Ana Sueli Ribeiro Vandresen
Muito se tem falado sobre a importância da universalização da educação. Entretanto, sabe-se que não basta promover o acesso de todos à educação. É preciso que se dê condições para aqueles que nela se inseriram, permaneçam usufruindo de seus ensinamentos.
A transposição da quarta para a quinta série se constitui num estrangulamento dessa permanência, apresentando-se como momento onde novos elementos complexificam as práticas vivenciadas por alunos e professores. Esta passagem foi identificada, por um grupo de professores integrantes do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, da Secretaria de Educação do Paraná - SEED, como um dos fatores da evasão e reprovação na quinta série.
Esse grupo, constituído de doze professores titulados, integram via PDE, no Núcleo da Área Metropolitana Norte, o projeto SUPERAÇÃO, da SEED, visando diminuir os índices de evasão e repetência das escolas. Isto posto, neste trabalho busca-se refletir sobre esse momento da vida do estudante, embasado em autores como Bossa (2000), Eizirik (2001), Focault (2003) e Neves & Almeida (1998), para se propor um olhar diferenciado para esses alunos.
A transposição da quarta para a quinta série é apresentada, por diversos autores, como um período de transformações e desafios para o aluno.
Entre elas, ocorre a mudança de ambiente, pois o sistema adotado para o ensino fundamental, onde suas série iniciais (1ª a 5ª) são de competência do Município, enquanto as finais (6ª. a 9ª) competem ao Estado, predispõe a essa ruptura física. Porém, não ocorre apenas uma mudança física-espacial. Segundo Bossa (2000) a entrada para a quinta série, representa o desejo de crescer, a conquista de nova identidade e promessa social, como também, promove a dor que esse crescimento traz ao aluno. O novo espaço ao qual a criança necessita se adaptar é um ambiente onde uma profusão de emoções, movimentos, sons se misturam, constituindo uma vida escolar diferente da anterior.
Ouvindo os envolvidos e observando os “lugares de encadeamento do que se diz e do que se faz, das regras que se impõem e das razões que se dão” presentes nessa passagem, segundo Foucaut, pode-se identificar o surgimento de práticas diferentes na vivência dos alunos (2003).
Segundo Eizirik (2001), a escola é um espaço de trocas afetivas e intelectuais, de socialização, desenvolvimento de potencialidades e aprendizagem de regras culturais.
Desta forma, nesta passagem manifestam-se práticas promotoras do desenvolvimento de aspectos pessoais até então desconhecidos. Além disso, ocorre a necessidade de rearranjar os componente antigos, agora associados a elementos novos na constituição de um novo contexto escolar, um novo período, “um momento de dificuldades, não alegrias, e fragilidade no desempenho escolar” (Rangel, 2001).
Isto faz necessária a percepção dos elementos aí articulados, para se propor novas atitudes de professores e direção escolar, pautadas em um novo olhar que considera a sensação descrita por alunos, professores e pais de que algo diferente acontecerá a partir da quinta série. Leonço (1997) afirma que a vida dos adolescentes na quinta série é uma gangorra oscilante, ocasionada pelas mudanças de atitudes; as alterações de humor e a convivência com diferentes professores possibilitam ao aluno a construção de novas formas de ser relacionar com o conhecimento, sendo responsável por sua ação.
Desse movimento emerge “um sujeito que, pelo menos afetivamente, já começa a demonstrar ‘reformulações’ diante do seu grupo familiar e escolar” (p.294). A passagem da quarta para a quinta série é apresentada pela literatura como um momento de transições e adaptações difíceis para o aluno Essa passagem, fruto da sociedade moderna, assemelha-se ao ritos de passagem indígenas, ou seja às cerimônias que marcam a passagem de um indivíduo de uma fase do ciclo para outra. Como esses rituais, esta transposição pressupõe a aplicação de maus tratos, traduzida pela impaciência de muitos professores com seus alunos, de dor e, naturalmente, temor e ansiedade aos envolvidos.
Assim sendo, necessita ser refletida pelos educadores para não ser vista como uma hostilidade latente entre dois grupos distintos: o que pratica e o que sofre os maus tratos, cujos membros, por sua vez, iniciam-se no caminho que os incorporará à categoria do primeiro, ou seja, as crianças iniciam-se no mundo dos adultos.
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