segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

“ENCANTAMENTOS” EM SER PROFESSOR NA ESCOLA PÚBLICA: Algumas reflexões de professores do Colégio Estadual do Paraná

Alexandro Muhlstedt1
Resumo:
O presente texto é resultado de reflexões oriundas do curso “Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio”. Trata-se de um curso de formação continuada de professores do Ensino Médio, ofertado pela Universidade Federal do Paraná e realizado nas escolas públicas estaduais. Neste caso, o grupo de professores cursistas do Colégio Estadual do Paraná realizou problematizações a respeito do trabalho docente na escola pública e vários apontamentos foram sendo feitos daquilo que essa instituição de ensino proporciona aos que nela trabalham. Realizado em agosto de 2014, os relatos apontam que, sem desconsiderar os problemas e adversidades enfrentados no dia a dia, o professor também tem muitos motivos para se orgulhar de seu trabalho e evidenciar retornos positivos para sua vida pessoal e profissional.
Palavras-chave: escola pública; professor; encantamentos; valorização profissional.

INTRODUÇÃO

Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
(Fernando Pessoa, Poemas - 1986)

O professor vive, hoje, nas escolas, em especial a escola pública, desafios que vão muito além do que se preparou e se prepara para enfrentar, extrapolando os limites de sua jornada de trabalho e de suas forças mentais (VASQUES-MENEZES; CODO; MEDEIROS, 2006). Diversos estudos discutem o trabalho docente no contexto escolar e no âmbito político-social (ENGUITA, 2004; HYPÓLITO, 1997; OLIVEIRA, 2003; ARROYO, 2003; SANTOS, 2001).
Ao longo da minha carreira, inicialmente como acadêmico do curso de Pedagogia e, posteriormente como Docente e Pedagogo, tenho estudado a trajetória de professores e professoras, inclusive a minha própria; o que me permite elencar uma série de elementos que demonstram a pauperização da categoria e a precarização das condições de trabalho (ESTEVE, 1999). Também é possível vislumbrar as possibilidades de saída desse processo de pauperização por meio da profissionalidade (AMBROSETTI E ALMEIDA, 2009) na qual se encontram os elementos do uso de tecnologias da comunicação e informação no cotidiano da sala de aula.
Neste sentido, é comum observar que o cotidiano de grande parte das escolas é permeado por inúmeros aspectos que caracterizam essa pauperização, como por exemplo: variados tipos e formas de violência; a sensação da perda da autoridade docente; um “mal estar” psíquico, com elementos de desistência frente às dificuldades educativas; o adoecimento mental e físico, as condições físicas de trabalho deterioradas, relações truncadas e estereotipadas, fragmentação das atividades, entre outros. Também, no âmbito social, observa-se o aprofundamento do processo de alienação, tanto nas relações de trabalho, com políticas estaduais de ampliação do controle sobre o trabalho docente, como de sua alienação como ser político, agente histórico, ator social e sujeito.

1. A profissionalidade docente

Ao agir sistematicamente na escola, o professor realiza seu trabalho. O trabalho é a identidade básica do ser humano, a sua essência, sendo a “intervenção intencional e consciente dos homens na realidade, elemento distintivo do homem dos outros animais” (RIOS 1993, p. 33).
Mas agir sistematicamente não é suficiente para que haja o desenvolvimento de uma profissão com personalidade ou aperfeiçoamento da personalidade do professor conectada a uma profissão. Refiro-me à profissionalidade. Investigar, pois, o trabalho docente na perspectiva da profissionalidade implica compreender os professores como sujeitos que, agindo num espaço institucional dado, constroem nessa atividade sua vida e sua profissão.
Assim, a partir dos anos 90, no movimento de rever as análises sobre o trabalho do professor, é que o termo profissionalidade aparece nas pesquisas sobre os professores, articulado à ideia de profissionalização. É um conceito em desenvolvimento, produzido em outros campos de conhecimento e apropriado na área da educação, o que implica um esforço no sentido de melhor compreender esse conceito. Discutir e configurar uma profissionalidade ao professor se torna pertinente, inclusive como tentativa de retomada do prestígio social, afinal, décadas de pauperização da profissão não podem suplantar tão importante trabalhador na sociedade.
Profissionalidade é uma derivação terminológica do vocábulo profissão. Outras derivações frequentemente utilizadas são: profissionalização, profissionalismo. São termos polissêmicos, que assumem significados diferentes em função dos contextos, países e das perspectivas teóricas em que são utilizados (ALTET, PAQUAY, PERRENOUD, 2003; RAMALHO, NUÑES, GAUTHIER, 2004).
Sacristán (1991, p. 64) define profissionalidade como “a afirmação do que é específico na ação docente, isto é, o conjunto de comportamentos, conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que constituem a especificidade de ser professor”. O autor destaca que a profissionalidade docente desenvolve-se na relação dialética entre os diversos contextos sociais, culturais e institucionais que delimitam a prática educativa e as formas como os professores modelam a sua prática na intersecção desses diferentes contextos. As condutas profissionais podem variar entre uma adaptação às condições estabelecidas e a adoção de posturas mais críticas e estratégias de mudança.
Contreras (2002, p. 74) utiliza a expressão profissionalidade referindo-se “às qualidades da prática profissional dos professores em função do que requer o trabalho educativo”. Segundo o autor, essa forma de expressar o conceito reflete, também, a dialética entre as condições da realidade educativa e as expectativas em relação ao desempenho profissional dos professores, por um lado e por outro, as formas de viver e desenvolver a profissão na prática docente.
Altet, Paquay e Perrenoud (2003) examinam as possibilidades e as condições necessárias para que se desenvolva um processo de profissionalização da formação de professores, de modo que seja feita, finalmente, a passagem de uma função acessória a uma profissão plena.
A ideia de profissionalidade repõe a centralidade dos professores como atores da prática educativa, sujeitos capazes de conduzir com competência as ações da profissão, trazendo para a discussão aspectos como a dimensão pessoal e subjetiva no trabalho docente e o significado dos processos biográficos e relacionais na construção da docência (DINIZ-PEREIRA, 2011). Aponta também para a importância dos contextos e situações de trabalho e para o reconhecimento da organização escolar como espaço fundamental na constituição da profissionalidade docente.
A docência é uma atividade profissional que se dá num espaço social historicamente construído, a instituição escolar, cujas normas e formas de organização se inserem num contexto sociopolítico mais amplo, que assim está presente na vida da escola. Neste espaço instituído, os professores se apropriam das formas de estar e agir na profissão, ao mesmo tempo em que interagem nesse ambiente, modificando e reconstruindo o espaço escolar em sua atividade cotidiana (DINIZ-PEREIRA, 2011). No entanto, os professores não tomam contato com a docência pelo simples ingresso na profissão. A construção da profissionalidade docente no espaço escolar é informada por concepções e representações da docência construídas antes do ingresso na profissão, na trajetória pessoal e escolar desses sujeitos.
Tardif e Raymond (2000) destacam a importância da escolarização inicial na construção dessas representações. Segundo os autores, antes de começarem a trabalhar, os professores já passaram longos anos imersos na escola e nesse processo de socialização escolar construíram uma bagagem de conhecimentos que tem grande permanência no tempo, atravessando, sem mudanças substanciais, os processos de formação inicial.
Compreendo, nessa perspectiva, que o trabalhador docente está, por vários aspectos, numa situação de ambivalência, vivenciando os desgastes da pauperização, ao mesmo tempo que busca a sua profissionalidade. Isso revela as possibilidades de um coletivo em formação, em luta para se constituir e se consolidar parte da classe trabalhadora, mas que vive uma situação de identidade social contraditória, muitas vezes de conformismo e alienação. Mesmo assim, práticas pedagógicas podem implementar os processos de criticidade e reflexividade no interior das salas de aulas.
E é na elaboração e re-elaboração dos processos identitários e da profissionalidade, que se torna possível encontrar o desafio de desenvolver, na prática cotidiana dos professores.

2. A pesquisa no curso de formação continuada

O Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio é um programa do Ministério da Educação, regulamentado pela Portaria Ministerial Nº 1.140, de 22 de novembro de 2013. Os objetivos principais são promover a formação continuada dos professores e coordenadores pedagógicos que atuam no Ensino Médio da rede estadual de ensino e refletir sobre o currículo do Ensino Médio, visando o desenvolvimento de práticas educativas efetivas com foco na formação humana integral. Esse programa está em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Em Curitiba, o curso é coordenado pela Universidade Federal do Paraná.
Puderam participar todos os professores da rede pública estadual do Ensino Médio, o quais, uma vez cadastrados no Educacenso como professores do ensino médio, e em efetivo exercício da docência, receberão, mensalmente, uma bolsa de estudo de R$ 200,00 (duzentos reais).
O curso é constituído por 200 horas, sendo que em 2014 será realizada a 1ª Etapa, de 100 horas, nas quais os professores terão 50h de atividade presencial e outras 50h de estudos individual. O material é composto por 6 cadernos que abordam os seguintes temas: Sujeitos do Ensino Médio; Ensino Médio; Currículo; Organização e Gestão do Trabalho Pedagógico; Avaliação e Áreas de Conhecimento e Integração Curricular.
No Colégio Estadual do Paraná foram organizadas 03 turmas e os encontros ocorrem, quinzenalmente, aos sábados, das 8h às 12h. Para dinamizar o trabalho e sistematizar as discussões os Orientadores de Estudos criaram blogs, nos quais as atividades, denominadas “Reflexão e Ação”, vão sendo postadas pelos professores.
Uma das atividades propostas aos professores, após discussões sobre o trabalho docente, foi a escrita de questões, baseadas em suas experiências profissionais, que demonstrassem “encantamentos” e retorno que a escola pública oferece aos profissionais que nela atuam.
Esse trabalho, com intenções de levantar dados positivos do trabalho pedagógico empreendido na escola pública, não ignorou os problemas e adversidades pontuados no início desse texto, mas buscou sinalizar que mesmo diante de contextos complexos e difíceis, ainda assim há possíbilidades de retornos positivos e otimistas (sem serem ingênuos e alienantes).
Após as respostas serem dadas, foi possível notar nos professores uma certa surpresa de que, afinal, possuem inúmeras experiências das quais puderam extrair bons exemplos de retornos e “encamentos” na escola pública.

4. Os participantes e os resultado das reflexões

Após receber as respostas, num trabalho de leitura e análise, foi possível organizar as respostas em quatro grupos distintos que podem ser conferidos a seguir.
Cada grupo de respostas têm características comuns que expressam as mais variadas experiências dos professores.
Ao todo, foram 12 professores, das mais variadas disciplinas e tempos de atuação na escola pública, que apresentaram suas experi~encvias, opiniões e vivências na escola pública.

4.1. Ser professor na escola pública causa “encantamentos”

A escola pública, considerada em todas as dimensões e envolvendo todos os sujeitos que nela atuam, causa “encantamentos” nos sujeitos pesquisadas por, em geral, proporcionar um retorno que ultrapassa a barreira objetiva de salários, férias ou folgas. Envolve, de acordo com esse grupo, questões subjetivas de reconhecimento, esperança, engajamento, lutas, formação humana, superação de obstáculos, enfrentamento de dificuldades e construção de cidadania.

Possibilidade de trabalhar com jovens de diferentes classes sociais, entendendo que a escola publica, para a maioria, representa um caminho (mesmo que ainda não saibam) que oferece uma chance de um futuro melhor.
Albano C. M. Sampaio - Física

Primeiramente, devo informar que, exceto a faculdade, minha formação escolar ocorreu em escola pública. Como também a de meus filhos. Portanto, a vivência e a convivência com e na escola pública é de longo período, pois que nela permaneço ainda e agora como profissional da educação, lembrando, que o faço há 25 anos. Citar apenas um fator de encantamento não é tarefa fácil, porém, creio que o enfrentamento das dificuldades separadas pelos sujeitos que, engajadas de fato, fazem a educação se concretizar, é o que me motivou a continuar nesse trabalho.
Arlete Dolny – Língua Portuguesa

Eu vejo nas escolas públicas algo que me encanta, é a humildade de muitos alunos. Por se tratarem, muitas vezes de famílias humildes, há uma dedicação a mais por parte desses alunos.
Cleiton Rosa - Física

A liberdade de preparar as aulas, as avaliações e o planejamento das aulas, buscando a formação dos alunos (as) e também perceber que pude colaborar na melhoria da vida de alguns sujeitos.
Quando encontro algum aluno(a) e percebo que o mesmo(a) é um cidadão honesto e digno, percebi que pude contribuir.
Daniel José Gonçalves Pinto – Geografia

A liberdade que tenho para fazer meu trabalho, aqui podemos “conversar” mais com nossos alunos, fazer um trabalho mais humanizado.
Enzo A. Souza - Matemática

Maior autonomia, tanto para docentes, quanto para os alunos.
Cristine Christofis de Amorim - Arte

O interesse da grande maioria dos alunos em aprender cada vez mais.
Elói R. de Oliveira – Geografia

O que mais me encanta na escola pública é a possibilidade de acesso a todos. A chance que a sociedade encontra de aprofundar seus conhecimentos, sua cultura e avançar com sue status na sociedade. Sempre estudei na escola pública e acho que ela pode possibilitar aos outros tudo aquilo que ela me possibilitou.
Barbara Duarte - Química

Trabalhar com a Educação Física me encanta, me realiza diariamente. Em escola pública, pelo desafio de muitas vezes sem condições favoráveis (falta de material, espaço adequado, etc) e ter um retorno muito grande dos alunos, um sorriso, um obrigado. Quando falto, eles sentem falta e é a única disciplina que precisamos repor a aula, pois é o que eles mais gostam (a grande maioria).
Fabricio Kupczik – Educação Física

Definitivamente considero a dinâmica escolar algo que mais me motiva a desenvolver meu trabalho. O grande encantamento e magia estão na relação do fazer pedagógico, sua organização, desafios, obstáculos, conquistas, sucessos e fracassos.
Mônica Soares – Pedagogia

Um dos aspectos que mais me encanta na Escola Pública é a ideia de pertencimento a um coletivo que, num extremo de raciocínio, é a prórpia humanidade. Essa situação em meus ideais seria a premissa para a democratização e acesso a um saber ser humano que perpassa por práticas escolares, práticas humanizadoras que num “fim de processo” proporcionaria uma relação de respeito e dignidade dos homens.
Portanto, o que mais me encanta na escola pública é justamente ela ser PÚBLICA, pertencente a TODOS.
Daniele de Luca R. Franco – Arte

Sou Professor de Física e ministro aulas de Física!
Meu encantamento refere-se ao aprendizado conquistado pelos alunos! Ao ingressar na rede pública sempre desejei esta meta!
Espero que eles saibam aproveitar meu encanto ao transmitir este conhecimento!
Oswaldo Pregolini – Física


O que causa meu “encantamento” na escola pública é a diversidade de seres e saberes, ou seja, é onde convivem pessoas oriundas de diferentes realidades sócio-econômico-culturais, detentoras de posicionamentos e ideologias diversos, mas com um objetivo em comum: o conhecimento. Essa diversidade demonstra que a escola pública é um espaço privilegiado: aí está a vida e toda a sua substância.
Tania Maria Acco – Língua Portuguesa


4.2. Ser professor imprime imagens
Ao olharem para suas trajetórias, os professores participantes dessa pesquisa, mostram em suas reflexões que ao longo de sua atuação profisisonal, a escola pública foi imprimindo imagens e deixando marcas.
São, nos dizeres dos professores, cenários, mosaicos, impressões, vivências, desafios, relações, etc. que foram, pouco a pouco, dando sentido ao seu “ser professor”.

A escola pública é local onde aprendi e ainda aprendo muito por ser aberto às discussões, pontos de vista distintos (mesmo havendo bastante divergência), convívio com demais colegas e estudantes.
Albano C. M. Sampaio - Física

Espaço não-elitizante. Essa qualificada mistura de sujeitos vindos e advindos de quantos e tantos meios sociais acrescenta o conhecimento, a convivência e a aquisição de uma diversidade infinda culturas, crenças, hábitos, gostos, intenções, certezas, incertezas… saberes acumulados ao longo de gerações pelas e nas comunidades que, mesmo não tendo tido acesso à escolarização, produziram ciências.
Arlete Dolny – Língua Portuguesa

A imagem que tenho da escola pública é de que se trata de um local de muitos desafios, ela não atende a um único padrão de pessoas, e sim, há uma enorme diversidade, e isto implica em grandes desafios a nós educadores.
Cleiton Rosa - Física

A minha trajetória na escola pública, me faz acreditar, cada vez mais, na importância de seu papel na sociedade, e, que ela pode e deve sim ser uma escola de “qualidade”, apesar de suas dificuldades.
Cristine Christofis de Amorim – Arte

A escola pública me passa uma imagem de estudantes que precisam de melhora, jovens que querem crescer, serem melhores em todos os aspectos e tem escola como um caminho mais acessível.
Enzo A. Souza - Matemática

Para mim ela é extremamente importante, pois foi onde obtive boa parte dos meus conhecimentos.
Barbara Duarte - Química
Uma melhora de vida e a valorização dos estudos para ser uma pessoa melhor no sentido dos conhecimentos, trabalho e vida de forma geral.
Daniel José Gonçalves Pinto – Geografia

Em um primeiro momento tive a impressão que era o caos absoluto. Depois percebi que com o meu trabalho poderia ajudar na mudança para melhor que sempre desejei.
Elói R. de Oliveira – Geografia

Sou muito feliz na escola pública, pelo retorno dos alunos e às vezes dos nossos diretores, pedagogos e/ou colegas.
Fabricio Kupczik – Educação Física

Visualizo-a como sendo o grande cenário para o desenvolvimento integral da nossa juventude. Porém, é necessário que façamos muito por ela, que produzamos muitos conhecimentos e que reflitamos sempre sobre a nossa prática.
Mônica Soares – Pedagogia

As imagens são muitas e vão compondo imagens maiores (mosaico). Existe uma proposta de escola que faz parte de uma orientação governamental, no entanto, essa escola é feita em cada espaço escolar pela individualidade presente de seu corpo docente e discente (entre outros). Inicialmente tinha muito mais características negativas como o insucesso e a falta de perspectivas. Mas tal imagem foi dialogando com outras práticas mais saudáveis de educação e hoje tenho mais epserança num projeto de educação pública que “pode” ser mito bom, dependendo dos rumos que decidimos percorrer.
Daniele de Luca R. Franco – Arte

Vim da escola pública, desde o ensino fundamental, médio e posterior graduação e sempre fui acolhido com respeito e por profissionais qualificados, e busco repassar a todos integrantes desta grande instituição de ensino!
Oswaldo Pregolini – Física
Sou “filha” da escola pública, toda a minha trajetória como estudante percorri pelo Sistema Público de Ensino, o que me causa muito orgulho. A imagem que mantenho da escola pública é a de uma “causa” que sempre foi justa e pela qual se precisa continuar lutando, para que ela conserve e, em muitos aspectos, resgate, sua importância, na vida dos estudantes. Vale enfatizar que os alunos, apesar de perceberem na escola muitas coisas a serem melhoradas, ainda a veem como um lugar privilegiado de convivência e de trabalho que contribui decisivamente para suas trajetórias pessoais e profissionais, fato que deve ser preponderante nas análises para a melhoria da qualidade da educação ofertada, em todos os aspectos.
Tania Maria Acco – Língua Portuguesa

4.3. Ser professor proporciona valorização e reconhecimento

Ao desenvolverem seu trabalho pedagógicos, esses sujeitos, em meio a tantos desgastes e contradições, puderam também experienciar prrocessos de valorização e reconhecimento, como pessas e como profissionais.
São os olhares, as palavras, os comentários, os elogios, os gestos de gratidão, o carinho, os sorrisos dos alunos e colegas que, em variados momentos, fizeram a diferença na sua rotina de trabalho. Não se trata de situações menores ou inferiores, mas pequenas situações do dia a dia que mostraram o potencial humanizador do processo educativo. E não foram gestos esperados ou desejados, mas originados na espontaneidade que somente uma profissão que tem o ser humano como foco do trabalho é capaz de receber de modo tão positivo.

Em qualquer situação onde, ao falar sobre determinado assunto, percebo que os estudantes etão envolvidos com o tema.
Albano C. M. Sampaio - Física

Posso dizer que se sentir valorizado e reconhecido pelos outros não é o devemos esperar para darmos continuidade ao nosso trabalho. No entanto, aquilo que realmente conta para mim é o retorno que vem daqueles(s) que é (são) meus alunos (e alunas). Um depoimento, um agradecimento, a escolha como homenageada pela turma no momento da formatura, um abraço apertado; enfim, essas atitudes me fazem acreditar que o trabalho realizado na escola pública não foi e não é em vão, considerando que além dos conteúdos ensinados, estamos participando da formação humana daqueles com quem convivemos em sala de aula.
Arlete Dolny – Língua Portuguesa

O fato de reencontrar com ex-alunos e durante a conversa abre um grande carinho e reconhecimento da sua importância para a vida daquele aluno.
Cleiton Rosa - Física

Muitas vezes, até um olá carinhoso de um ex-aluno, me faz sentir valorizada e realizada.
Cristine Christofis de Amorim – Arte

Quando encontro alunos que já se formaram, meus da escola pública e estes estão na universidades e muitos em grandes universidades e os mesmos vem e te agradece, confesso é uma sensação muito boa, não há reconhecimento melhor.
Enzo A. Souza - Matemática

Encontrar alunos formados na faculdade dizendo que agora entendiam minhas cobranças e eram gratos por isso. Ver também a progressão dos alunos durante o ano – perguntar coisas passadas e eles ainda lembraram como resolver.
Barbara Duarte - Química

Ser escolhido como padrinho de turma, em formatura, em algumas ocasiões, pelo diálogo e compromisso. Também encontrar alunos(as) fazendo Mestrado e em boa situação familiar, financeira, etc.
Daniel José Gonçalves Pinto – Geografia

Felizmente tive vários momentos em que os alunos agradeceram pelo meu trabalho e minha disposição em ajudálos e entender melhor o mundo que os cerca.
Elói R. de Oliveira – Geografia

Quando um pai/mãe vem falar comigo, agradecendo pela aula que ministrei, que seu filho chega em casa todo empolgado e conta o que fez. Aqui no CEP tenho tido muito retorno dos pais e, principalmente, dos alunos.
Fabricio Kupczik – Educação Física

Na fala de meus orientandos/estudantes do Ensino Médio, na gratidão deles e de seus familiares., nos grupos de áreas /disciplinas junto com os professores que trabalho. Um olhar, palavras, comentários, elogios que me fizeram ser grata também a esta profissão.
Mônica Soares – Pedagogia

Quando fui dar uma palestra para a Licenciatura de Música da EMBAP para falar da escola pública e o Ensino da Arte foi muito interessante ser reconhecida não primeiramente como artista, mas como educadora.
Daniele de Luca R. Franco – Arte

O simples fato de poder ter a liberdade de ensinar já é gratificante, principalmente quando contemplo um(a) jovem conquistar seus sonhos tendo meus ensinamentos como referencia! Neste sentido um aluno no ano passado ,Daniel do ensino técnico conquistou a medalha de ouro na olimpíada brasileira de Física! Ele conquistou! Não foi necessário ninguém fazer a prova para ele, nem pensar em falsas recuperações ou ajudas irresponsáveis! Ele conquistou! UM ALUNO DE ESCOLA PÚBLICA! Não precisei fazer nenhum acordo com ele ,ou ser um falso amiguinho para ter sua atenção! Fui simplesmente seu professor e o mérito pela conquista foi inteiramente dele! Estou realizado!
Oswaldo Pregolini – Física

Sinto-me valorizada todas as vezes em que, casualmente, encontro, ou sou procurada, por ex-alunos, e eles mencionam o quanto aprenderam com o trabalho desenvolvido em sala de aula, lembrando das “conversas” e discussões sobre os conteúdos ministrados. Também percebo reconhecimento quando há apoio da equipe pedagógica e administrativa da escola nas ocasiões em que desenvolvo atividades e projetos extraclasse, para fortalecimento da aprendizagem.
Tania Maria Acco – Língua Portuguesa

4.4. Ser professor é ter motivação para o exercício profissional

Além das impressões, encantamentos e valorização que vêm da rotina, especialmente por parte dos alunos, há também na profissão docente motivações objetivas que dão sentido maior à ação pedagógica.
São questões que dizem respeito ao salário, carreira, estabilidade, flexibilidade de horário, autonomia na elaboração das aulas, processo de humanização, interação, entre outros, que, de algum modo, completam o ser professor.

Estabilidade, carreira, autonomia (certa flexibilidade para tomada de decisões).
Albano C. M. Sampaio - Física

O salário ainda não é o motivador de permanência. Permaneço porque, como já exposto em considerações gerais acima, a escola pública é o espaço social no qual podemos encontrar e aprender a trabalhar com todas as diversidades e adversidades. Diria que podemos ir além, muito além, do que fez Hércules.
Arlete Dolny – Língua Portuguesa

Me motiva em saber que estou sendo parte decisiva na formação de seres humanos, assim como na época que estudei, tive meus professores me auxiliando na minha formação. Hoje vejo o quanto sou importante e entendo minha imensa responsabilidade na vida desses alunos.
Cleiton Rosa - Física
Acreditar que é através de uma formação humana, social, integral... que poderemos transformar a nossa sociedade.
Cristine Christofis de Amorim – Arte

Os estudantes são mais “humanos” e precisam mais do professor próximo a eles. A esta realidade é um fator motivador e muito importante. Ter alunos que querem crescer, que buscam sucesso profissional e como pessoas melhores.
Enzo A. Souza - Matemática

Fé. Acreditar que muitos alunos tem interesse. Mesmo observando que existem caminhos mais fáceis, procuram de forma digna e intelectual o seu progresso.
Barbara Duarte - Química

O plano de carreira, a estabilidade, a flexibilidade de horário, autonomia na elaboração das aulas.
Daniel José Gonçalves Pinto - Geografia

O ensino é um dos caminhos para liberdade e entendimento das mais variadas questões que nos acompanham desde o surgimento da criação do ser humano. É por isto que trabalho e incentivo meus alunos a buscar rspostas. Buscar entender o mundo que nos cerca e encontrar formas para melhorá-lo.
Elói R. de Oliveira - Geografia

A profissão que escolhi já é motivadora por si só, pois como sempre digo, sou uma criança grande, me divirto muito com o que faço e com todo retorno positivo dos alunos. Claro que temos conteúdos e objetivos a serem alcançados, mas é muito prazeroso.
Claro que pensamos também na estabilidade, no salário garantido no final do mês, pois temos filhos, família, compromissos a cumprir.
Fabricio Kupczik – Educação Física

Os desafios diários que envolvem os estudantes / professores / familiares. Todavia, gostaria que muitas coisas já pudessesm ter mudado ou acrescido a elas. Ocurrículo, o entendimento de que é pedagogia, a dinâmica das informações, formação continuada mais específica por área onde pudéssemos ouvir mais de profissionais de nossa áea e de outras.
Mônica Soares - Pedagogia

Acredito que o ser humano vive e existe no mundo para se educar e esta educação é de um todo feito individualmente e em conjunto; com objetivo de descobrir-se em sua plenitude.
Daniele de Luca R. Franco – Arte
O motivo não mudou com o passar dos anos! Desejo que meus alunos aprendam a conquistar! Alcancem o sucesso e se valorizem como profissionais!
Oswaldo Pregolini – Física

A maior motivação para o exercício da minha profissão na escola pública vem da credibilidade que mantenho nela, com toda a sua riqueza de convivências e com profissionais capacitados para o trabalho. Penso que, com investimentos adequados e ações permanentes para seu fortalecimento, seja no âmbito pedagógico (com a devida valorização e capacitação contínua de todos os seus profissionais e a discussão e, conseqüente, revisão e fortalecimento do currículo), como no âmbito administrativo e financeiro (com a reforma e manutenção física dos seus espaços), muito avançaremos para a conquista de uma escola pública com mais qualidade.
Tania Maria Acco – Língua Portuguesa


A esse conjunto de questões foi possível estabelecer um panorama geral das experiências docentes na escola pública, evidenciando o importante papel da reflexão e das relações humanas.
Não se trata, como já mencionado, de ingenuamente acreditar que tudo está bem ou ignorar aquilo que causa desprestígio e rebaixamento da profissão e das condições objetivas de trabalho, mas evidenciar que a profissão docente possibilita a humanização da forma mais instigante e desafiadora.

5. Considerações Finais

Como o processo de ensino, resultado do trabalho docente, é construído e materializado pela ação do professor, torna-se cada vez mais imprescindível criar espaços de reflexão e discussão, especialmente no interior das escolas, para fortalecer a ideia de pertença a um coletivo e também para que a voz do professor esteja mais presente no debate educativo. E isto não é dado ao trabalhador docente. É resultado de luta.
Os trabalhadores da educação estão entre os mais numerosos e importantes grupos ocupacionais, tanto pelo seu número como pelo seu papel. Isto remete às questões do financiamento público da educação, da carreira e salário dos profissionais docentes, bem como das condições de infraestrutura necessária nas escolas, pois a melhor qualificação da educação passa também por esses aspectos, os quais não estão postos à altura das exigências que têm sido feitas às escolas e seus trabalhadores. A pauperização da profissão deve ser revertida. E revertida com profissionalismo, compromisso e responsabilidade.
Não dá para se manter o discurso de que a educação não precisa de mais verbas. Para um trabalho decente é necessário, sim, investimentos cada vez maiores por parte do Governo, a fim de melhorar a escola, o ensino e as condições de trabalho dos trabalhadores da educação.
O presente trabalho se propôs a refletir com os professores sobre a profissão docente a partir das experiências de um grupo de profissionais do Colégio Estadual do Paraná.
As reflexões oriundas desse trabalho trouxeram olhares novos e novas perspectivas de valorização pessoal a partir da própria trajetória profissional.
Num momento de “olhar para si” cada docente percebeu que, sem ignorar as adversidades, os problemas, as dificuldades e os embates, a profissão docente proposciona um despertar e um formar-se cotidianamente pelas interações que ocorrem.
Nesse sentido, fazer emergir novas reflexões sobre a própria vida profissional é um desafio que se coloca tendo em vista o objetivo de, ao mesmo tempo que se trabalha com o conhecimento escolar, também se desenvolve processos de socialização e humanização das novas gerações.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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AMBROSETTI, N. B.; ALMEIDA, P. C. A. de. Profissionalidade docente: uma análise a partir das relações constituintes entre os professores e a escola. In: Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 90, n. 226, p. 592-608, set./dez. 2009.
ARROYO, M. G. Ofício de Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis: Vozes, 2000.
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CONTRERAS, J. A autonomia de professores. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2012.
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1Pedagogo da Rede Estadual do Paraná, atua no Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba. Professor participante do PDE e Mestrando em Educação pela UFPR. E-mail: supervisoralex@bol.com.br

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