terça-feira, 10 de novembro de 2009

BREVE REFLEXÃO SOBRE O TRABALHO DO PEDAGOGO: A formação continuada do professor na hora atividade

Alexandro Muhlstedt

Há anos as escolas do Paraná contam, em seu quadro de pessoal, com o pedagogo como profissional, especialista de educação. No entanto, essa presença não tem conseguido interferir significativamente na qualidade dos serviços que a escola vem prestando à sociedade. Apesar da forte presença no cotidiano da escola, assistimos a uma verdadeira inversão de papéis.
A ação do pedagogo junto aos professores tem se revelado insuficiente, inadequada, pouco expressiva porque este profissional acaba se envolvendo (por força das circunstâncias e da necessidade) num verdadeiro turbilhão de tarefas. Tarefas que, na maioria dos casos, nem precisa ser pedagogo para resolver. Dito isso, a ação do pedagogo no momento da hora atividade do professor, bem como o atendimento (discussão, estudos, reflexão) acabam não ocorrendo satisfatoriamente porque o pedagogo se vê imerso em dezenas de atividades que compromete drasticamente o acompanhamento do ensino e da aprendizagem.
Notemos, por exemplo, um dia “normal” em nossas escolas da rede estadual: cuidar da entrada dos alunos, recreio, saída; organizar as filas de entrada dos alunos; atender os pais na escola; ligar para os pais dos alunos doentes, faltosos, com dificuldade de aprendizagem; substituir professores faltosos; informar os pais de trabalhos não feitos pelos seus filhos; registrar o comportamento de alunos indisciplinados; conversar com alunos indisciplinados por falta de autoridade do professor; encaminhar o Projeto Político Pedagógico, Proposta Pedagógica Curricular, Regimento Escolar, etc; verificar Plano de Trabalho Docente; organizar trabalhos de Plano Especial de Estudos; acompanhar dependência e adaptação curricular; passar remédio quando caem os alunos; atender alunos na hora do lanche; promover Conselho de Classe; organizar a agenda de passeios; fazer mapeamento de aprendizagem; acalmar professores exaltados; não permitir que mães batam em seus filhos dentro do colégio; orientar aluno nervoso; conversar sobre princípios éticos dos alunos; atender aluno que se sentiu ofendido pelo professor; verificar atividades dos alunos de SAREH (Serviço de Atendimento à Rede Hospitalar); explicar aos professores sobre a FICA (Ficha de Aluno Ausente); preencher documentos, fichas, relatórios, questionários, pesquisas; atender estagiários; participar de reuniões de conselho escolar, APMF(Associação de Pais, Mestres e Funcionários); corrigir calendário escolar; entre outras atividades.
Diante disso nos questionamos: Quando, finalmente, poderemos sentar, estudar, refletir e construir novos rumos para o ensino aprendizagem junto ao professor?
Na hora atividade, muitas vezes o professor está lá, de olho, aguardando, ansioso, o momento em que o pedagogo se desvencilha dos atendimentos apaga incêndio, para vir perguntar algo sobre como melhorar sua prática a fim de possibilitar que determinado aluno consiga aprender... Muitas vezes, se torna desgastante demais não visualizar seu trabalho de forma mais concreta, mais pedagógica.
Sabemos que o pedagogo atuante favorece a formação em serviço, a reflexão e o estudo, fortalece a interação humana na escola, organiza o cotidiano, estimulando o respeito mútuo e a boa convivência.
Para bem atuar no enfrentamento de suas funções no cotidiano da escola, é necessário saber com muita clareza o que é essencial, o que é importante e o que é acidental. Mas não basta só saber. É preciso querer e priorizar fazer só o que é necessário a cada momento. O pedagogo realmente competente só tem tempo para o que é essencial em seu campo de atuação. Ele deve procurar executar a essencialidade com muito esmero, dando atenção aos detalhes, garantindo o sucesso em tudo na primeira investida, evitando o desperdício de esforços e de tempo, agindo como estimulador cultural, criando condições necessárias à conquista de melhores resultados, vencendo, uma a uma, as amarras do tradicional em seu trabalho, sem medo de errar, evitando ser um tarefeiro, pau para toda obra ou fiscal do desempenho do professor.
Consideramos importante a ideia de definir com o grupo de professores a essencialidade da própria ação, identificando onde a presença do pedagogo se faz necessária. Por exemplo, onde a atuação docente apresenta resultado insatisfatório ou fraco: junto aos professores novatos, com dificuldades para conduzir o trabalho de classe. É essencial trabalhar com dignidade e ânimo para vencer as eventuais resistências, com competência e humildade; atuar com boa vontade, promovendo mudanças de forma fácil e cooperativamente, como co-partícipe do sucesso profissional de todos. Onde há uma vontade, há um caminho. Mas, onde existe boa vontade, existem vários caminhos. E é nessa direção que devem ser trilhados o caminho de uma ação pedagógica que, considerando o contexto da instituição, também envolve o conjunto de condições oferecidos e existentes nas rotinas da escola.
Essas condições não são oferecidas de modo gratuito, pela bondade de governantes ou compaixão de diretores. Elas são construídas e exigidas de modo coletivo, é fruto de lutas e expressão de trabalho ético e comprometido. Quando não são ideais, necessitam de profissionais reais para concretizar ação coerente, fugindo dos processos que engolem a rotina em situações corriqueiras. Há, então, necessidade da fuga do “papel de bombeiro” para postura e posicionamento ético, digno, coerente com princípios da organização verdadeira do trabalho pedagógico.
Dessa forma, o pedagogo deixa de ser um apagador de incêndios e passa a trabalhar no sentido de conseguir alcançar, pelo menos, três metas:

META 1
Evidenciar o bom desempenho docente em suas funções básicas, incentivando o professor a buscar o próprio crescimento junto aos colegas. Ninguém cresce sozinho. Todos temos algo a contribuir para o crescimento alheio, um pouquinho que seja. É a qualificação em serviço, tendo em vista ações possíveis e viáveis, ousando e realmente se envolvendo pela busca da melhoria no desempenho.



META 2
Valorizar o professor como profissional, reconhecendo-lhe todo e qualquer bom desempenho evidenciado; e como pessoa, ouvindo-o com respeito e empatia, criando espaço para que participe efetivamente do processo educativo. Criando o espaço de troca e de diálogo, em que todos possam ser sujeitos de ação e agentes de mudança.



META 3
Implementar o currículo proposto no projeto político-pedagógico da escola, acompanhando o processo de ensinar, avaliando a ação pedagógica e procurando viabilizar a boa e saudável interação humana no interior da escola: professor–professor, professor–aluno, professor–pedagogo; e também fora dela: professor–escola, escola–comunidade. O pedagogo deve, ainda, esforçar-se para adquirir uma boa cultura geral, a fim de ser capaz de transformar princípios em ação.











Nesse sentido, para o pedagogo, enquanto intelectual comprometido com a transformação social, pensar a escola concreta é ponto estratégico, pois a partir daí, inicia-se um novo movimento: o de buscar compreender o meio em que ela está inserida, seus desafios, seus anseios, suas contradições e seus limites. É preciso analisar o mundo do aluno para, a partir do conhecimento de sua realidade, ajudá-lo a encontrar meios para mudar a correlação de forças com a sociedade que o explora. E a partir daí, procurar desenvolver a sua capacidade de organizar o pensamento e compartilhar suas ideias, de se constituir enquanto grupo, de compreender a força da ação coletiva, de liderar, de pensar criticamente a realidade social, de filtrar da história oficial a história de sua classe, de se capacitar a se tornar sujeito de sua própria história. (VALE, 1982, p. 35).
Para tanto, cabe ao Pedagogo viabilizar articulações no processo ensino aprendizagem promovendo abertura no interior da escola para que professores, alunos e pais de alunos, como um todo, possam estudar, discutir e avaliar a qualidade dos conteúdos trabalhados, bem como o material didático, procedimentos de ensino, avaliação e programas, ou seja, tudo o que faz parte do trabalho pedagógico na sua totalidade. Assim, o pedagogo estará comprometido com a construção de uma sociedade democrática, visando à superação do trabalho fragmentado dentro da estrutura educacional. Certamente, é grande o desafio do Pedagogo em efetivar seu trabalho no âmbito da ação coletiva.
Porém, além de ser uma questão de compromisso pessoal, é também uma questão de formação, daí a necessidade de instituições de ensino superior que estejam dispostas a formar profissionais capacitados para estarem rompendo com as teorias tecnicistas, reformulando a ação tecnicista, fragmentada do trabalho escolar, e buscando o trabalho coletivo na execução das diversas funções dentro da Escola. E, principalmente, enfatizando sempre que o projeto maior de todo pedagogo, independentemente da sua área de atuação, é o processo de produção do conhecimento.
E, finalmente, para que se realize, no “chão de fábrica” e no cotidiano de nossas escolas, necessitamos garantir que a hora atividade do professor seja hora de produção, de reflexão, de estudos, de embate de ideias, etc mediados pela ação do pedagogo. Pedagogo enquanto profissional do conhecimento, e não de tarefas e ações que não exigem formação em Pedagogia, como algumas citadas nesse texto.
Necessitamos, então, formalizar nossa prática pedagógica, conectada às necessidades da escola e, sobretudo, às necessárias transformações no fazer do Pedagogo.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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