A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO
A sociedade dos nossos dias é uma sociedade organizacional, as organizações sucedem-se e complementam-se, constituindo elas mesmas a sociedade. A escola é uma dessas organizações, talvez a mais importante, uma vez que é através desta que se formam os indivíduos que influenciarão e farão parte das organizações que se lhe sucedem.
De acordo com Brito (1991:12) “a escola como organização é uma entidade social complexa onde se inter-relacionam várias estruturas e múltiplos intervenientes: alunos, pessoal docente, pessoal não docente, pais e comunidade em geral, contribuindo todos para uma mesma finalidade e missão”.
Para se perceber a importância da escola como organização é importante definir o termo organização. Etzioni (cit. por Costa 1996:11), propõe a seguinte definição “as organizações são unidades (ou agrupamentos humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objectivos específicos”. Sendo a escola uma organização o seu objectivo principal é o sucesso escolar e educativo dos alunos, é formar cidadãos capazes de fazer parte de uma sociedade em constante mudança e evolução.
Para que esta possa atingir com sucesso o seu objectivo principal necessita estabelecer linhas orientadoras que norteiem as actividades que decorrem no seu dia a dia. Posto isto, “a escola tem por missão, desenvolver global e equilibradamente, o aluno, nos aspectos intelectual, sócio-educativo, psicomotor e cultural, com vista à sua correcta integração na comunidade” (Brito, 1991:9).
É tendo em conta o desenvolvimento destes aspectos no aluno que a escola deverá organizar o seu tempo escolar. “O tempo - uma das variáveis mais importantes da organização escolar – acaba por interferir e condicionar definitivamente o modelo de intervenção didáctica que se pretende implementar no seu dia-a-dia” (Pinto, 2001:60). O tempo escolar traduz-se nos horários que a instituição estabelece.
Daí que, no 1º CEB, estes tenham vindo a passar dos duplos para os normais, contando para tal com o apoio dos professores. Hoje em dia o horário oficial é o normal, havendo no entanto escolas a funcionar em duplo, em parte porque as instalações assim obrigam (falta de salas). Os horários normais são mais vantajosos para os professores e alunos, uma vez que lhes permite variar mais as tarefas e têm mais intervalos para “relaxar” um pouco, após as actividades.
O TEMPO
Todos sabemos bem o que é o tempo, marcamos quotidianamente o tempo de fazer isto ou aquilo, dividimos o nosso tempo para que consigamos realizar todas as tarefas necessárias durante um dia, reclamamos constantemente a falta de tempo...
O Homem criou até várias formas para contar o tempo: ampulhetas, cronómetros, relógios e outros. Contudo, a questão continua sem resposta. Afinal o que é o tempo? Responder a esta pergunta não é tarefa fácil porque a vivência do tempo não é a mesma para duas pessoas.
Uma criança dificilmente aceitaria a informação elementar de que a primeira parte da aula demora cerca de 1 hora e 30 minutos, ou seja, tem quase a mesma duração de um filme de desenhos animados, quase sempre os seus preferidos.
Contudo se para os que gostam destes filmes é um tempo que passa rápido, para os que não gostam demora “uma eternidade” a passar. O mesmo acontece com a aula, se os alunos estiverem interessados na aula e no assunto que se está a tratar, o tempo passa “num segundo”, contudo se pelo contrário o tema lhe é desagradável, então o tempo nunca mais passa.
Os alunos sentem-se motivados para a aprendizagem e dispensam mais tempo para tal quando o assunto é do seu interesse pessoal, isto porque, há as diferenças quanto à maneira como cada um lida com o tempo e com o ritmo diário de suas actividades. Não podemos negar que: o tempo não é a mesma coisa para todos nós!
A instituição escolar, porém, insiste em tratar o tempo de forma homogénea. Para esta os alunos são submetidos às mesmas tarefas que precisam ser cumpridas num mesmo espaço de tempo. Esta atitude é justificada com o argumento de que é democrática, uma vez que todos tiveram as mesmas oportunidades e a todos foram exigidas as mesmas coisas.
Assim, numa turma de 25 alunos do 1º ano, deverão aprender a ler até ao final do mês de Junho, pois nessa altura encerrar-se-á o ano lectivo e eles só poderão passar para o ano seguinte se dominarem as técnicas da leitura e da escrita. A individualidade de cada um desses alunos não está em questão, são todos alunos do 1º ano e isso é suficiente para que se faça tal exigência.
A insistência da instituição escolar em continuar a negar as diferentes relações que os indivíduos / alunos estabelecem com o tempo faz com que seja instituída na escola uma rotina que tudo abarca. Uma rotina que retira ou dificulta todas as possibilidades de sucesso, alegria, de movimento, de vida,...
Enquanto a escola exigir de todos os alunos a mesma capacidade e o mesmo ritmo, eles responderão com o desinteresse ou a indisciplina, causando todo o tipo de problemas que nós, professores, conhecemos muito bem. Na verdade, a organização escolar está organizada no sentido de exigir que as tarefas sejam realizadas de forma mecânica e homogénea.
Sair da rotina é quase sempre um problema, procurar formas diferentes de motivar a aprendizagem ou de avaliar um aluno nem sempre é bem aceite, uma vez que exige uma mudança não só de atitudes como também de toda a estrutura curricular do ensino. É preciso procurar formas diferentes de organizar o tempo escolar.
A primeira tarefa que se impõe, àqueles que aceitam esse desafio, é abandonar os parâmetros que dificultam a criatividade e elaborar outros, que libertem e desinibam o aluno em vez de o aprisionarem no sistema. Temos de deixar de viver o tempo escolar apenas na sua dimensão do trabalho e passar a vivê-lo mais na dimensão criativa.
O tempo de trabalho é de natureza disciplinar, mesmo quando engloba uma ou mais áreas. Para que os alunos possam demonstrar as suas capacidades, a qualidade do tempo escolar vivido precisa adicionar os momentos de criação, tornando-se cada vez mais criativo e menos direccionado para o trabalho disciplinar.
Para que se construa uma nova relação com o tempo escolar é preciso haver um grande esforço de todos quantos fazem parte do processo de ensino / aprendizagem. Esse esforço, para os alunos, será traduzido na possibilidade de uma aprendizagem que faça sentido, que não esteja dissociada das suas vidas e que vá ao encontro dos seus desejos, além de uma vida escolar agradável.
Para os professores representará a possibilidade de autonomia diante do seu trabalho, de sua vida profissional. Representará, acima de tudo, a possibilidade de haver uma relação entre os diferentes actores de uma mesma realidade e, ainda mais, nos facilitará a criação de condições que nos permitam contribuir para a formação de alunos críticos, actuantes, capazes de lutar pelos seus sonhos e pela construção de uma sociedade melhor.
O TEMPO ESCOLAR
O tempo escolar é o tempo que o aluno vive ou passa numa instituição educativa, ou seja, é o tempo que ele passa na escola, desde que nela entra até que dela sai. Esta definição pode ser entendida de várias formas e levar a diferentes interpretações: pode ser ao longo de um dia; ao longo de um ciclo; ao longo de um curso; ao longo de uma profissionalização; …
Apesar se poderem fazer diferentes interpretações do que é o tempo escolar podemos ter uma certeza que este é sempre diferente do tempo que o aluno investe na aprendizagem. O tempo escolar deve ser estabelecido de acordo com o estádio etário dos alunos, o seu desenvolvimento e a sua Cronobiologia (variação que sofrem os fenómenos biológicos ao longo de um tempo considerado), para que este possa aumentar o seu rendimento de forma positiva e diminuir a fadiga e a ansiedade.
A Cronobiologia permite ao professor saber quais os aspectos que podem influenciar de forma negativa o processo educativo quando este não respeita os ritmos biológicos dos alunos. Não deve haver contradições entre os ritmos biológicos ultradianos, circadianos e infradianos dos alunos e o tempo escolar estabelecido.
Considerando que os ritmos ultradianos ocorrem em períodos inferiores a 20 horas, são ritmos internos e hereditários e a sua frequência pode ser modificada com alterações do tipo ambiental (luz ou temperatura) ou até mesmo alterações metabólicas (ritmo cardíaco e respiratório; ondas cerebrais, ciclos de sono,…).
No que refere aos ritmos circadianos são os que ocorrem num período aproximado de 24 horas, a sua manifestação depende de mecanismos endógenos, ainda que certos factores ambientais possam ter a sua contribuição. São inatos, hereditários e o período é independente da temperatura (alternância sono – vigilância; variações de temperatura corporal; secreções de algumas hormonas, …).
Relativamente aos ritmos infradianos estes ocorrem num período de tempo superior a 28 horas e podem ser divididos em circahebdonários – ritmos de 7 dias; circamensais – ritmos de 30 dias e circanuais – ritmos de 365 dias (processos migratórios, sensibilidade a algumas doenças, …).
Quanto mais equilibrada for a relação destes três ritmos mais equilibrado será o aproveitamento do tempo por parte dos alunos para a obtenção do sucesso. Cabe ao professor adaptar a sua intervenção às características biopsicológicas dos alunos – Cronopedagogia e ainda atender à sua Cronopsicologia, uma vez que esta lhe permite obter indicações sobre os seus momentos de óptimo rendimento escolar.
Contudo neste processo esse aspecto torna-se por vezes o menos importante, uma vez que é impossível satisfazer todos os ritmos biológicos dos alunos, cada aluno é único na sua existência e vivência e trabalha de acordo com o seu ritmo. A organização do tempo escolar está directamente relacionada com a cultura do nosso país.
Os tempos são definidos de acordo com a nossa cultura e tradição. São exemplos destes aspectos as interrupções lectivas nas festas religiosas, as férias no mês de Agosto, como acontece com a grande maioria das empresas, isto para que, as férias dos filhos coincidam com as férias dos pais, entre outras situações.
GESTÃO DO TEMPO NA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR
A escola, tal como qualquer outra organização, necessita organizar as suas actividades de acordo com o tempo que dispõe, sejam as mesmas referentes aos alunos, professores, auxiliares ou gestores.
Todos os intervenientes no processo educativo têm de saber gerir conscientemente o seu tempo, para desse modo, poderem contribuir para o sucesso na obtenção dos seus objectivos, bem como da organização.
Para tal, é importante fazer um planeamento das actividades, uma boa gestão do tempo e manter uma permanente preocupação de realizar as diversas tarefas propostas, a cada um dos elementos, com qualidade e em tempo útil.
OS TEMPOS NA EDUCAÇÃO
Na educação podemos estabelecer muitos e variadíssimos tempos. Estes dependem do sujeito que os pretende estabelecer.
Cada pessoa define o tempo ao seu modo e escolhe os tempos de acordo com as suas tarefas, expectativas, cultura, gosto pessoal, entre outros aspectos.
Os tempos mais comuns definidos em educação são os seguintes:
- O tempo de ensino é o tempo curricular ou o tempo do programa. Considera-se tempo de ensino o número de horas semanais que são atribuídas a cada ano de escolaridade. No caso do 1º Ciclo do Ensino Básico (1º CEB) o tempo de ensino é de vinte e cinco horas semanais, que são instituídas pelo Ministério da Educação. O professor tem de planificar as suas actividades de acordo com este tempo.
- O tempo útil divide-se em três tempos diferentes mas, complementares. O tempo de deslocamento que é o tempo que o professor e os alunos demoram a chegar à sala de aula após o toque para a entrada. No 1º CEB este tempo é mais reduzido uma vez que a distância entre a sala dos professores e as salas de aula é muito reduzida. O tempo de informação é todo o tempo que o professor demora para dar informações aos alunos sobre as tarefas a realizar durante o dia, no início da aula, ou ao longo da aula, sobre aspectos e dúvidas que vão surgindo. No 1º CEB este tempo poderá ser bastante alongado uma vez que as crianças, ainda muito novas, têm dificuldades em perceber o que lhes é pedido. Este tempo vai diminuindo à medida que os alunos vão progredindo na escolaridade. Tempo de organização é o tempo que o professor demora para organizar a sua aula, como o de fazer a chamada. Este tempo no 1º CEB por vezes é nulo, uma vez que o professor conhece muito bem os alunos e, mesmo sem fazer a chamada consegue identificar os alunos que estão a faltar. Para organizar a sala também se perde pouco tempo, uma vez que os alunos têm aulas sempre na mesma.
- O tempo efectivo de aula é o tempo que sobra quando se desconta ao tempo útil os tempos restantes. É o tempo que o aluno investe nas actividades definidas para a aula, depende bastante do ano de escolaridade em que se encontra o aluno. Este tempo no 1º ano tende a ser menor do que no 4º ano, visto as crianças mais novas de cansarem mais rápido das tarefas. - O tempo na tarefa é o tempo efectivo que os alunos ocupam no desempenho das tarefas relacionadas com os objectivos que o professor define para cada aula. Este tempo depende sempre do aluno, do seu ritmo e da sua motivação para a tarefa.
- O tempo potencial de aprendizagem traduz o tempo de sucesso que o aluno tem no ensino. A boa qualidade da aprendizagem depende do tempo que lhe é dedicado ao longo das aulas pelos alunos. Quanto maior é o tempo potencial de aprendizagem melhores serão certamente os resultados escolares dos alunos. Este está directamente relacionado com o gosto do aluno pela aprendizagem, bem como a sua motivação interior. Quanto mais motivado, mais dedicado e aplicado nos seus estudos em direcção ao sucesso.
Nem sempre é fácil estabelecer o limite em que começa um tempo e termina o outro, todos os tempos se embrenham de tal forma que se torna difícil definir as suas fronteiras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O homem precisa de tempo para aniquilar o tempo, como precisa de vida para aniquilar a vida. E, para reduzir o saber de si à forma intemporal das verdades cientificas, necessita de isso mesmo que ele nunca pode dispensar: o tempo.
Delfim Santos
O tempo é algo diferente para cada um de nós. Definimos o tempo em função daquilo que pretendemos fazer ou obter. Se esperamos algo que nos é muito importante então o tempo demora a passar, se pelo contrário, esperamos algo de que não gostamos, então o tempo parece que “voa”.
Todos temos uma definição de tempo independentemente das horas, minutos e segundos que demoram a passar, fazer ou acontecer alguma coisa. Esse tempo será sempre pessoal e único, da situação, do acontecimento, que vivemos no momento.
O professor deverá ainda ter em consideração que o ritmo de trabalho dos alunos varia ao longo do dia, como também variam as limitações do grau de atenção dos alunos. Tendo em conta estes pressupostos os professores devem estar atento a estas variações quando programam as actividades de uma aula, devem reflectir sobre a capacidade dos alunos para a aprendizagem, bem como, saber identificar nos mesmos o momento óptimo de rendimento. O tempo é um aspecto importante na vida de uma escola e dele depende todo o desenvolvimento do processo de ensino / aprendizagem.
Contudo a definição e distribuição deste tempo deve sempre ter em conta o aluno, as suas capacidades e limitações, o seu ritmo de trabalho, a fadiga, o tempo de concentração, os interesses e necessidades, entre outros, considerando sempre que o factor tempo está ao serviço do principal actor deste processo – o aluno.
Todos temos de saber usar o tempo que temos da melhor forma possível, pois, tal como diz o ditado popular “esta vida são dois dias e este já vai na conta” quanto melhor o aproveitamento melhores serão os resultados obtidos e a vida será vivida com mais prazer e alegria.
Autoria:
Fernanda Ferreira (Professora)
Marilia Dias (Professora)
Pedro Santos (Professor)
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
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