quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

HISTÓRIA DE CURITIBA 2

Curitiba - Das origens ao século XVIII
Até meados do século XVII, quando teve início a colonização portuguesa do Brasil meridional, a região que atualmente compreende o Estado do Paraná era habitada por diferentes grupos de povos indígenas. Esses grupos, compostos por guaranis, caingangues e xokleng, ocupavam uma grande extensão da floresta atlântica que avançava pelas vertentes orientais da serra do mar, acompanhando o curso dos rios que correm para oeste, como o Rio Grande, o Tietê, o Paranapanema, o Ivaí e o Iguaçu.
Nos espaços ocupados, de maneira transitória, pelos diversos grupos indígenas, foram levantados os primeiros povoamentos portugueses no planalto curitibano. A formação desses pequenos núcleos teve início quando a região começou a ser explorada por bandeirantes que aqui chegaram pelos caminhos de Peabiru para caçar índios e procurar ouro.
Uma dessas primeiras bandeiras teve como integrante Baltazar Carrasco dos Reis.
O conflito pela ocupação da terra, e a conseqüente aproximação entre colonizadores e autóctones, resultou em comportamentos diferenciados por parte dos indígenas. Enquanto os guaranis, mais receptivos à colonização portuguesa, fizeram deste relacionamento uma arma para ampliar seus espaços frente aos xokleng e caingangues, que eram seus inimigos na ocupação territorial, estes últimos se embrenharam nos sertões.
Embora a história oficial tenha, de modo geral, dado pouca importância à participação dos indígenas na ocupação do território paranaense, as duas versões existentes para explicar a origem do nome Curitiba é a eles atribuída:  
Kurí'ýtýba - que teria como significado "pinheiral", é uma contribuição dos guaranis, enquanto Kuri- ti, cuja tradução literal seria "Depressa vamos!", é de origem caingangue e se refere à saída do grupo do planalto curitibano frente à colonização portuguesa.
A ocupação portuguesa dos campos de Curitiba teve início em 1649, quando o Administrador das Minas, Eleodoro Ébano Pereira, organizou, a partir de Paranaguá, uma expedição em direção ao planalto curitibano e registrou a existência de ouro naquele local. Após o registro do surgimento de uma pequena povoação às margens da antiga Vilinha (Atuba), feito por Ébano Pereira durante a segunda inspeção ocorrida em 1650, as autoridades portuguesas tomaram conhecimento da pequena localidade. 
Dezoito anos depois, em 1668, ocorreu a tomada de posse da povoação por Gabriel de Lara, em nome do donatário da capitania, Marquês de Cascais. Nesse mesmo ano, Mateus Leme, morador da povoação desde 1661, foi nomeado capitão-povoador; em seguida, foi erigido o Pelourinho, símbolo do poder e da justiça. No final do século XVII a povoação de Nossa Senhora da Luz e Bom Jesus dos Pinhaes contava uma população de 90 homens. Muitos deles haviam construído suas casas ao redor da capelinha existente no centro da atual Praça Tiradentes. O crescente aumento da população exigia o estabelecimento de regras que normatizassem a vida em sociedade. Para resolver a situação social, bastante caótica, alguns moradores solicitaram, através de requerimento, a realização de eleições e a criação da Justiça e da Câmara. Assim, foi criada a Câmara e reinstalado o Pelourinho, em 1693, e a povoação recebeu o predicado de Vila. 
Com essas medidas, os aspectos fundamentais de fundação de uma vila estavam efetivados. No entanto, naquela época era comum que as vilas ou cidades fundadas passassem a ser correcionadas pelos ouvidores, ou outros funcionários ligados ao reino português. A função desses ouvidores era reunir o conjunto documental composto pela ata de fundação e pelas primeiras ordenações (normas). Para tanto chegou à vila, em 1721, o ouvidor Rafael Pires Pardinho. Nas suas informações dizia que a comunidade vivia num raio de apenas sete léguas, ao redor da vila. A partir desse limite "existiam infinitos campos, que eram desconhecidos, para os lados de oeste e do sul, e que só para o norte da vila, ao longo da estrada que ligava Curitiba a S. Paulo, existiam algumas fazendas de criação de gado, de propriedade de habitantes de Paranaguá e de S. Paulo". (BALHANA, 1969:62). 
Ao Ouvidor coube demarcar o Termo e detalhar as indicações precisas que orientassem o crescimento da vila, bem como dar instruções para o correto funcionamento da justiça e estabelecer normas de bem-viver. As habitações eram construídas com materiais encontráveis ao redor da vila como madeira, barro, taquara e pedra. Para ordenar a apropriação desses materiais, era considerada, de domínio público a faixa de uma légua de terras além do rocio . No que se refere à definição espacial, as ordenações do ouvidor Pardinho evidenciavam a preocupação do estado português com a ocupação ordenada do solo urbano. As ruas deveriam ser contínuas e retilíneas e as edificações contíguas, resultando numa quadra compacta que impedisse a possibilidade de pátios ou corredores laterais, de forma a garantir a segurança dos habitantes.
"Os provimentos de número 40, 41 e 42 reforçavam ainda mais os delineamentos das ruas e das quadras, enfrentando a questão das habitações em ruínas e dos terrenos desocupados." (CÂMARA, 1992:19).
Além disso, a vila deveria comportar apenas atividades comerciais, artesanais e religiosas. Aos agricultores estavam reservadas as áreas do rocio. Tais atitudes evidenciavam a imposição de uma espacialidade urbana à população, bem como delineavam a separação entre a cidade e o campo.
Outra preocupação das autoridades com a ordenação do território era a necessidade de manutenção de caminhos e pontes. Para a solução dos problemas administrativos, contava-se muito mais com a cooperação dos moradores do que com a arrecadação de impostos. "A limpeza das ruas e dos riachos que cortavam a vila, era obrigação dos vizinhos.

A conservação dos caminhos também era contribuição direta das propriedades." (BALHANA, 1969:40) Pouco tempo depois da visita do Ouvidor Pardinho, foram assinalados os caminhos em direção a São Paulo, ao Sul e ao litoral.
Em 1731, com a abertura da estrada do Viamão, ligação entre o Rio Grande e Sorocaba, houve o início do tropeirismo. A utilização dessa via para o transporte de tropas de gado e mulas vindas do Sul, passando pelos campos de Curitiba, trouxe grandes transformações para as localidades existentes às margens da estrada.
Em meados do século XVIII, o distrito de Curitiba possuía 2.500 habitantes e 348 casas, conforme consta no Livro Tombo da Matriz. Em 1780, já contava 3.194 habitantes, dos quais 848 eram escravos.

Nessa época, faziam parte do distrito, além da vila e do rocio, mais de uma dezena de localidades, entre as quais estão alguns bairros de Curitiba.
 

 Curitiba no século XIX: a cidade dos viajantes e das primeiras medidas urbanísticas
No início do século XIX Curitiba ainda era acanhada, embora a economia do gado e da erva-mate (que começava a ser exportada para o mercado do Prata) trouxessem um novo aspecto à vila. A partir de 1812, a cidade ascendeu à condição de sede da recém-criada comarca de Paranaguá e Curitiba. Cinco anos depois a população do distrito somava aproximadamente 10.500 habitantes. 

No início da década seguinte, a descrição feita pelo botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, que veio para o Brasil em 1816 e aqui permaneceu até 1822, evidencia uma cidade ainda tímida, de forma quase circular, com duzentas e vinte casas pequenas cobertas de telhas, quase todas de pedra e com apenas um só pavimento. Na época, Curitiba era uma pacata cidade, tão deserta no meio da semana, quanto a maioria das vilas do interior do Brasil: "...como em muitos outros lugares, quase todos os seus habitantes são agricultores que só vêm à cidade nos domingos e dias santos, trazidos pelo dever do ofício divino." (SAINT-HILAIRE, 1995:107)
As ruas, no entanto, eram largas e bastante regulares, algumas pavimentadas, outras calçadas apenas diante das casas, e a principal praça pública (Tiradentes) ainda era coberta por um relvado. 

Das três igrejas, destacava-se a Matriz, construída isolada a um canto do principal Largo, o que, na opinião do viajante, prejudicava a harmonia e a regularidade do cenário.
Entre os chamados artigos de exportação, o viajante também menciona certa quantidade de gado que Curitiba vendia a São Paulo ou ao Rio de Janeiro. Segundo Romário Martins, entre 1820 e 1838, as casas estavam "distribuídas com grandes claros, pela rua de São Francisco, Páteo da Matriz, ruas do Louro [Barão do Serro Azul], do Chafariz [José Bonifácio], Direita [Treze de Maio], Allegre, Baptizada, da Entrada [Emiliano Perneta], das Flores, do Commercio [Marechal Deodoro]". (MARTINS, [1922?]:163)
No final da década de 1820, Curitiba foi retratada pela primeira vez pelo pintor Jean Baptiste Debret, e no início da década seguinte, chegaram os primeiros imigrantes alemães vindos de Santa Catarina.
Em fevereiro de 1842, Curitiba é elevada à categoria de cidade. No entanto, a mudança mais significativa teve lugar somente na década seguinte, em 1853, quando o Paraná se tornou independente de São Paulo e a Província nascente teve que se adaptar a uma série de exigências do Império para a sua transformação política-administrativa.
Entre estas medidas estava a adequação de Curitiba à condição de capital. Dentro dessa dinâmica, já em 1857, o engenheiro francês Pierre Taulois fez recomendações quanto ao traçado e alinhamento da ruas existentes na Vila. Sobre a Rua da Graciosa (atual Barão do Serro Azul), por exemplo, apontou: "esta rua no seu prolongamento vai encontrar a Estrada da Marinha nas proximidades do Rio Belém (...) não tendo casas até agora, nada tem a mudar-se basta conservar o paralelismo". (MARTINS, [1922?]:175)
Entre suas diversas recomendações, Taulois sugeria à administração pública que, quando autorizasse futuras construções, respeitasse o plano de prolongamento das ruas.
Nessa época, passou por Curitiba o médico alemão Avé-Lallemant, que definiu a cidade como tendo dupla natureza. Na primeira, ele nada via de grandioso, ainda era a velha Curitiba de um tempo anterior à sua elevação como capital. Nela se viam ruas não calçadas, cantos sujos e praças desordenadas. Na segunda natureza, no entanto, expressava-se decisiva regeneração, e a cidade marchava "com energia para um novo desenvolvimento". (AVÉ-LALLEMANT, 1980:273)
Embora animador, o desenvolvimento apontado pelo médico veio lento.
Na década de 1870, outro viajante, o engenheiro Bigg-Wither, comparou Curitiba a um aglomerado de tendas e cabanas, formando um acampamento prestes a receber ordem para partir, dado o costume de pintar quase todas as casas de branco. Apesar das descrições do engenheiro, lê-se, ao longo do XIX, nos relatórios de Presidentes de Província e de médicos sanitaristas, a preocupação com a cidade e o seu crescimento. Nesse período, chegam as primeiras grandes levas de imigrantes e a cidade passa, no final do século, pelo primeiro surto de desenvolvimento. Além dos alemães, reimigrados de Santa Catarina, que já povoavam o espaço urbano e arredores desde a década de 1830, outros grupos de imigrantes de composição bastante heterogênea também se estabeleceram nas colônias ao redor de Curitiba a partir da segunda metade do século XIX.  
A política imigratória no Paraná, notadamente a partir de Lamenha Lins, procurava, com a instalação desses imigrantes camponeses nos arredores da cidade, solucionar o problema de abastecimento, incrementando a agricultura de subsistência e a produção de hortigranjeiros.
Entre eles estavam italianos, poloneses e ucranianos e, em menor número, russos, franceses, austríacos, holandeses e suíços. (BALHANA, 1969: 184) Esses grupos se estabeleceram, principalmente na região norte da cidade, em antigos quarteirões (Pilarzinho, Ahú, Mercês, Bacacheri) e em colônias criadas especialmente para abrigá-los (Abranches, Santa Cândida, Dantas, Orleans e Santa Felicidade). O crescimento desordenado, principalmente, em regiões próximas ao centro de Curitiba, era rigorosamente fiscalizado pela municipalidade.
Em 1885, o engenheiro Ernesto Guaita foi contratado para organizar um levantamento da cidade e do rocio, visando prevenir a expansão descontrolada. Na época Guaita estava encarregado da concepção do arruamento de Curitiba entre a estação ferroviária e o centro urbano.
A década de 1880 foi marcada por grandes transformações no cenário urbano. Além da Estrada de Ferro, foram inaugurados também o Passeio Público, o Teatro São Theodoro, a Santa Casa de Misericórdia e a primeira linha de bondes.
Em novembro de 1895, o prefeito Cyro Velloso decretou uma mudança no Código de Posturas Municipais de Curitiba. Dividido em 15 Títulos e 22 Capítulos, o Código regia o dia-a-dia da cidade em várias esferas consideradas essenciais.
Ao lado de títulos que hoje parecem estranhos, como o de número 13, onde, além das disposições sobre a conservação de árvores, estradas e caminhos, havia uma seção destinada à extinção de formigueiros, aparecem temas de importância para a vida urbana: limpeza da cidade e segurança pública; quadro urbano; higiene e salubridade; edifícios ruinosos; comércio; fábricas; oficinas e curtumes; casas de jogos e divertimentos públicos; cemitérios, etc.
Regulamentos destinados à vida cotidiana da cidade não constituíam novidade, datavam da época das Ordenações Manuelinas, ainda no Brasil Colônia. A importância do Código de 1895 reside justamente no fato de, pela primeira vez, ter ficado visível o legislar da Câmara sob o amparo do saber especializado, como o de médicos e engenheiros, principalmente no que se referia às construções e obras de urbanização. 
 
Século XX: a cidade cresce
A imigração fez a população de Curitiba triplicar em menos de 20 anos. Entre 1890 e 1896, para cá vieram 28.000 imigrantes e, entre 1907 e 1914, chegaram 27.000 A corrente imigratória majoritária foi a polonesa, cujo número ultrapassava o total das demais correntes.
Em 1904 iniciaram-se os trabalhos preliminares para a construção de um sistema de captação e distribuição de água. A partir daí começaram os trabalhos de construção do reservatório do Alto S. Francisco, assim como da rede de captação de água na Serra do Mar, serviço esse concluído no ano de 1908.
Com o crescimento populacional, o quadro urbano foi ampliado e iniciou-se o processo de hierarquização da cidade, representada pela divisão dos locais de moradia conforme a classe social. 
 
Em 1905 foi criada uma lei determinando que, no eixo formado pelas ruas da Liberdade (atual Barão do Rio Branco), 15 de Novembro e pela Praça Tiradentes, não se poderia, a partir daquela data, construir casas de madeira, sendo permitidas somente construções em alvenaria com dois ou três pavimentos. No ano seguinte, a área restrita até então a esses três locais foi ampliada para todo o centro da cidade. As regiões do Alto da Glória e do Batel foram reservadas para as residências dos Barões do Mate, a do Rebouças e do Portão para as fábricas e moradias operárias, e a Rua da Liberdade para a administração pública. Esta lei visava elitizar estes espaços, já que o Paraná na época era um dos maiores produtores de madeira. A casa de alvenaria custava cerca de quatro a cinco vezes mais do que uma de madeira.  
Vale acrescentar que ainda não existia mão-de-obra abundante e qualificada para a construção em alvenaria e até o cimento tinha que ser trazido de outras regiões do país. Entre 1912 e 1916 assumiu a Prefeitura, pela segunda vez, o engenheiro civil Cândido de Abreu. Sua administração foi marcada por grandes projetos. Com um empréstimo de 6.000 contos, começou uma série de obras consideradas audaciosas para a época, tendo-se que, apesar do grande crescimento da cidade na virada do século, Curitiba ainda permanecia como um lugar provinciano na década de 1910.Entre seus projetos modernizadores, destacam-se a construção do Paço Municipal (atual Museu Paranaense), o Mercado Provisório, calçamento e alinhamento de ruas, a canalização do rio Ivo, a retificação do rio Belém, a reforma do Passeio Público (projeto de dois arquitetos franceses), reforma de praças, Paraná.
a inauguração do bonde elétrico e a doação do terreno onde foi construído o prédio central da Universidade Federal do Paraná.
Com o fim do mandato de Cândido de Abreu, em 1916, as transformações urbanas foram poucas, em parte devido à Primeira Grande Guerra Mundial, quando a economia brasileira sofreu abalos e a balança comercial passou a ficar cada vez mais dependente de acordos com os Estados Unidos. Os materiais básicos, especialmente os de construção civil, quando importados, tornavam-se proibitivos. Em Curitiba, o número de construções caiu sensivelmente.
Não obstante as dificuldades econômicas, em 1919 o prefeito João Antônio Xavier sancionou uma reformulação no antigo Código de Posturas. 
As alterações, embora poucas, evidenciavam novas preocupações decorrentes do crescimento de Curitiba desde o final do século. Novos Capítulos foram inseridos, como o referente aos hotéis, às casas de pensão e aos internatos e o destinado à produção de leite. A maior diferença, no entanto, se comparado às Posturas de 1895, ficou com a regulamentação do tráfego de veículos, aí compreendidos também os carros de tração animal. A circulação, a sinalização, o estacionamento, o limite de velocidade, o registro do automóvel e a habilitação passaram a constar das normas estipuladas pela Câmara.
Outra mudança no Código de 1919 refere-se à melhor delimitação das zonas da cidade, mencionadas nas Posturas anteriores mas não explicitadas. Assim, definia-se que a zona suburbana era a que estava situada até um quilômetro da zona urbana e que o Rocio era a área compreendida entre a zona suburbana e os limites do município. 
Na década de 1920 assumiu a Prefeitura, por duas vezes consecutivas, o engenheiro civil Moreira Garcez, que encontrou uma Curitiba em expansão, porém carente de organização. Suas iniciativas foram no sentido de direcionar o crescimento da cidade, principalmente com a criação de largas avenidas que cortariam Curitiba.
Garcez recebeu um centro urbano que se desenvolvia rapidamente, com tendências a se espraiar nas baixadas, em ruas que seguiam os caminhos naturais. Urbanista, o prefeito investiu para atrair o crescimento para a região sul de Curitiba, planejando largas avenidas para aquele lado, numa área que ficou então conhecida como Cidade Nova.
Foram criadas ou remodeladas diversas ruas e avenidas como Visconde de Guarapuava, Sete de Setembro, Silva Jardim, Iguaçu e Getúlio Vargas, bem como suas transversais, Alferes Poli, 24 de Maio, Dr. Pedrosa, Buenos Aires, Nunes Machado, Lamenha Lins, Brigadeiro Franco e Desembargador Mota. Moreira Garcez ordenou, ainda, o acesso aos bairros, pavimentou diversos logradouros, reformou praças e mudou as feições do Centro, principalmente a Rua 15 de Novembro, alargada no trecho compreendido entre a Rua Dr. Muricy e a Avenida Luiz Xavier. A Rua 15 foi a primeira via de Curitiba a receber pavimentação asfáltica.
Nos anos 30, o declínio da atividade ervateira e a incipiente produção cafeeira no Estado, aliado à falta de recursos para grandes obras, fez com que a administração pública recorresse à tendência hierarquizadora dos planos urbanísticos do início do século, fortemente influenciados pela Europa. 
As funções da cidade foram divididas em três zonas:
Zona I - Central com comércio e moradas de alto padrão; Zona II - Fábricas e moradas para operários mais qualificados; Zona III - Moradas de operários menos qualificados e pequenos sitiantes.
 
 
Anos 40, a cidade precisa ser ordenada: é a vez do Plano Agache
Curitiba entrou na década de 1940 com aproximadamente 127 mil habitantes. A partir da ocupação do norte do Paraná, o crescimento da economia baseada na produção do café levou a novos investimentos e a cidade iniciou um novo processo de transformação na sua estrutura urbana. Com o intuito de disciplinar a ocupação do solo, a Prefeitura de Curitiba contratou uma empresa para elaborar um plano urbanístico para a cidade. A escolha recaiu sobre a firma paulista Coimbra Bueno & Cia, que, por sua vez, encomendou o plano ao arquiteto francês Alfred Agache.
O Plano Diretor de Urbanização de Curitiba, conhecido como Plano Agache, estabeleceu diretrizes e normas técnicas para ordenar o crescimento físico, urbano e espacial da cidade, disciplinando o tráfego, organizando as funções urbanas, além de coordenar e zonear as atividades, codificar as edificações, estimulando e orientando desta maneira o desenvolvimento.
"A organicidade de Curitiba dar-se-ia por intermédio do perfeito funcionamento de seus centros, ou "órgãos funcionais", os quais, interagindo harmoniosamente, constituiriam um conjunto sob regência de sua função maior - a sede do governo estadual. Cada uma das subfunções atribuídas à cidade contaria com um núcleo central, e suas atividades constituiriam a vida da cidade." (TRINDADE, 1997:56) Neste sentido, o plano propunha a divisão da cidade em zonas especializadas. 
Isto é, previa a implantação de vários centros funcionais setorizados: um centro militar (Bacacheri), um esportivo (Tarumã), um de abastecimento (Mercado Municipal), um de educação (Centro politécnico), um industrial (Rebouças), um administrativo (Centro Cívico) e alguns centros de recreação e lazer (Parque Barigüi).
Algumas ações como o "Plano das Avenidas" e o alargamento da Rua 15 de Novembro já vinham sendo implementadas em período anterior. "O Plano de Avenidas" estabelecia os princípios de circulação, interligando os diversos centros e fazendo a comunicação com as áreas externas da cidade." (TRINDADE, 1997:57) Além das largas avenidas, privilegiavam-se outros espaços livres, como as praças, os jardins e os parques públicos.
No início da década de 1950, momento em que o Paraná tinha o seu desenvolvimento impulsionado pela cultura cafeeira, Curitiba contava com aproximadamente 180.000 habitantes. Com o rápido e imprevisível crescimento da cidade novos problemas começavam a surgir, fugindo ao controle normativo em vigência: edifícios "arranha-céu" de forma desordenada em áreas consideradas impróprias; fábricas e estabelecimentos comerciais em áreas consideradas residenciais: loteamentos "clandestinos" fora do perímetro urbano. Desde os anos 40, Curitiba convivia com os primeiros núcleos de favelamento. O mais antigo, formado no bairro de Santa Quitéria, foi transferido em 1966 para o Conjunto Habitacional da Vila Nossa Senhora da Luz.
Na década de 1950, surgiram novos núcleos como o da Vila Guaíra, Uberaba, Vista Alegre, Vila Hauer e Parolin, que hoje é a favela mais antiga de Curitiba. Para resolver estas questões provocadas pela obsolescência do Plano Agache, foi aprovada, em julho de 1953, a Lei Nº 699, sobre o zoneamento da cidade, incluído no Código de Posturas e Obras, dividindo a cidade em cinco áreas distintas: - comercial: principal (ZC-1) e secundária (ZC-2); - industrial: (ZI); - residencial: principal (ZR-1), com duas subzonas: Centro Cívico (ZCC) e Centro Esportivo (ZCE), média (ZR-2), secundária (ZR-3) e rural (ZR-4); agrícola: (ZA).
A aprovação desse Código só aconteceu em 1956, na administração de Ney Braga. Durante essa gestão aconteceu uma reestruturação administrativa da Prefeitura, com assessoria do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM). 
Com essa reestruturação surgiu o Departamento Municipal de Planejamento e Urbanismo, cuja finalidade era a de exercer o controle urbanístico da cidade - além de rever o Plano Agache, implantando suas diretrizes mais viáveis e ampliando-as quando necessário.
Questões como o surgimento de "loteamentos clandestinos" configuravam-se como um novo desafio para os administradores municipais. Buscando "ajustar" esses loteamentos à área urbana, foi realizado o primeiro levantamento aerofotogramétrico da cidade. A partir desse primeiro estudo, seriam projetadas as vias de continuidade e acesso a esses loteamentos, "integrando-os" à área urbana - além de se dispor de um maior controle das áreas degradadas. O transporte coletivo, desorganizado e caótico, também foi normatizado. Foram criadas as chamadas "zonas seletivas" (itinerários ou zonas da cidade onde uma determinada empresa tem a exclusividade na exploração do transporte coletivo). 
Anos 60: a Curitiba do Plano Diretor
No final dos anos 50 voltou-se a insistir no controle da organização espacial da cidade. Desse processo surgiu, em 1960, a Comissão de Planejamento de Curitiba interdisciplinar. Propunha-se a acompanhar a dinâmica das novas edificações, da concentração ou dispersão de certos usos do solo e mesmo da polarização de certos equipamentos. Desenvolvia-se na cidade, nesse momento, "um zoneamento gradualista ou mesmo orgânico à medida que se procurava, mesmo inovando, acompanhar as tendências naturais do próprio sistema urbano" (FERNANDES, 1990, P. 72).
Na verdade, procurava-se incorporar nesse processo a longa tradição de controle urbanístico presente na cidade desde a virada do século. 
"Nessa época em que muito se doutrinava sobre tal função e em que poucas municipalidades a conheciam, ao Departamento de Urbanismo podia-se atribuir um papel inovador." (COELHO, 1974, p.24-25).
Nesse sentido, no início da década de 1960, era premente a elaboração de um novo Plano Diretor, que levasse em conta os conceitos mais recentes do urbanismo moderno. Preocupado em reexaminar o plano urbanístico de Curitiba, reajustando-o nos pontos em que o progresso o tornava inviável, o prefeito Ivo Arzua Pereira, propôs em 1962, alterações no Plano Agache, que com exceção de algumas obras pontuais*, não chegou a ser implantado na sua totalidade. Entre os anos 1940 e 1960, a população de Curitiba passou de 140 mil para mais de 350 mil habitantes.
 "Embora a quantificação da população não se constitua, por si só, um índice de urbanização, deve-se considerar que esse vertiginoso aumento no número de habitantes deveu-se à dinâmica econômica, demandando, ao mesmo tempo, crescentes investimentos públicos e uma constante oferta de novas moradias." (TRINDADE, 1997:66)
Em 1963, com o objetivo de proceder estudos que privilegiassem o planejamento econômico, social e territorial e propiciasse as condições para a formulação de um Plano Diretor para Curitiba foi criada a URBS - Companhia de Urbanização de Curitiba. Dois anos depois foi elaborado, pela empresa paulista Serete Engenharia S.A. e Jorge Wilheim Arquitetos Associados, o Plano Preliminar de Urbanismo, que originou o Plano Diretor de Curitiba, transformado em lei pela Câmara Municipal em 1966.
 Paralelamente à elaboração do Plano, em 1965, foram criadas duas instituições de importância fundamental para o desenvolvimento do mesmo: o IPPUC - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, a quem coube a função de detalhar e implementar o Plano e a COHAB - Companhia de Habitação Popular de Curitiba O Plano Serete pode ser situado a meio caminho entre a abordagem modernista original (preconizada pela Carta de Atenas) e o surgimento de críticas dirigidas a este mesmo modernismo. Alguns autores o denominaram Urbanismo Humanista. Três transformações básicas pautavam as metas a serem atingidas: a física, a econômica e a cultural.
Se, por um lado, o plano adotou uma concepção modernista de funcionalização dos espaços, como a delimitação de zonas residenciais, comerciais e industriais, por outro, a crítica feita ao esvaziamento e à despersonalização dos espaços públicos levou a uma revitalização de áreas tradicionais de Curitiba e à criação de novos locais de encontro para os habitantes.
O plano privilegiava ainda o transporte coletivo em detrimento do uso do automóvel particular. Para atingir esse objetivo - meta fundamental da proposta - foi definido um novo sistema viário, visando à indução e ao controle do crescimento. Vias estruturais, prioritárias e conectoras foram incorporadas ao dia-a-dia dos curitibanos . Propôs-se também que as principais vias do centro tradicional da cidade fossem interditadas ao tráfego de veículos. Esta proposta se deu logo no início da década de 1970, quando foi fechado um trecho da tradicional Rua 15 de Novembro, em apenas 48 horas, durante um fim de semana.  
Ponto de partida para a pedestrianização do centro de Curitiba, na concepção de que a cidade deveria ser feita para o homem e não para o automóvel . Além do plano tornar o núcleo central mais acessível aos pedestres, houve ainda o projeto de transformá-lo numa referência para a história da cidade. Nascia, assim, o setor histórico (criado por decreto municipal em 1971), que tencionava preservar as antigas construções do núcleo central de Curitiba. Na região composta principalmente pelo Largo Coronel Enéas e pela Praça Garibaldi, como também em ruas adjacentes, encontrava-se a maior concentração de casarões do final do século XIX e início do XX . Dentro dessa perspectiva de planejamento e preservação, houve a implantação, ao longo dos cursos d'água de maior porte, de parques lineares, equipados para a área de lazer, esporte e recreação. Essa implantação, além de garantir a preservação das florestas lindeiras e da fauna, tinha como objetivo proteger o sistema natural de drenagem, solucionando o problema das enchentes.  
 Não obstante a importância da atuação na área cultural e econômica, como a criação da Cidade Industrial em 1973, o principal instrumento de ação do Plano eram as inovações propostas para o sistema viário. Para a definição dos eixos que então norteariam o crescimento de Curitiba, foi inicialmente planejada uma estrutural no sentido norte-sul; mais tarde outra, leste-oeste, posteriormente acrescida de uma terceira, a sudeste, estendendo-se através da Avenida Marechal Floriano. Era ao longo desses três eixos que a cidade deveria crescer, evitando dessa forma a deterioração de áreas já povoadas como a do centro tradicional e suas regiões próximas.
O Plano Diretor foi implantado durante o período 1971-1983, em administrações que incorporaram mudanças à proposta original a fim de viabilizá-la. Destas mudanças, destacou-se a que se deu no transporte coletivo.
 A implantação dos eixos estruturais possibilitou reformar o sistema de transporte coletivo com a criação de uma Rede Integrada de Transporte (RIT), a mais notória realização oriunda do Plano Diretor. Como centros irradiadores dessa rede, foram propostos terminais de transporte, que seriam construídos em áreas intermediárias ou nas extremidades das vias estruturais. Nos terminais os usuários trocariam de ônibus sem precisar pagar outra passagem. Ao longo das estruturais circulariam os ônibus expressos . Para interligar os terminais no sentido radial foram criadas linhas de ônibus Interbairros e, comunicando as áreas vizinhas com os terminais, permitindo o embarque aos expressos, foram mantidos os ônibus convencionais que passaram a ser conhecidos como alimentadores. Em 1975, através do Decreto nº 774, foi aprovada, pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba e Departamento de Urbanismo, a divisão da cidade em 75 bairros.
 Para essa delimitação foram utilizados os referenciais da malha viária como vias estruturais, vias de ligação, ferrovias e rodovias. Em 1985, com a elaboração do Plano Municipal de Desenvolvimento Urbano - PMDU, são apontadas novas diretrizes para o desenvolvimento e administração da cidade, como uma nova legislação de uso do solo. Entre as medidas, constava a ativação de centros secundários em Curitiba, com a criação das Freguesias.
Foram criadas, através do Decreto nº 41 de 1986, nove administrações regionais: Freguesia da Matriz, do Cajuru, do Bacacheri, de Santa Felicidade, de Campo Comprido, do Portão, do Pinheirinho, do Umbará e do Boqueirão. O projeto das administrações regionais tinha dois objetivos básicos: levar os processos decisórios da Prefeitura para toda a cidade e multiplicar a figura do prefeito na sua capacidade de ouvir, decidir e atender.
 Para alcançar essas metas, a Prefeitura precisaria institucionalizar a participação dos habitantes na administração municipal e canalizar os esforços dos diversos organismos públicos e privados na promoção e integração dos seus organismos. No final da década de 1980 houve a reestruturação das administrações regionais, que de nove passaram a ser apenas sete. (Decreto 436/89)
Nessa mesma época, ocorreu a ocupação oficial de um dos últimos vazios urbanos de Curitiba. O projeto "Bairro Novo", localizado no extremo sul do município, atendeu cerca de 10.000 famílias, por meio de lotes urbanizados, e 20.000 famílias com habitações prontas.
Nos anos 90, com o objetivo de transferir imóveis urbanos ou recursos financeiros ao Fundo Municipal de Habitação - FMH - para a implantação de Programas Habitacionais de Interesse Social às famílias de baixa renda - a Prefeitura de Curitiba implantou o instrumento do Solo Criado.
 O planejamento urbano também foi direcionado para as questões ambientais, processo iniciado a partir do Plano Diretor. No bojo das orientações esteve a criação da Universidade Livre do Meio Ambiente, uma organização não governamental de apoio às iniciativas, de âmbito nacional e internacional.
O processo de descentralização da administração municipal teve prosseguimento, em 1995, com a inauguração da Rua da Cidadania do Carmo, localizada no Boqueirão. Esta foi a primeira das sete Ruas implantadas na cidade (as demais são: Matriz, Portão, Boa Vista, Santa Felicidade, Pinheirinho e Cajurú), concentrando num só endereço núcleos de serviços públicos, áreas de lazer, comércio e serviços variados.
 
 FONTES:
BARZ, Elton Luiz; BOSCHILIA, Roseli; HLADCZUK, Ana Maria; SUTIL, Marcelo Saldanha. Curitiba, 1997
http://www.casadamemoria.org.br/index_historiadecuritiba.html    

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