Alexandro
Muhlstedt1
Resumo:
O presente texto é
o relato de oficina desenvolvida no Progama “Formação em Ação”,
a qual se insere como atividade de formação continuada em serviço,
sendo, neste caso, de professores que atuam no Ensino Médio noturno
no Colégio Estadual do Paraná. Foi desenvolvida em dois encontros,
em julho e outurbro de 2014, e foi coordenada por pedagogos. Por meio
de levantamento de problemas, discussões e reflexões, buscaram-se
alternativas para melhorar o processo de ensino e apredizagem nesse
turno da escola. Entendendo, à luz das Diretrizes Curriculares
Nacionais do Ensino Médio, que o estudante do período noturno é
trabalhador, concluiu-se que existe a necessidade de revisão
constante de metodologias docentes, estudos e compreensões mais
apuradas sobre a realidade e as necessidades desses estudantes.
Palavras-chave:
Ensino noturno; Estudante trabalhador, Trabalho docente, Colégio
Estadual do Paraná, Formação continuada.
INTRODUÇÃO
Com o objetivo de
refletir sobre a questão do Ensino Médio Noturno do Colégio
Estadual do Paraná foi realizada, em 28 de julho e 07 de outubro,
das 20 às 22h, a oficina denominada: “Os estudantes e professores
do Ensino Médio Noturno”. Essa atividade fez parte do programa de
formação continuada dos professores “Formação em Ação”,
evento da Secretaria de Estado da Educação, prevista no Calendário
Escolar, da qual participaram todos os professores e funcionários do
Colégio.
Na oficina
mencionada, coordenada pelos pedagogos Alexandro Muhlstedt e Simone
Baranhuk, realizada na Sala 113, foi possível aprofundar aspectos
sobre o Ensino Médio noturno, junto aos professores que atuam neste
turno.
A decisão pelo tema
partiu das observações realizadas pelos pedagogos ao longo do 1º
Semestre, especialmente no momento do 1º Conselho de Classe e nos
Plano de Trabalho Docente, nos quais notou-se a necessidade de
refletir melhor sobre os sujeitos que atam no período noturno. Esse
relato é, então, resultado de observações e análises
depreendidas no dia a dia da escola.
1. A metodologia
adotada
Os pedagogos optaram
por estudo de estudo e reflexão, trabalho em pequenos grupos,
registros em forma de painel, apresentação em plenária e debate.
2. A atividade
proposta
Para realizar a
atividade, os pedagogos responsáveis selecionaram um texto constante
nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio, de 2011, que
trata sobre os estudantes do Ensino Médio Noturno. O texto, elemento
desencadeador da reflexão, foi estudado e a partir dele, sugerida
uma reflexão sobre o estudante do ensino médio noturno. A questão
sugerida foi: “Em que medida o Ensino Médio de nossa escola
aparece no texto das DCNEM?”
Após a reflexão,
papeletas foram distribuídas aos professores para que escrevessem
“Quais os problemas vivenciados no noturno do CEP?”. As papeletas
foram fixadas no painel, na parede, e o grupo foi elencando situações
semelhantes e exemplificando-as. Os problemas citados foram:
- Falta de interesse em estudar / Desatenção
- Falta de motivação, de identidade / pertencimento do aluno com o Colégio
- Carência
- Indisciplina (atrasos após intervalo / solicitações para ida ao banheiro / uso do celular / alunos exageram nas brincadeiras)
- Alunos com interesses pré definidos
- Falta de tempo para estudar / trabalhar de dia
- Alunos fora da faixa etária
- Turmas numerosas
- Carga horária reduzida
- Violência ao redor do colégio
- Evasão escolar
Todos
os problemas apontados são vivenciados cotidianamente pelos
professores.
Salientaram que esses problemas são causa e consequência de
questões mais amplas, que fogem ao alcance da ação escolar. No
entanto, exige-se que ações sejam desenvolvidas para amizar as
situações apontadas.
Foi proposto ao
grupo um conjunto de reflexões e discussões sobre os problemas
apontados, buscando compreendê-los em sua dimensão macro e
microssocial.
3. Apontando
novas possibilidades
Para encerrar, os
participantes do grupo trabalharam em duplas para apontar possíveis
soluções. Para isso, sugeriu-se a seguinte questão: “O que
fazer para alcançar o inverso dos problemas?”.
Os professores
mencionaram o seguinte:
Práticas
e metodologias diferenciadas; não permitir o uso de celulares e
afins; atuação de profissionais da psicopedagogia.
(Professores
Wanda / Biologia e Leonardo / Filosofia)
Condições
favoráveis de trabalho como turmas com menor número de alunos, na
faixa etária equilibrada; propiciar mais possibilidades de
estratégias metodológicas que favoreçam o contato e orientação
mais humana aos alunos; EJA mais eficiente para alunos de mais idade.
(Professora
Dalnei / Arte)
Currículo
diferenciado, aulas / oficina / laboratório integrado com várias
disciplinas optativas; metodologia que promova a relação do
conteúdo escolar com a história e o munda da vida.
(Professor
Carlos Alberto / Arte)
Trabalho
de conscientização com alunos indisciplinados ou imaturos para o
Ensino Médio Noturno; emprego de novas tecnologias nas aulas –
computador, xilofones, teclado, laboratório de Inglês, geografia e
demais disciplinas), quadro de giz adequado para aula de Arte;
desenvolver atividades avaliativas em sala.
(Professores
Eloi / Geografia e Mario Sergio / Inglês)
Proporcionar
aos alunos aulas vivenciais; fomentar a procura pelo conhecimento;
organização dos conteúdos a cargo do professor e visando uma maior
identidade por parte do educador; contar como parte da avaliação
cursos e oficinas inerentes a cada matéria.
(Professor
Jeronimo / Arte)
Nota-se
um conjunto de ideias, sugestões e propostas idealistas, que fazem
emergir o “sonho” e as aspirações dos professores por uma
escola em que posso concretizar seus desejos de bom ensino.
Salientou-se que o trabalho na escola está para além do alcance dos
interesses pessoais de cada professor, mas das decisões tomadas pelo
coletivo, em consonância com a legislação e as possibilidades
pedagógicas da própria mantenedora. Isso não signfica comodismo,
mas compreender as questões atrewladas à realidade e viabilidade de
implementação.
4. Apresentando
Proposta de Atividade
Diante das questões
apresentadas pelos professores na primeira parte da Oficina
percebeu-se a necessidade de continuidade das reflexões, a fim de
estabelecer, coletivamente, novas estratégias e novas ações
pedagógicas que considerem as peculiaridades do ensino médio
noturno no CEP.
Por isso, em 07 de
outubro realizou-se o segundo encontro do “Formação em Ação”,
no qual propôs-se estudo e reflexão sobre “Os professores e os
estudantes do Ensino Médio Noturno”.
Os pedagogos do
noturno Alexandro Muhlstedt, Simone Baranhuk e Ana Lucia de Lara
organizaram a seguinte sequência de atividades:
- Leitura / Socialização do relatório de julho de 2014.
- A partir das sugestões apresentadas pelos professores, apontar estratégias possíveis e viáveis para 2015 que considere a realidade do Ensino Médio Noturno do CEP.
- Música: Queremos saber, de Gilberto Gil.
- Leitura do texto: O Sentido da Formação Humano Integral.
- Compartilhamento de percepções / opiniões.
5. Sistematizando
as Discussões
Após a leitura do
relatório do encontro de julho, os professores escreveram ações
para as possibilidades apontadas:
POSSIBILIDADES
ELABORADAS EM JULHO
|
AÇÕES
SUGERIDAS EM NOVEMBRO
|
Práticas e
metodologias diferenciadas;
Não permitir o
uso de celulares de afins;
Atuação de
profissionais da psicopedagogia.
(Wanda
- Biologia e Leonardo - Filosofia)
|
Propor uma
organização diferente da sala de aula similar à organizada em
aulas de aprendizado de língua estrangeira, cujas práticas
privilegiem a leitura, a escrita, a audição e a oralidade –
EM TODAS AS DISCIPLINAS.
Além disso, é
necessário contemplar os diversos tipos de aluno, bem como a
maneira como estes aprendem, pois o colégio prioriza o aluno
auditivo em detrimento das demais formas de aprendizagem.
(Denise
– Matemática e Adriano – Língua Portuguesa)
|
Condições
favoráveis de trabalho como turmas com menor número de alunos,
na faixa etária equilibrada;
Propiciar mais
possibilidades de estratégias metodológicas que favoreçam o
contato e orientação mais humana aos alunos;
EJA mais
eficiente para alunos de mais idade.
(Professora
Dalnei/Arte)
|
Turmas
com 30 alunos
(Professora
Dalnei - Arte, Waldemar – Arte, Carlos de Paula - Arte, Beatriz
- Estagiária de Pedagogia)
|
Currículo
diferenciado, aulas oficina/laboratório integrado com várias
disciplinas optativas;
Metodologias que
promovam a relação do conteúdo escolar com a história e o
mundo da vida.
(Carlos
Alberto - Arte)
|
Buscar o
currículo valorizando as disciplinas e culminando em todos os
anos, por áreas exatas ou propedêutico.
Oficinas
valerem-se com currículo, carga horária e aproveitamento.
Interdisciplinariedade
dos conteúdos escolares com significados para o meio em que o
aluno vive.
(Dalnei
- Arte, Waldemar – Arte, Carlos de Paula - Arte, Beatriz -
Estagiária de Pedagogia)
|
Trabalho de
conscientização com alunos indisciplinados ou imaturos para o
Ensino Médio Noturno;
Emprego de novas
tecnologias nas aulas – computador, xilofones, teclado.
Laboratório de
inglês, geografia e demais disciplinas.
Quadro de giz
adequado para aula de Arte.
Desenvolver
atividades avaliativas em sala.
(Eloi
– Geografia; Mario Sergio - Inglês)
|
Trabalho de
conscientização: Já está acontecendo com reuniões para a
conscientização dos pais e alunos.
Trabalho
realizado em relação as faltas e a indisciplina. Acreditamos que
este trabalho possa ser ampliado para mais discussões.
Novas
tecnologias: Busca dos recursos necessários. Cabe a direção,
coordenação pedagógica, professores pensarem no coletivo o
acesso as novas tecnologias.
(Elói
– Geografia, Geraldo - Arte)
|
Proporcionar aos
alunos aulas vivenciais;
Fomentar a
procura pelo conhecimento;
Organização dos
conteúdos a cargo do professor e visando uma maior identidade
por parte do educador;
Contar como parte
da avaliação cursos e oficinas inerentes a cada matéria.
(Professor
Jeronimo - Arte)
|
Visitas a museus,
exposições, instituições, universidades, cinema, teatro, etc.
Buscar sempre
desenvolver os conteúdos a partir da realidade /
cotidiano/vivência do estudante, aproximando tais conhecimentos
da sua existência e ao mesmo tempo fornecer condições e assim
desenvolver a sua própria criticidade.
No Colégio
Estadual do Paraná já se fazem na prática avaliações
diferenciadas como por exemplo relatórios de aulas práticas,
oficinas de arte, treinamento nos esportes, entre outras.
(Wanda
Sofia Kusch – Biologia e Wilson José Vieira - Filosofia)
|
Para
complementar a reflexão e fomentar o objetivo central da escola –
que é a disseminação de conhecimento historicamente elaborado -
foi ouvida a música: “Queremos
saber”, de
Gilberto Gil, interpretada por Cassia Eller. O objetivo foi a
sensibilização e compreensão a partir da música.
Queremos saber o
que vão fazer com as novas invenções
Queremos notícia mais séria sobre a descoberta da antimatéria
E suas implicações na emancipação do homem das grandes populações
Homens pobres das cidades, das estepes dos sertões
Queremos saber, quando vamos ter raio laser mais barato
Queremos, de fato, um relato, retrato mais sério do mistério da luz
Luz do disco voador pra iluminação do homem
Tão carente, sofredor, tão perdido na distância da morada do senhor
Queremos saber, queremos viver, confiantes no futuro
Por isso se faz necessário prever qual o itinerário da ilusão
A ilusão do poder pois se foi permitido ao homem tantas coisas conhecer
É melhor que todos saibam o que pode acontecer
Queremos saber, queremos saber, queremos saber, todos queremos sabe
Queremos notícia mais séria sobre a descoberta da antimatéria
E suas implicações na emancipação do homem das grandes populações
Homens pobres das cidades, das estepes dos sertões
Queremos saber, quando vamos ter raio laser mais barato
Queremos, de fato, um relato, retrato mais sério do mistério da luz
Luz do disco voador pra iluminação do homem
Tão carente, sofredor, tão perdido na distância da morada do senhor
Queremos saber, queremos viver, confiantes no futuro
Por isso se faz necessário prever qual o itinerário da ilusão
A ilusão do poder pois se foi permitido ao homem tantas coisas conhecer
É melhor que todos saibam o que pode acontecer
Queremos saber, queremos saber, queremos saber, todos queremos sabe
O trabalho em
pequenos grupos e as reflexões a partir da música possibilitaram
alguns questionamentos ao grupo, como por exemplo: Em que situações
o professor “muda”? O grupo manifestou um conjunto de ideias
expressando que as mudanças no professor ocorrem: “Quando ele
quer”, “Devido as práticas que deram certo”, “Utilizando a
própria avaliação como forma de mudança”. Isso levou ao
questionamento qsobre quais mudanças devem acontecer, mas sem
esvaziamento pedagógico.
Também
perguntou-se: “Por que mudar?” e o grupo de professores apontou
que implementam-se mudanças: “Quando tem problemas”, “Quando
atingem o professor”.
O grupo também
trouxe ao debate questões que acabam fazendo com que o professor
seja massacrado pela cultura escolar instalada, como as condições
objetivas de trabalho, a despolitização do mesmo, a perca do
caminho dos sentidos e significados da escola, a entrada em rotinas e
a escazzes de tempo para estudos.
Expuseram também
que no CEP há tentativas para autonomia do professor, mas que ainda
não foi alcançadas como um todo. Entendem que há uma autonomia
relativa e um passo importante é ressignificar as relações e os
diálogos.
6. Conclusão
Com a realização
dessa Oficina foi possível, do ponto de vista dos Pedagogos, elencar
algumas questões mencionadas pelos professores eme seus relatos.
O desinteresse ou
falta de interesse em estudar por parte dos alunos tem muito a ver
com o processo que ocorre na escola que não atende aos interesses
dos alunos. Afinal, nem sempre o histórico de vida dos alunos que
estudam no período noturno são considerados, tampouco questões
como “para que aprender”, “para que estudar”. Assim, torna-se
importante questionar qual seria o real sentido da escola. Tanto para
os estudantes, quanto para os próprios professores que atuam no
período noturno.
Houve relato do
período noturno ser reservado para estudantes que reprovam no
diurno, cristalizando a ideia de um ensino inferior, de menor
qualidade. Seria realmente o aluno do noturno um aluno trabalhador?
Pesquisa nas três turmas de 1º série mostrou que, de 56 alunos, 30
possuem alguma atividade profissional durante o dia. E nessas mesmas
turmas a maioria tem entre 14 e 15 anos, demonstrando estarem na
faixa etária adequada.
Fortalece-se a ideia
de que há no noturno uma imagem de “aluno refugo”. Essa imagem
de aluno, negativa e derrotista, “forçaria” a uma prática de
ensino pelos professores de menor qualidade, até porque não valeria
a pena investir na aprendizagem desses alunos sabendo-se que não
querem aprender. O professor estaria refém desse perfil de aluno,
mesmo lamentando que “bons” alunos acabam “perdendo tempo” e
não avançando em sua aprendizagem. Nivela-se por baixo.
A evasão ocorre em
função do cansaço daqueles que trabalham e moram longe da escola,
até porque o CEP não possui comunidade (está fora do Geo
Referenciamento) e quem matricula-se na escola é por escolha, mesmo
residindo distante.
A Educação de
Jovens e Adultos precisa ser reorganizada pois muitos alunos fora da
idade recusam-se a transferir-se para escola mais adequada às suas
condições de idade por acharem que aluno de EJA é discriminado
quando busca acesso ao trabalho.
Os professores falam
da necessidade de melhores condições de trabalho (menos alunos em
sala, por exemplo) e diante disso manifestam certo conformismo com as
situações atuais à espera de condições ideais. Reflete-se o que
pode ser feito considerando o que se tem.
Conclui-se que ainda
há muito o que se trilhar nas discussõers e reflexões acerca do
ensino no período noturno no Colégio Estadual do Paraná. Momentos
como os que foram vivenciados no “Formação em Ação”
possibilitam rediscutir e repensar estratégias em em prol dos
estudantes que buscam na escola pública educação e formação.
7. Referências
Bibliográficas
BRASIL. Diretrizes
Curriculares Nacionais do Ensino Médio, 2011.
GIL, G. Queremos
saber. Interpretação de Cassia Eller. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=hlbt97rJY1A>.
Acesso em 06/10/2014.
1
Pedagogo da Rede Estadual do Paraná, atua no Colégio Estadual do
Paraná, em Curitiba. Professor participante do PDE e Mestrando em
Educação pela UFPR. E-mail: supervisoralex@bol.com.br
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