Alexandro
Muhlstedt
E,
se o futuro é já presente
Na
visão de quem sabe ver,
Convoca
aqui eternamente
Os
que hão de ser!
(Fernando
Pessoa. O eu profundo e os outros eus, 2006)
A Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9394/96, em seu artigo 12,
inciso I, prevê que “os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
normas comuns e as do seu sistema de ensino, tem a incumbência de
elaborar e executar sua proposta pedagógica”, deixando explícita
a ideia de que a escola não pode prescindir da reflexão sobre a
intencionalidade educativa.
Por
isso, em março de 2009 iniciamos o trabalho de reconstrução do
Projeto Político Pedagógico - PPP - do Colégio Estadual Professor
Francisco Zardo, de Curitiba. Foi constatado que a versão
do PPP que existia era confusa, contraditória, repleta de correções
feitas pela coordenação do Setor Santa Felicidade e não coincidia
com a realidade e o retrato do Colégio. O documente existente
claramente mostrava que fora feito para cumprir os prazos e não
retratava verdadeiramente a "cara" da escola. Tendo em
vista esta problemática, reescrever o PPP, almejando as mudanças
necessárias e desejadas pela diretora Naterci de Souza, era uma
urgência.
Diante desse panorama,
organizamos, Direção e Equipe Pedagógica, um cronograma para
reconstruir o PPP, seguindo, basicamente, dois princípios: a
PARTICIPAÇÃO de todos: pais, alunos, funcionários, direção,
pedagogos e professores - e a busca por um RETRATO fiel da realidade,
dos anseios, dos sonhos e das práticas do Colégio. Para isso, a
revisão bibliográfica (por meio das obras de Danilo Gandin, Ilma
Passos e Celso Vasconcelos) e o processo metodológico (Qualitativo,
Participativo e Gradual) foram definidos. Também foram articuladas
as comissões de Alunos e Pais, de cada turno do colégio e,
incluídos, todos os professores e funcionários em outras duas
comissões. Esse tipo de planos tornou-se necessário tendo em vista
o envolvimento de todos os âmbitos para pensar, refletir, adequar e
buscar as transformações e modo coletivo e engajado. Definiu-se
também, como forma de preservar a memória do processo e organizar a
sequência das atividades, que todas as ações seriam registradas em
livro ata específico, bem como a catalogação de fotos e relatos
escritos dos participantes.
O primeiro passo foi
construir a Árvore dos Problemas e a Árvore das Soluções, por
meio da técnica Tempestade de Ideias. A técnica da Árvore é uma
adaptação na qual são colocados em painel na parede todas as
solicitações sugeridas para a problemática ou tema geral. Nos
meses de março e abril todas as Comissões realizaram tal atividade.
Envolver os professores não foi tarefa fácil, tendo em vista que em
outros momentos a participação em construção do PPP não foi
muito positiva. Havia uma certa descrença e resistência em realizar
tais atividades.
Mesmo assim, num sábado
à tarde foi apresentada aos professores a teoria que embasa a
construção coletiva do PPP, por meio de cartazes e palestra do
pedagogo Alexandro Muhlstetd, na qual apresentou a organização das
partes do PPP: Marco Referencial, Diagnóstico e Programação (que
serão descritos no texto seguinte). Esclarecimento de dúvidas,
debate, questionamentos e trabalho em grupo foram ações
concretizadas nesse dia. Foi possível perceber que uma mudança no
próprio grupo de processava, em especial, numa nova credibilidade à
construção e ao próprio documento PPP.
Após a construção de
16 árvores, solicitou-se a cada comissão, em diferentes momentos, a
elaboração de duas tarefas: descrever ações do cotidiano que
retratam os problemas apontados e as sugestões de ações para
superar, minimizar ou eliminar tais problemas. Para cada solução
apresentada cada comissão foi provocado a escrever uma definição
ou conceito e, depois, ações que poderiam ser vistas no cotidiano
da escola que demonstrassem que o problema estava sendo percebido e
sua solução sendo implementada. Para isso, utilizou-se cada
momento, incluindo encontros aos sábados com os professores e
algumas noites com pais e alunos, para escrever e dar forma a tudo
que foi apresentando pelas comissões ao construírem as árvores.
Foram momentos preciosos de discussão e sistematização de como
implementar os planos de melhoria, considerando as condições e as
possibilidades existentes. Em muito momentos se ousou, e muitos
planos foram audaciosos. E sempre fortalecendo a crença que tudo na
escola poderia ser melhor.
De posse de todo esse
material, registrado em forma de tabelas, esquemas, textos e
fotografias, a equipe pedagógica “costurou” as informações,
buscando referenciais teóricos para fundamentar a produção já
realizada. Para a elaboração do Marco Referencial, optou-se por
trabalho em grupo de professores para responderem questões sobre:
mundo, sociedade, homem, educação, escola, comunidade, processos
pedagógicos, etc. No Diagnóstico, organizou-se pesquisa sobre
números, estatísticas e realidade do Colégio. Professores e
pedagogos escreveram o perfil do aluno, do professor, da comunidade,
das ações pedagógicas, das festas, dos programas e projetos
existentes na escola. Alunos opinaram e descreveram seu ponto de
vista sobre a escola e pais deram palpites e ideias sobre escola,
educação e como participar mais. Na Programação, foram elencadas
todas as ações do cotidiano, as regras gerais, as políticas, as
estratégias, as rotinas e as linhas de ação para melhoria do
Colégio. Por fim, o material foi todo organizado, gerando o
documento mais importante no Colégio Francisco Zardo: o PPP.
Documento construído coletivamente, retratando o que temos, o que
somos e o que queremos para uma escola de qualidade.
No final do mês de
agosto de 2009 uma versão do PPP foi entregue ao Setor. A
coordenadora pedagógica, Viviane Langer acompanhou, de certa forma,
a construção desse PPP e ficou entusiasmada por ver o resultado do
trabalho. Por isso, fez um convite interessante: apresentar a
trajetória da construção às equipes pedagógicas das 22 escolas
do setor Santa Felicidade, o que aconteceu no dia 22 de setembro de
2009. Foi uma experiência bastante interessante, visto que outras
escolas puderam perceber que é possível fazer um PPP em que todos
os setores da escola participam, e, mais que isso, engajar a todos em
prol da solução dos problemas apresentados pela instituição.
Construir
um PPP coletivamente dá muito trabalho, desgasta e cansa. No
entanto, é só dessa forma que se torna possível construir, na
escola, uma linha única de trabalho, respeitando a diversidade e
propiciando a participação, a integração e a organização do
trabalho pedagógico.
Falar uma língua comum não é homogeneizar ou engessar, mas
fortalecer ações pedagógicas tendo em vista a superação dos
limites e adversidades. E, claro, trabalhar no coletivo, pelo
coletivo, é muito mais saudável em tempos de egoísmos extremos. E,
alimentar a esperança por uma escola pública melhor nunca é
trabalho em vão.
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