudar se
cada família cuidasse melhor de seus filhos, não tendo medo e
nem vergonha de serem pais quadrados e ultrapassados, temos que
mostrar para nossos filhos que estamos atento a tudo o que fazem ,
sendo mais enérgico nas cobranças de suas obrigações mostrando a
eles que sem dedicação nada sai bem feito , e que o maior
patrimônio é o conhecimento. Também temos que sempre ser
bons exemplos, não e tarefa fácil hoje criar um filho mas não
podemos desistir, relaxar, deixar que outros os façam. A obrigação
da criação e da educação é
dos pais. Cada uma fazendo a sua parte, teremos homens e mulheres de
bem.(...)
(Sra.
Scarleth Lara Hein Stival)
Quanto
a sua mensagem é uma pena que o ensino está chegando a esse ponto,
ele está se tornando precário. Em uma sala de aula com 35 alunos
são poucos que se salvam com vontade de estudar, sempre falo
para o meu filho que ele tem que ter vontade própria para ir à
escola, não forço ele à nada apenas converso e muito com ele. Ele
sabe que mais tarde ele tem que ter uma profissão e que a escolha
vai ser dele, e assim ele tem que ser bom aluno que o currículo
escolar é a base de tudo e o aprendizado na
escola é muito importante então falo para prestar atenção na sala
de aula. Em casa existem regras,
hora de brincar, de estudar, no computador, no videogame, de comer e
de descansar. Ele sabe de tudo. Tem dias que ele reclama e muito da
bagunça da sala de aula, ele tem faltas na chamada mas o professor
não ouve ele responder, ele também comenta da falta de interesse
dos alunos não estão nem aí para nada. (…) Acho que para ser bom
aluno hoje em dia o pai tem que estar muito presente, cuidando, dando
atenção e a par de tudo que acontece na escola.
(Sra.
Maristela Guimarães)
Em
primeiro lugar, parabéns pela atitude de vocês para manter contato
com os pais, pois os problemas da escola estão cada vez mais ligados
às dificuldades de aprendizado e à qualidade de ensino das escolas.
Com relação ao texto, a escola de hoje está utilizando e recursos
para evitar a evasão escolar e manter os alunos fora de riscos do
contato com drogas. Dessa forma é que se perde o foco das
disciplinas devido ao desinteresse do aluno ao estudo pela falta
de cobrança das próprias famílias. A escola não pode fazer as
duas partes, o interesse pelo estudo deve iniciar dentro de casa
com acompanhamento e diálogo.
(Sr.
Homero)
Parabenizo
a todos que tiveram a iniciativa do contato via e-mails, uma atitude
muito positiva, pois em uma atualidade onde o tempo é muito curto,
essa distância entre pais e escola fica reduzida com tal conduta.
Muito bem colocado o texto em questão, sempre fui adepta da frase
que 'o mal só existe, porque os bons não fazem nada', ou seja
de uma maneira geral o que tenho visto é simplesmente pessoas
fechando os olhos para os problemas (para que confrontar se podemos,
desviar), e , essa postura é geral, mas ela se torna imperdoável
com relação aos nossos filhos/alunos. Vejo pais deixando aos
professores, responsabilidades que não há, e da mesma forma, vejo
professores passando à equipe pedagógica e diretoria
responsabilidades em excesso...Me refiro de uma forma geral, não
especificamente a uma instituição de ensino, infelizmente muitos
dos bons valores vem se perdendo pelo caminho da educação, e é
óbvio que de onde deveria vir o maior apoio e atitudes que fariam a
diferença, não há o menor interesse, me refiro aos nossos
respeitáveis dirigentes, respeitáveis e espertos (para que
educar uma nação, se manipulá-los é muito mais lucrativo)... Mas
acredito que precisamos encontrar um caminho, nós, precisamos nos
comprometer com uma causa e começarmos(...)
(Sra.
Maria Cristina Mayer)
A
escola é a segunda casa dos alunos e também dos professores,
deveria ao menos ser respeitada. Existem muitos alunos que não estão
nem ai para os estudos, enfim não estão nem aá para a vida. Também
temos professores que muitas vezes não se preocupam com o ensino, só
que saber do 'emprego e salário no final do mês'. Enfim
professores fazem de conta que ensinam e alunos fazem de conta que
aprendem. Não adiante só cobrar do estado, se a família não faz
seu papel, que é dar educação de berço e principalmente respeito.
Vocês profissionais do Colégio Zardo estão de parabéns pelo
estilo de ensino, sempre conversando com os pais em reuniões,
fiscalizando os alunos inclusive na entrada do colégio; mas enfim
quando lidamos com pessoas, principalmente os jovens sempre é
difícil porque eles sempre acham que são donos da verdade. A escola
está ai
acessível para quem quer aprender, basta o aluno querer aprender, ou
não, mas as vezes a vida acaba ensinando que forma mais cruel.
(Sr.
Jociel Ruppel)
Recebi
seu e-mail, acho que tem sim que impor limites aos alunos, se eles
fazem o que querem agora o que farão no futuro? Nem todos irão
conseguir trabalhar com o que gostam. Vão ter que sempre obedecer
alguém, hoje pais e professores, amanhã o patrão ou o cliente....
De qualquer forma há limite para tudo na vida, existem regras, leis
e obrigações... Quando se tem a idade deles, achamos que tudo que
estudamos é inútil, já passei por isso, hoje vejo isso no meu
filho, porque ele não está pensando no futuro, só no que é
divertido agora... Quando vamos tendo mais experiência de vida, aí
sim damos mais valor no que já passou, daí que diferença isso faz?
Já passou, não dá para voltar no tempo, a única coisa é tentar
passar o que aprendemos aos nossos filhos os quais não estão
interessados. Eu acho que a escola pode continuar sendo como antes,
mas de uma maneira que envolva os alunos, o professor interagindo com
eles e não simplesmente só falando sem que eles entendam o
assunto. (…) Não adianta deixar o aluno fazer o que quer, ao
mesmo tempo o professor não precisa ser alguém que eles tenham
medo, mas sim respeito e admiração...
(Sra.
Elisangela)
Adorei
a ideia de mandar estes e-mails, li e gostei muito,inclusive quero
ler este livro que é citado. Também concordo com o que diz no
texto. É muita frouxidão mesmo, a culpa é da nossa geração
que foi cobrada, e que achava isso chato, não querendo fazer o mesmo
com os filhos estragamos muito deles, demos demais e cobramos
pouquíssimo, e acho que vai levar muito tempo para isso ser
consertado”.
(Sra.
Raquel)
Infelizmente
a qualidade no ensino é algo questionável, também a falta de
interesse e comprometimento da parte dos alunos, pais e até mesmo
dos professores. Talvez o erro esteja em cada "um" deixar
de fazer a sua parte. Onde o aluno deveria ser aluno, e se preocupar
em aprender. Onde os pais deveriam ser pais e orientarem seus filhos,
ensinarem seus filhos o significado da palavra "respeito"
pelo professores, pelas pessoas que trabalham na escola, pelos seus
colegas de classe, e principalmente por si mesmo. Onde os professores
também deveriam fazer a sua parte, honrar a sua profissão, que fora
escolhida a dedo dentre tantas outras profissões e se preocuparem
não somente com o aumento dos seus salários, mas com o
resultado do seu bom trabalho. O problema é que o Brasil é
totalmente capitalista, e as pessoas são individualistas. Costumam
se unir somente em função do dinheiro. O pai se preocupa em pagar a
escola (quando particular), ou se preocupa com que o filho vá para a
escola mas muitas vezes nem tem a certeza de que ele realmente foi,
ou nem sabe como anda a aprendizagem, as notas, por não ter o hábito
de separar um tempo para as reuniões do colégio. O aluno se
preocupa em ter "objetos" iguais aos dos seus colegas, em
ganhar celular, computador, mas acabam esquecendo a regra básica do
respeito e educação, que é a de saber usar no momento devido e não
no momento em que bem entendem, vindo a atrapalhar a aula, passando
por cima da autoridade dos professores e as vezes até contando com a
proteção excessiva dos pais. Esquecem a sua função de aluno, a de
aprender, adquirir conhecimento para o seu próprio beneficio. E os
professores muitas vezes sabem que o conteúdo não é o
melhor, que os métodos de ensino impostos pelo governo, não é o
mais adequado, mas assim como o aluno, como os pais, como tantas
outras pessoas no mundo, acabam cruzando os braços porque o
interesse prioritário é lutar por causas individuais.
(Sra.
Josiane Tulio)
Concordo
com o texto, de um modo geral o que interessa é estar na escola, a
maioria dos pais não se preocupam com o que os filhos estão
aprendendo, se realmente estão aprendendo, acham que o fato de
estarem frequentando as aulas já é o suficiente. Particularmente
acredito que deveria haver mais cobrança, acompanhamento por parte
dos pais,
que realmente os estudos fossem levados a sério, fosse um
compromisso entre pais e filhos, não como uma obrigação árdua,
mas que os pais tentassem despertar o interesse dos filhos em
estudar, em alimentar-se de conhecimento...em muitos momento da vida
nos surgem dúvidas de como escrever, como falar, como agir, e este
período escolar é o momento em que os alunos deveriam carregar-se
destas informações, tirar suas dúvidas e com auxílio da família
carregar sua bagagem intelectual para vida... Quem leva os
estudos a sério tem maior facilidade para viver, pois cada matéria,
além de suas funções profissionais também trazem respostas de
comportamento para o dia a dia,a escola é um complemento para a
educação, para formar não apenas conhecedores das disciplinas, mas
de seres humanos melhores. Tento acompanhar meus filhos,
auxiliando-os, incentivando, pois é a minha função, no mundo atual
que vivemos existem muitas coisas que dispersa o interesse nos
estudos e cabe a nós pais resgatar a importância disso”.
(Sra.
Tatiany Miola)
O
texto é um incentivo e ao mesmo tempo uma cobrança de pais alunos e
professores, faz uma crítica ao modo como os pais estão educando os
filhos e ate mesmo a forma que os professores tratam os alunos. Hoje
em dia tem muitos pais que não querem saber de ajudar os filhos de
ensinar, acham que é só largar na escola que os professores vão
cuidar e educar. Mas não é bem assim, temos que conversar muito com
os filhos, impor regras. Tenho dois filhos, tento passar para eles a
educação que recebi dos meus pais, e hoje em dia os alunos não tem
a mesma força de vontade de estudar como antigamente. Mas por outro
lado o texto mostra a qualidade do trabalho em grupo, as atividades
sociais.
(Sr.
Carlos Santi)
Diante disso, a
iniciativa mostrou-se peculiar em receber as opiniões dos pais, os
quais puderam, além de opinar sobre o texto, também apresentar suas
reflexões sobre a educação como um todo. Essa aproximação, e
essa relação mais próxima, contribui grandemente para articular
ações na escola que levem em consideração o que pensam os pais e
o que esperam da educação escolar para seus filhos.
Nesse ponto, torna-se
possível articular com mais cumplicidade um plano de atividades e um
conjunto de metas em que todos os posicionamentos poderão ser
considerados, neste caso, a opinião, os anseios e as expectativas
das famílias.
Partindo do princípio
que cabe à família o papel de cuidar e educar bem as crianças e a
escola cabe cuidar da educação formal (sistemática) e promover o
desenvolvimento físico, social, intelectual, emocional, moral e
afetivo dos alunos é que busquei desenvolver a integração de ambas
as instituições (família-escola) utilizando, além de outros
meios, também essa forma de comunicação: a troca de informações
e esclarecimentos de dúvidas pelo e-mail.
Finalmente, aproximar-se
das famílias dos alunos, interagindo e criando espaços alternativos
de diálogo, considerando o problema dos pais em comparecer com mais
frequência à escola, é uma ação fundamental que contribui para a
melhoria no desempenho, no rendimento e na aprendizagem do aluno. Eis
o grande objetivo da escola!
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
AQUINO,
J. G. A indisciplina e a escola atual. Revista da Faculdade de
Educação. v. 24, n. 2, São Paulo, jul/dez. 1998a.
DIOGO,
J. Parceria escola - família: a caminho de uma educação
participada. Porto: Porto Editora, 1998.
MALAVAZI,
M. M. S. Os pais e a vida escolar dos filhos. 2000. 320 p. Tese
(Doutorado em Educação). Campinas: Faculdade de Educação,
Universidade Estadual de Campinas, 2000.
OSÓRIO
L.C. A família hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
PARO,
V. H. Administração escolar e qualidade de ensino: o que os
pais ou responsáveis têm a ver com isso? In: BASTOS, J. B.
(Org.). Gestão democrática. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A: SEPE,
2001. p. 57-72. (Coleção O Sentido da Escola).
SILVA
FILHO, R. L. L. A escola hoje e os alunos que não aprendem.
In: Jornal Folha de São Paulo, 23 de outubro de
2012. Disponível
em:http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/73507-a-escola-hoje-e-os-alunos-que-nao-aprendem.shtml
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