Alexandro
Muhlstedt1
Resumo:
O presente texto é
resultado de reflexões oriundas do curso “Pacto Nacional pelo
Fortalecimento do Ensino Médio”. Trata-se de um curso de formação
continuada de professores do Ensino Médio, ofertado pela
Universidade Federal do Paraná e realizado nas escolas públicas
estaduais. Neste caso, o grupo de professores cursistas do Colégio
Estadual do Paraná realizou problematizações a respeito do
trabalho docente na escola pública e vários apontamentos foram
sendo feitos daquilo que essa instituição de ensino proporciona aos
que nela trabalham. Realizado em agosto de 2014, os relatos apontam
que, sem desconsiderar os problemas e adversidades enfrentados no dia
a dia, o professor também tem muitos motivos para se orgulhar de seu
trabalho e evidenciar retornos positivos para sua vida pessoal e
profissional.
Palavras-chave:
escola pública; professor; encantamentos; valorização
profissional.
INTRODUÇÃO
Porque eu sou do
tamanho do que vejo
E não do tamanho
da minha altura...
(Fernando Pessoa,
Poemas - 1986)
O
professor vive, hoje, nas escolas,
em especial a escola pública, desafios que vão muito além do que
se preparou e se prepara para enfrentar, extrapolando os limites de
sua jornada de trabalho e de suas forças mentais (VASQUES-MENEZES;
CODO; MEDEIROS, 2006). Diversos estudos discutem o trabalho docente
no contexto escolar e no âmbito político-social (ENGUITA, 2004;
HYPÓLITO, 1997; OLIVEIRA, 2003; ARROYO, 2003; SANTOS, 2001).
Ao
longo da minha carreira, inicialmente como acadêmico do curso de
Pedagogia e, posteriormente como Docente e Pedagogo, tenho estudado a
trajetória de professores e professoras, inclusive a minha própria;
o que me permite elencar uma série de elementos que demonstram a
pauperização da categoria e a precarização
das condições de trabalho (ESTEVE, 1999). Também é possível
vislumbrar as possibilidades de saída desse processo de pauperização
por meio da profissionalidade (AMBROSETTI E ALMEIDA, 2009) na qual se
encontram os elementos do uso de tecnologias da comunicação e
informação no cotidiano da sala de aula.
Neste sentido, é
comum observar que o cotidiano de grande parte das escolas é
permeado por inúmeros aspectos que caracterizam essa pauperização,
como por exemplo: variados tipos e formas de violência; a sensação
da perda da autoridade docente; um “mal estar” psíquico, com
elementos de desistência frente às dificuldades educativas; o
adoecimento mental e físico, as condições físicas de trabalho
deterioradas, relações truncadas e estereotipadas, fragmentação
das atividades, entre outros. Também, no âmbito social, observa-se
o aprofundamento do processo de alienação, tanto nas relações de
trabalho, com políticas estaduais de ampliação do controle sobre o
trabalho docente, como de sua alienação como ser político, agente
histórico, ator social e sujeito.
1. A
profissionalidade docente
Ao agir
sistematicamente na escola, o professor realiza seu trabalho. O
trabalho é a identidade básica do ser humano, a sua essência,
sendo a “intervenção intencional e consciente dos homens na
realidade, elemento distintivo do homem dos outros animais” (RIOS
1993, p. 33).
Mas agir
sistematicamente não é suficiente para que haja o desenvolvimento
de uma profissão com personalidade ou aperfeiçoamento da
personalidade do professor conectada a uma profissão. Refiro-me à
profissionalidade. Investigar, pois, o trabalho docente na
perspectiva da profissionalidade implica compreender os professores
como sujeitos que, agindo num espaço institucional dado, constroem
nessa atividade sua vida e sua profissão.
Assim, a partir dos
anos 90, no movimento de rever as análises sobre o trabalho do
professor, é que o termo profissionalidade aparece nas pesquisas
sobre os professores, articulado à ideia de profissionalização. É
um conceito em desenvolvimento, produzido em outros campos de
conhecimento e apropriado na área da educação, o que implica um
esforço no sentido de melhor compreender esse conceito. Discutir e
configurar uma profissionalidade ao professor se torna pertinente,
inclusive como tentativa de retomada do prestígio social, afinal,
décadas de pauperização da profissão não podem suplantar tão
importante trabalhador na sociedade.
Profissionalidade é
uma derivação terminológica do vocábulo profissão. Outras
derivações frequentemente utilizadas são: profissionalização,
profissionalismo. São termos polissêmicos, que assumem significados
diferentes em função dos contextos, países e das perspectivas
teóricas em que são utilizados (ALTET, PAQUAY, PERRENOUD, 2003;
RAMALHO, NUÑES, GAUTHIER, 2004).
Sacristán (1991, p.
64) define profissionalidade como “a afirmação do que é
específico na ação docente, isto é, o conjunto de comportamentos,
conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que constituem a
especificidade de ser professor”. O autor destaca que a
profissionalidade docente desenvolve-se na relação dialética entre
os diversos contextos sociais, culturais e institucionais que
delimitam a prática educativa e as formas como os professores
modelam a sua prática na intersecção desses diferentes contextos.
As condutas profissionais podem variar entre uma adaptação às
condições estabelecidas e a adoção de posturas mais críticas e
estratégias de mudança.
Contreras (2002, p.
74) utiliza a expressão profissionalidade referindo-se “às
qualidades da prática profissional dos professores em função do
que requer o trabalho educativo”. Segundo o autor, essa forma de
expressar o conceito reflete, também, a dialética entre as
condições da realidade educativa e as expectativas em relação ao
desempenho profissional dos professores, por um lado e por outro, as
formas de viver e desenvolver a profissão na prática docente.
Altet, Paquay e
Perrenoud (2003) examinam as possibilidades e as condições
necessárias para que se desenvolva um processo de profissionalização
da formação de professores, de modo que seja feita, finalmente, a
passagem de uma função acessória a uma profissão plena.
A ideia de
profissionalidade repõe a centralidade dos professores como atores
da prática educativa, sujeitos capazes de conduzir com competência
as ações da profissão, trazendo para a discussão aspectos como a
dimensão pessoal e subjetiva no trabalho docente e o significado dos
processos biográficos e relacionais na construção da docência
(DINIZ-PEREIRA, 2011). Aponta também para a importância dos
contextos e situações de trabalho e para o reconhecimento da
organização escolar como espaço fundamental na constituição da
profissionalidade docente.
A docência é uma
atividade profissional que se dá num espaço social historicamente
construído, a instituição escolar, cujas normas e formas de
organização se inserem num contexto sociopolítico mais amplo, que
assim está presente na vida da escola. Neste espaço instituído, os
professores se apropriam das formas de estar e agir na profissão, ao
mesmo tempo em que interagem nesse ambiente, modificando e
reconstruindo o espaço escolar em sua atividade cotidiana
(DINIZ-PEREIRA, 2011). No entanto, os professores não tomam contato
com a docência pelo simples ingresso na profissão. A construção
da profissionalidade docente no espaço escolar é informada por
concepções e representações da docência construídas antes do
ingresso na profissão, na trajetória pessoal e escolar desses
sujeitos.
Tardif e Raymond
(2000) destacam a importância da escolarização inicial na
construção dessas representações. Segundo os autores, antes de
começarem a trabalhar, os professores já passaram longos anos
imersos na escola e nesse processo de socialização escolar
construíram uma bagagem de conhecimentos que tem grande permanência
no tempo, atravessando, sem mudanças substanciais, os processos de
formação inicial.
Compreendo, nessa
perspectiva, que o trabalhador docente está, por vários aspectos,
numa situação de ambivalência, vivenciando os desgastes da
pauperização, ao mesmo tempo que busca a sua profissionalidade.
Isso revela as possibilidades de um coletivo em formação, em luta
para se constituir e se consolidar parte da classe trabalhadora, mas
que vive uma situação de identidade social contraditória, muitas
vezes de conformismo e alienação. Mesmo assim, práticas
pedagógicas podem implementar os processos de criticidade e
reflexividade no interior das salas de aulas.
E é na elaboração
e re-elaboração dos processos identitários e da profissionalidade,
que se torna possível encontrar o desafio de desenvolver, na prática
cotidiana dos professores.
2. A pesquisa no
curso de formação continuada
O Pacto Nacional
pelo Fortalecimento do Ensino Médio é um programa do Ministério da
Educação, regulamentado pela Portaria Ministerial Nº 1.140, de 22
de novembro de 2013. Os objetivos principais são promover a formação
continuada dos professores e coordenadores pedagógicos que atuam no
Ensino Médio da rede estadual de ensino e refletir sobre o currículo
do Ensino Médio, visando o desenvolvimento de práticas educativas
efetivas com foco na formação humana integral. Esse programa está
em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e
Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Em Curitiba, o curso é
coordenado pela Universidade Federal do Paraná.
Puderam participar
todos os professores da rede pública estadual do Ensino Médio, o
quais, uma vez cadastrados no Educacenso como professores do ensino
médio, e em efetivo exercício da docência, receberão,
mensalmente, uma bolsa de estudo de R$ 200,00 (duzentos reais).
O curso é
constituído por 200 horas, sendo que em 2014 será realizada a 1ª
Etapa, de 100 horas, nas quais os professores terão 50h de atividade
presencial e outras 50h de estudos individual. O material é composto
por 6 cadernos que abordam os seguintes temas: Sujeitos do Ensino
Médio; Ensino Médio; Currículo; Organização e Gestão do
Trabalho Pedagógico; Avaliação e Áreas de Conhecimento e
Integração Curricular.
No Colégio Estadual
do Paraná foram organizadas 03 turmas e os encontros ocorrem,
quinzenalmente, aos sábados, das 8h às 12h. Para dinamizar o
trabalho e sistematizar as discussões os Orientadores de Estudos
criaram blogs, nos quais as atividades, denominadas “Reflexão e
Ação”, vão sendo postadas pelos professores.
Uma das atividades
propostas aos professores, após discussões sobre o trabalho
docente, foi a escrita de questões, baseadas em suas experiências
profissionais, que demonstrassem “encantamentos” e retorno que a
escola pública oferece aos profissionais que nela atuam.
Esse trabalho, com
intenções de levantar dados positivos do trabalho pedagógico
empreendido na escola pública, não ignorou os problemas e
adversidades pontuados no início desse texto, mas buscou sinalizar
que mesmo diante de contextos complexos e difíceis, ainda assim há
possíbilidades de retornos positivos e otimistas (sem serem ingênuos
e alienantes).
Após as respostas
serem dadas, foi possível notar nos professores uma certa surpresa
de que, afinal, possuem inúmeras experiências das quais puderam
extrair bons exemplos de retornos e “encamentos” na escola
pública.
4. Os
participantes e os resultado das reflexões
Após receber as
respostas, num trabalho de leitura e análise, foi possível
organizar as respostas em quatro grupos distintos que podem ser
conferidos a seguir.
Cada grupo de
respostas têm características comuns que expressam as mais variadas
experiências dos professores.
Ao todo, foram 12
professores, das mais variadas disciplinas e tempos de atuação na
escola pública, que apresentaram suas experi~encvias, opiniões e
vivências na escola pública.
4.1. Ser
professor na escola pública causa “encantamentos”
A escola pública,
considerada em todas as dimensões e envolvendo todos os sujeitos que
nela atuam, causa “encantamentos” nos sujeitos pesquisadas por,
em geral, proporcionar um retorno que ultrapassa a barreira objetiva
de salários, férias ou folgas. Envolve, de acordo com esse grupo,
questões subjetivas de reconhecimento, esperança, engajamento,
lutas, formação humana, superação de obstáculos, enfrentamento
de dificuldades e construção de cidadania.
Possibilidade de
trabalhar com jovens de diferentes classes sociais, entendendo que a
escola publica, para a maioria, representa um caminho (mesmo que
ainda não saibam) que oferece uma chance de um futuro melhor.
Albano C. M. Sampaio
- Física
Primeiramente, devo
informar que, exceto a faculdade, minha formação escolar ocorreu em
escola pública. Como também a de meus filhos. Portanto, a vivência
e a convivência com e na escola pública é de longo período, pois
que nela permaneço ainda e agora como profissional da educação,
lembrando, que o faço há 25 anos. Citar apenas um fator de
encantamento não é tarefa fácil, porém, creio que o enfrentamento
das dificuldades separadas pelos sujeitos que, engajadas de fato,
fazem a educação se concretizar, é o que me motivou a continuar
nesse trabalho.
Arlete Dolny –
Língua Portuguesa
Eu vejo nas escolas
públicas algo que me encanta, é a humildade de muitos alunos. Por
se tratarem, muitas vezes de famílias humildes, há uma dedicação
a mais por parte desses alunos.
Cleiton Rosa -
Física
A liberdade de
preparar as aulas, as avaliações e o planejamento das aulas,
buscando a formação dos alunos (as) e também perceber que pude
colaborar na melhoria da vida de alguns sujeitos.
Quando encontro
algum aluno(a) e percebo que o mesmo(a) é um cidadão honesto e
digno, percebi que pude contribuir.
Daniel José
Gonçalves Pinto – Geografia
A liberdade que
tenho para fazer meu trabalho, aqui podemos “conversar” mais com
nossos alunos, fazer um trabalho mais humanizado.
Enzo A. Souza -
Matemática
Maior autonomia,
tanto para docentes, quanto para os alunos.
Cristine Christofis
de Amorim - Arte
O interesse da
grande maioria dos alunos em aprender cada vez mais.
Elói R. de Oliveira
– Geografia
O que mais me
encanta na escola pública é a possibilidade de acesso a todos. A
chance que a sociedade encontra de aprofundar seus conhecimentos, sua
cultura e avançar com sue status na sociedade. Sempre estudei na
escola pública e acho que ela pode possibilitar aos outros tudo
aquilo que ela me possibilitou.
Barbara Duarte -
Química
Trabalhar com a
Educação Física me encanta, me realiza diariamente. Em escola
pública, pelo desafio de muitas vezes sem condições favoráveis
(falta de material, espaço adequado, etc) e ter um retorno muito
grande dos alunos, um sorriso, um obrigado. Quando falto, eles sentem
falta e é a única disciplina que precisamos repor a aula, pois é o
que eles mais gostam (a grande maioria).
Fabricio Kupczik –
Educação Física
Definitivamente
considero a dinâmica escolar algo que mais me motiva a desenvolver
meu trabalho. O grande encantamento e magia estão na relação do
fazer pedagógico, sua organização, desafios, obstáculos,
conquistas, sucessos e fracassos.
Mônica Soares –
Pedagogia
Um dos aspectos que
mais me encanta na Escola Pública é a ideia de pertencimento a um
coletivo que, num extremo de raciocínio, é a prórpia humanidade.
Essa situação em meus ideais seria a premissa para a democratização
e acesso a um saber ser humano que perpassa por práticas escolares,
práticas humanizadoras que num “fim de processo” proporcionaria
uma relação de respeito e dignidade dos homens.
Portanto, o que mais
me encanta na escola pública é justamente ela ser PÚBLICA,
pertencente a TODOS.
Daniele de Luca R.
Franco – Arte
Sou Professor de
Física e ministro aulas de Física!
Meu encantamento refere-se ao aprendizado conquistado pelos alunos! Ao ingressar na rede pública sempre desejei esta meta!
Espero que eles saibam aproveitar meu encanto ao transmitir este conhecimento!
Meu encantamento refere-se ao aprendizado conquistado pelos alunos! Ao ingressar na rede pública sempre desejei esta meta!
Espero que eles saibam aproveitar meu encanto ao transmitir este conhecimento!
Oswaldo
Pregolini
– Física
O que causa meu
“encantamento” na escola pública é a diversidade de seres e
saberes, ou seja, é onde convivem pessoas oriundas de diferentes
realidades sócio-econômico-culturais, detentoras de posicionamentos
e ideologias diversos, mas com um objetivo em comum: o conhecimento.
Essa diversidade demonstra que a escola pública é um espaço
privilegiado: aí está a vida e toda a sua substância.
Tania Maria Acco –
Língua Portuguesa
4.2. Ser
professor imprime imagens
Ao olharem para suas
trajetórias, os professores participantes dessa pesquisa, mostram em
suas reflexões que ao longo de sua atuação profisisonal, a escola
pública foi imprimindo imagens e deixando marcas.
São, nos dizeres
dos professores, cenários, mosaicos, impressões, vivências,
desafios, relações, etc. que foram, pouco a pouco, dando sentido ao
seu “ser professor”.
A escola pública é
local onde aprendi e ainda aprendo muito por ser aberto às
discussões, pontos de vista distintos (mesmo havendo bastante
divergência), convívio com demais colegas e estudantes.
Albano C. M. Sampaio
- Física
Espaço
não-elitizante. Essa qualificada mistura de sujeitos vindos e
advindos de quantos e tantos meios sociais acrescenta o conhecimento,
a convivência e a aquisição de uma diversidade infinda culturas,
crenças, hábitos, gostos, intenções, certezas, incertezas…
saberes acumulados ao longo de gerações pelas e nas comunidades
que, mesmo não tendo tido acesso à escolarização, produziram
ciências.
Arlete Dolny –
Língua Portuguesa
A imagem que tenho
da escola pública é de que se trata de um local de muitos desafios,
ela não atende a um único padrão de pessoas, e sim, há uma enorme
diversidade, e isto implica em grandes desafios a nós educadores.
Cleiton Rosa -
Física
A minha trajetória
na escola pública, me faz acreditar, cada vez mais, na importância
de seu papel na sociedade, e, que ela pode e deve sim ser uma escola
de “qualidade”, apesar de suas dificuldades.
Cristine Christofis
de Amorim – Arte
A escola pública me
passa uma imagem de estudantes que precisam de melhora, jovens que
querem crescer, serem melhores em todos os aspectos e tem escola como
um caminho mais acessível.
Enzo A. Souza -
Matemática
Para mim ela é
extremamente importante, pois foi onde obtive boa parte dos meus
conhecimentos.
Barbara Duarte -
Química
Uma melhora de vida
e a valorização dos estudos para ser uma pessoa melhor no sentido
dos conhecimentos, trabalho e vida de forma geral.
Daniel José
Gonçalves Pinto – Geografia
Em um primeiro
momento tive a impressão que era o caos absoluto. Depois percebi que
com o meu trabalho poderia ajudar na mudança para melhor que sempre
desejei.
Elói R. de Oliveira
– Geografia
Sou muito feliz na
escola pública, pelo retorno dos alunos e às vezes dos nossos
diretores, pedagogos e/ou colegas.
Fabricio Kupczik –
Educação Física
Visualizo-a como
sendo o grande cenário para o desenvolvimento integral da nossa
juventude. Porém, é necessário que façamos muito por ela, que
produzamos muitos conhecimentos e que reflitamos sempre sobre a nossa
prática.
Mônica Soares –
Pedagogia
As imagens são
muitas e vão compondo imagens maiores (mosaico). Existe uma proposta
de escola que faz parte de uma orientação governamental, no
entanto, essa escola é feita em cada espaço escolar pela
individualidade presente de seu corpo docente e discente (entre
outros). Inicialmente tinha muito mais características negativas
como o insucesso e a falta de perspectivas. Mas tal imagem foi
dialogando com outras práticas mais saudáveis de educação e hoje
tenho mais epserança num projeto de educação pública que “pode”
ser mito bom, dependendo dos rumos que decidimos percorrer.
Daniele de Luca R.
Franco – Arte
Vim da escola
pública, desde o ensino fundamental, médio e posterior graduação
e sempre fui acolhido com respeito e por profissionais qualificados,
e busco repassar a todos integrantes desta grande instituição de
ensino!
Oswaldo
Pregolini
– Física
Sou “filha” da
escola pública, toda a minha trajetória como estudante percorri
pelo Sistema Público de Ensino, o que me causa muito orgulho. A
imagem que mantenho da escola pública é a de uma “causa” que
sempre foi justa e pela qual se precisa continuar lutando, para que
ela conserve e, em muitos aspectos, resgate, sua importância, na
vida dos estudantes. Vale enfatizar que os alunos, apesar de
perceberem na escola muitas coisas a serem melhoradas, ainda a veem
como um lugar privilegiado de convivência e de trabalho que
contribui decisivamente para suas trajetórias pessoais e
profissionais, fato que deve ser preponderante nas análises para a
melhoria da qualidade da educação ofertada, em todos os aspectos.
Tania Maria Acco –
Língua Portuguesa
4.3. Ser
professor proporciona valorização e reconhecimento
Ao desenvolverem seu
trabalho pedagógicos, esses sujeitos, em meio a tantos desgastes e
contradições, puderam também experienciar prrocessos de
valorização e reconhecimento, como pessas e como profissionais.
São os olhares, as
palavras, os comentários, os elogios, os gestos de gratidão, o
carinho, os sorrisos dos alunos e colegas que, em variados momentos,
fizeram a diferença na sua rotina de trabalho. Não se trata de
situações menores ou inferiores, mas pequenas situações do dia a
dia que mostraram o potencial humanizador do processo educativo. E
não foram gestos esperados ou desejados, mas originados na
espontaneidade que somente uma profissão que tem o ser humano como
foco do trabalho é capaz de receber de modo tão positivo.
Em qualquer situação
onde, ao falar sobre determinado assunto, percebo que os estudantes
etão envolvidos com o tema.
Albano C. M. Sampaio
- Física
Posso dizer que se
sentir valorizado e reconhecido pelos outros não é o devemos
esperar para darmos continuidade ao nosso trabalho. No entanto,
aquilo que realmente conta para mim é o retorno que vem daqueles(s)
que é (são) meus alunos (e alunas). Um depoimento, um
agradecimento, a escolha como homenageada pela turma no momento da
formatura, um abraço apertado; enfim, essas atitudes me fazem
acreditar que o trabalho realizado na escola pública não foi e não
é em vão, considerando que além dos conteúdos ensinados, estamos
participando da formação humana daqueles com quem convivemos em
sala de aula.
Arlete Dolny –
Língua Portuguesa
O fato de
reencontrar com ex-alunos e durante a conversa abre um grande carinho
e reconhecimento da sua importância para a vida daquele aluno.
Cleiton Rosa -
Física
Muitas vezes, até
um olá carinhoso de um ex-aluno, me faz sentir valorizada e
realizada.
Cristine Christofis
de Amorim – Arte
Quando encontro
alunos que já se formaram, meus da escola pública e estes estão na
universidades e muitos em grandes universidades e os mesmos vem e te
agradece, confesso é uma sensação muito boa, não há
reconhecimento melhor.
Enzo A. Souza -
Matemática
Encontrar alunos
formados na faculdade dizendo que agora entendiam minhas cobranças e
eram gratos por isso. Ver também a progressão dos alunos durante o
ano – perguntar coisas passadas e eles ainda lembraram como
resolver.
Barbara Duarte -
Química
Ser escolhido como
padrinho de turma, em formatura, em algumas ocasiões, pelo diálogo
e compromisso. Também encontrar alunos(as) fazendo Mestrado e em boa
situação familiar, financeira, etc.
Daniel José
Gonçalves Pinto – Geografia
Felizmente tive
vários momentos em que os alunos agradeceram pelo meu trabalho e
minha disposição em ajudálos e entender melhor o mundo que os
cerca.
Elói R. de Oliveira
– Geografia
Quando um pai/mãe
vem falar comigo, agradecendo pela aula que ministrei, que seu filho
chega em casa todo empolgado e conta o que fez. Aqui no CEP tenho
tido muito retorno dos pais e, principalmente, dos alunos.
Fabricio Kupczik –
Educação Física
Na fala de meus
orientandos/estudantes do Ensino Médio, na gratidão deles e de seus
familiares., nos grupos de áreas /disciplinas junto com os
professores que trabalho. Um olhar, palavras, comentários, elogios
que me fizeram ser grata também a esta profissão.
Mônica Soares –
Pedagogia
Quando fui dar uma
palestra para a Licenciatura de Música da EMBAP para falar da escola
pública e o Ensino da Arte foi muito interessante ser reconhecida
não primeiramente como artista, mas como educadora.
Daniele de Luca R.
Franco – Arte
O simples fato de
poder ter a liberdade de ensinar já é gratificante, principalmente
quando contemplo um(a) jovem conquistar seus sonhos tendo meus
ensinamentos como referencia! Neste sentido um aluno no ano passado
,Daniel do ensino técnico conquistou a medalha de ouro na olimpíada
brasileira de Física! Ele conquistou! Não foi necessário ninguém
fazer a prova para ele, nem pensar em falsas recuperações ou ajudas
irresponsáveis! Ele conquistou! UM ALUNO DE ESCOLA PÚBLICA! Não
precisei fazer nenhum acordo com ele ,ou ser um falso amiguinho para
ter sua atenção! Fui simplesmente seu professor e o mérito pela
conquista foi inteiramente dele! Estou realizado!
Oswaldo
Pregolini
– Física
Sinto-me valorizada
todas as vezes em que, casualmente, encontro, ou sou procurada, por
ex-alunos, e eles mencionam o quanto aprenderam com o trabalho
desenvolvido em sala de aula, lembrando das “conversas” e
discussões sobre os conteúdos ministrados. Também percebo
reconhecimento quando há apoio da equipe pedagógica e
administrativa da escola nas ocasiões em que desenvolvo atividades e
projetos extraclasse, para fortalecimento da aprendizagem.
Tania Maria Acco –
Língua Portuguesa
4.4. Ser
professor é ter motivação para o exercício profissional
Além das
impressões, encantamentos e valorização que vêm da rotina,
especialmente por parte dos alunos, há também na profissão docente
motivações objetivas que dão sentido maior à ação pedagógica.
São questões que
dizem respeito ao salário, carreira, estabilidade, flexibilidade de
horário, autonomia na elaboração das aulas, processo de
humanização, interação, entre outros, que, de algum modo,
completam o ser professor.
Estabilidade,
carreira, autonomia (certa flexibilidade para tomada de decisões).
Albano C. M. Sampaio
- Física
O salário ainda não
é o motivador de permanência. Permaneço porque, como já exposto
em considerações gerais acima, a escola pública é o espaço
social no qual podemos encontrar e aprender a trabalhar com todas as
diversidades e adversidades. Diria que podemos ir além, muito além,
do que fez Hércules.
Arlete Dolny –
Língua Portuguesa
Me motiva em saber
que estou sendo parte decisiva na formação de seres humanos, assim
como na época que estudei, tive meus professores me auxiliando na
minha formação. Hoje vejo o quanto sou importante e entendo minha
imensa responsabilidade na vida desses alunos.
Cleiton Rosa -
Física
Acreditar que é
através de uma formação humana, social, integral... que poderemos
transformar a nossa sociedade.
Cristine Christofis
de Amorim – Arte
Os estudantes são
mais “humanos” e precisam mais do professor próximo a eles. A
esta realidade é um fator motivador e muito importante. Ter alunos
que querem crescer, que buscam sucesso profissional e como pessoas
melhores.
Enzo A. Souza -
Matemática
Fé. Acreditar que
muitos alunos tem interesse. Mesmo observando que existem caminhos
mais fáceis, procuram de forma digna e intelectual o seu progresso.
Barbara Duarte -
Química
O plano de carreira,
a estabilidade, a flexibilidade de horário, autonomia na elaboração
das aulas.
Daniel José
Gonçalves Pinto - Geografia
O ensino é um dos
caminhos para liberdade e entendimento das mais variadas questões
que nos acompanham desde o surgimento da criação do ser humano. É
por isto que trabalho e incentivo meus alunos a buscar rspostas.
Buscar entender o mundo que nos cerca e encontrar formas para
melhorá-lo.
Elói R. de Oliveira
- Geografia
A profissão que
escolhi já é motivadora por si só, pois como sempre digo, sou uma
criança grande, me divirto muito com o que faço e com todo retorno
positivo dos alunos. Claro que temos conteúdos e objetivos a serem
alcançados, mas é muito prazeroso.
Claro que pensamos
também na estabilidade, no salário garantido no final do mês, pois
temos filhos, família, compromissos a cumprir.
Fabricio Kupczik –
Educação Física
Os desafios diários
que envolvem os estudantes / professores / familiares. Todavia,
gostaria que muitas coisas já pudessesm ter mudado ou acrescido a
elas. Ocurrículo, o entendimento de que é pedagogia, a dinâmica
das informações, formação continuada mais específica por área
onde pudéssemos ouvir mais de profissionais de nossa áea e de
outras.
Mônica Soares -
Pedagogia
Acredito que o ser
humano vive e existe no mundo para se educar e esta educação é de
um todo feito individualmente e em conjunto; com objetivo de
descobrir-se em sua plenitude.
Daniele de Luca R.
Franco – Arte
O motivo não mudou
com o passar dos anos! Desejo que meus alunos aprendam a conquistar!
Alcancem o sucesso e se valorizem como profissionais!
Oswaldo
Pregolini
– Física
A maior motivação
para o exercício da minha profissão na escola pública vem da
credibilidade que mantenho nela, com toda a sua riqueza de
convivências e com profissionais capacitados para o trabalho. Penso
que, com investimentos adequados e ações permanentes para seu
fortalecimento, seja no âmbito pedagógico (com a devida valorização
e capacitação contínua de todos os seus profissionais e a
discussão e, conseqüente, revisão e fortalecimento do currículo),
como no âmbito administrativo e financeiro (com a reforma e
manutenção física dos seus espaços), muito avançaremos para a
conquista de uma escola pública com mais qualidade.
Tania Maria Acco –
Língua Portuguesa
A esse conjunto de
questões foi possível estabelecer um panorama geral das
experiências docentes na escola pública, evidenciando o importante
papel da reflexão e das relações humanas.
Não se trata, como
já mencionado, de ingenuamente acreditar que tudo está bem ou
ignorar aquilo que causa desprestígio e rebaixamento da profissão e
das condições objetivas de trabalho, mas evidenciar que a profissão
docente possibilita a humanização da forma mais instigante e
desafiadora.
5. Considerações
Finais
Como o processo de
ensino, resultado do trabalho docente, é construído e materializado
pela ação do professor, torna-se cada vez mais imprescindível
criar espaços de reflexão e discussão, especialmente no interior
das escolas, para fortalecer a ideia de pertença a um coletivo e
também para que a voz do professor esteja mais presente no debate
educativo. E isto não é dado ao trabalhador docente. É resultado
de luta.
Os trabalhadores da
educação estão entre os mais numerosos e importantes grupos
ocupacionais, tanto pelo seu número como pelo seu papel. Isto remete
às questões do financiamento público da educação, da carreira e
salário dos profissionais docentes, bem como das condições de
infraestrutura necessária nas escolas, pois a melhor qualificação
da educação passa também por esses aspectos, os quais não estão
postos à altura das exigências que têm sido feitas às escolas e
seus trabalhadores. A pauperização da profissão deve ser
revertida. E revertida com profissionalismo, compromisso e
responsabilidade.
Não dá para se
manter o discurso de que a educação não precisa de mais verbas.
Para um trabalho decente é necessário, sim, investimentos cada vez
maiores por parte do Governo, a fim de melhorar a escola, o ensino e
as condições de trabalho dos trabalhadores da educação.
O presente trabalho
se propôs a refletir com os professores sobre a profissão docente a
partir das experiências de um grupo de profissionais do Colégio
Estadual do Paraná.
As reflexões
oriundas desse trabalho trouxeram olhares novos e novas perspectivas
de valorização pessoal a partir da própria trajetória
profissional.
Num momento de
“olhar para si” cada docente percebeu que, sem ignorar as
adversidades, os problemas, as dificuldades e os embates, a profissão
docente proposciona um despertar e um formar-se cotidianamente pelas
interações que ocorrem.
Nesse sentido, fazer
emergir novas reflexões sobre a própria vida profissional é um
desafio que se coloca tendo em vista o objetivo de, ao mesmo tempo
que se trabalha com o conhecimento escolar, também se desenvolve
processos de socialização e humanização das novas gerações.
6. REFERÊNCIAS
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1Pedagogo
da Rede Estadual do Paraná, atua no Colégio Estadual do Paraná,
em Curitiba. Professor participante do PDE e Mestrando em Educação
pela UFPR. E-mail: supervisoralex@bol.com.br
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