Alexandro
Muhlstedt
INTRODUÇÃO
Assim
como toda a sociedade, família e escola sofreram, ao longo dos anos,
profundas mudanças em sua estrutura. Essas mudanças fizeram alterar
ao longo dos anos os papeis da escola e da família. A escola deixou
de ser unicamente responsável pelo repasse de conhecimentos para se
tornar educadora, desempenhando ao lado dos pais a função de
fornecer também uma boa formação integral. Por isso, cabe refletir
sobre essas duas instituições e como organizar uma relação
dialógica entre ambas.
Família
e escola
Etimologicamente,
"família" é o conjunto dos famuli,
ou seja, dos criados, servos e domésticos, na civilização romana
(e, de certa maneira, entre os gregos). Só mais tarde, "família"
abrangeu mulheres e filhos. Os laços de sangue agrupavam as pessoas
na gens,
de genere,
"gerar". Segundo
o dicionário de Houaiss, o vocábulo “família” pode significar,
num sentido mais restrito “grupo social básico, formado por pai,
mãe e filhos”, num sentido mais abrangente “pessoas ligadas
entre si pelo casamento ou qualquer parentesco”, e ainda num
sentido geral “grupo de seres ou coisas com características
comuns”.
Já a palavra escola tem
sua origem mais próxima no latim clássico schola,
que por sua vez originou-se do grego skhole,
que significava 'lugar do ócio'. Uma
escola
é, então, qualquer estabelecimento ou instituição de educação.
Essa ideia surgiu da filosofia
dos gregos
antigos,
onde eles se reuniam em praças públicas para praticar filosofia e
trocar conhecimentos. Escola
pode se referir a uma instituição de ensino ou a uma corrente de
pensamento com características padronizadas que formam certas áreas
do conhecimento e da produção humana.
Faz-se necessário situar
as palavras “família” e “escola” a partir de sua origem,
para compreender o processo que vem ocorrendo no contexto
educacional. Como
mencionado anteriormente, é uma necessidade do mundo contemporâneo
que ocorra a aproximação desses mundos
tão distintos, mas que se aproximam e se complementam quando se
trata de educação escolar.
A relação entre a
escola e a família
Na literatura
antropológica e sociológica a definição de família não se
restringe ao grupo domiciliar, pois os laços de família extrapolam
o domicílio, a cidade e até o país. Nessa perspectiva de estudo,
uma família engloba pessoas com diferentes graus de parentesco,
definidos a partir da descendência / ascendência sanguínea,
ou através do casamento e da adoção. A
família é unida por múltiplos laços capazes de manter os membros
moralmente, materialmente e reciprocamente durante uma vida e durante
as gerações.
As
famílias como agregações sociais, ao longo dos tempos, assumem ou
renunciam funções de proteção e socialização dos seus membros,
como resposta às necessidades da sociedade pertencente. Nesta
perspectiva, pode-se
compreender que as
funções da família regem-se por dois objetivos, sendo um de nível
interno, como a proteção psicossocial
dos membros, e o outro de nível externo, como a acomodação a uma
cultura e sua transmissão. A família deve então, responder às
mudanças externas e internas de modo a atender às novas
circunstâncias sem, no entanto, perder a continuidade,
proporcionando sempre um esquema de referência para os seus membros
(MINUCHIN, 1990). Existe, consequentemente, uma dupla
responsabilidade, isto é, a de dar resposta às necessidades quer
dos seus membros, quer da sociedade (STANHOPE, 1999).
Atualmente, a família
tem passado para a escola a responsabilidade de instruir e educar
seus filhos (COSTA,
2000) e
espera que os professores transmitam valores morais, princípios
éticos e padrões de comportamento, desde boas maneiras até hábitos
de higiene pessoal. Justificam alegando que trabalham cada vez mais,
não dispondo de tempo para cuidar dos filhos. Além disso, acreditam
que educar em sentido amplo é função da escola. E,
contraditoriamente, as famílias, sobretudo as desprivilegiadas, não
valorizam a escola e o estudo, que antigamente era visto como um meio
de ascensão social (DI
SANTO, 2005).
A escola, por sua vez,
afirma que o êxito do processo educacional depende, e muito, da
atuação e participação da família, que deve estar atenta a todos
os aspectos do desenvolvimento do educando. Reclama bastante da
responsabilidade pela formação ampla dos alunos que os pais
transferiram para ela, e alega que isto a desviou da função
precípua de transmitir os conteúdos curriculares, sobretudo de
natureza cognitiva. Com isso, ao invés de ter as famílias como
aliadas, acaba afastando-as ainda mais do ambiente escolar.
Ações para
aproximação escola e família
Diante de todo esse
processo é que ações
foram definidas para serem incorporadas ao
cotidiano do Colégio Estadual Professor
Francisco Zardo, de
Curitiba – Paraná, para
efetivar a aproximação da
escola e da
família, consolidando
princípios para
que a família compreenda
melhor o que se passa na escola.
Organizou-se,
então, um cronograma de encontros com os pais, a fim de que
conhecessem os processos pedagógicos aos quais seus filhos –
alunos da escola – estão submetidos. O princípio, nesse caso, é
que, somente quando a família conhece o que ocorre na escola, poderá
se dispor a colaborar. Entende-se
que, quando
a família conhece, ela
acredita e
contribui positivamente para aquilo que
ocorre no cotidiano escolar de seus filhos.
Após definir as reuniões
com as famílias, foram
organizadas
as ações
que devem
ocorrer ao
longo do ano,
uma vez que os pais comparecessem. Ficaram
assim
definidas:
- Encaminhamento de Comunicado escrito (informando dia, horário, local e assuntos a serem tratados) por meio de alunos. Tal comunicado deve retornar com a assinatura da família, inclusive explicando, no caso de não comparecer, os motivos da ausência.
- Conferir durante toda a semana, por meio de assinatura dos alunos, o retorno dos comunicados. Garantir que todos os alunos devolvam o protocolo com assinatura da família.
- Levantamento de dados constando a quantidade de comunicados que retornaram, quantos pais comparecerão e quantos não virão e por quais motivos.
- Definição de pauta comum e organização das salas aonde os pais serão recepcionados, sendo que a reunião serão conduzida pelos professores. Antes, porém, na quadra da escola, por 15 minutos, a Diretora geral dará as boas vindas e reforçará a importância da participação da família na vida escolar, bem como solicitar a adesão dos pais para auxiliar na melhoria do espaço escolar.
- A pauta é composta por assuntos gerais, priorizando aqueles que explicam o funcionamento da escola: as regras gerais, o sistema de avaliação, a metodologia, as atividades previstas, etc. Evita-se “dar bronca” nos pais, fazer “jogo de culpa”, expor alunos, insistir no que ocorre de negativo.
- Solicitar sugestões e opiniões dos pais, anotando o que for dito.
- A realização, na sequência, do encontro dos professores e pedagogos tem como objetivo socializar e organizar as “falas” dos pais”. A partir daí, se estabelece o termômetro de pontos de vistas, opiniões e olhares dados pelas famílias àquilo que seus filhos estão vivenciando.
- Implementação de questionário ao pais, perguntando sobre ensino, aprendizagem, educação e comportamento.
- Tabulação dos dados e elaboração de gráficos a partir das respostas dos pais.
- Reuniões para orientar sobre matrícula, Estatuto da Criança e do Adolescente - artigo 53.
- Encontro, no turno da noite, para orientações sobre Estatuto da Criança e do Adolescente – artigo 129, atividades de último bimestre e entrega de boletins.
- Aproximações e relacionamento com os pais em todos os momentos da escola, comunicando-se por meio de telefonemas. Por isso, a organização de lista com números de telefones para comunicação com a família.
- Encontros com estagiários de Psicologia para orientar os pais e propor ações para melhor conhecer seus filhos e como atuar eficazmente na educação.
Na relação da escola
com a família, um sujeito sempre espera algo do outro. E para que
isto de fato ocorra é preciso que se desenvolva a capacidade de
construir de modo coletivo uma relação de diálogo, onde cada parte
envolvida tenha o seu momento de fala, onde exista uma efetiva troca
de saberes e a efetivação de compromissos. A construção dessa
relação implica em uma capacidade de comunicação que exige a
compreensão da mensagem que o outro quer transmitir, e para tanto,
se faz necessário a competência e o desejo de escutar o que está
sendo expresso, bem como a flexibilidade para apreender ideias e
valores que podem até ser diferentes, e muitas vezes, divergentes.
Por parte da escola deve ocorrer o respeito pelos conhecimentos e
valores que as famílias possuem, evitando qualquer tipo de
preconceito e favorecendo a participação dos componentes da
instituição familiar em diferentes oportunidades, estimulando o
diálogo com os pais e possibilitando-lhes, também, obter um ganho
enquanto sujeitos interessados em
evoluir e se aperfeiçoar como seres humanos e cidadãos
compromissados com a transformação da realidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É
imprescindível reconhecer
que a parceria
entre a escola
e
a família mostra-se multifacetada, intensamente carente de
discussões e melhorias adequadas ao seu desenvolvimento. A relação
escola e
família,
tão discutida por pesquisadores, depende exclusivamente do
compromisso dos envolvidos no processo educacional, ou
seja os profissionais da
escola e
os membros da
família do
aluno. Tal
relação emerge um tal tipo de interação que possibilita que ambas
conheçam suas realidades.
Como
assevera Dessen e Polonia
(2007, p. 29) a
família e a escola constituem os dois principais ambientes
de desenvolvimento humano nas sociedades ocidentais contemporâneas.
Assim, é fundamental que sejam implementadas ações
no âmbito escolar que concretizem a
aproximação entre os dois contextos, de maneira a reconhecer suas
peculiaridades e também similaridades, sobretudo no tocante aos
processos de desenvolvimento e aprendizagem, não só em relação ao
aluno, mas também a todas as pessoas envolvidas. Afinal,
essa unidade dialógica e de ações é necessária, vislumbrando um
ensino e uma aprendizagem adequados, éticos e significativos.
É
primordial, então,
repensar
a relação entre essas
as
duas instituições, promovendo mudanças significativas, o
que não
se
mostra ser
uma tarefa fácil, pois existem inúmeros mecanismos de exclusão que
rechaçam não somente as vontades e os desejos de mudanças, como os
pais que não valorizam a interação com as escolas de seus filhos
ou a escola que mantendo o tradicionalismo impedem uma maior
aproximação entre elas.
A
iniciativa
que vem ocorrendo no Colégio Zardo almeja romper com ideias
cristalizadas de que escola e família é uma relação complicada.
Deseja um trabalho de mão dupla, em constante diálogo, em prol das
melhorias do ensino e da aprendizagem e, consequentemente, por uma
formação verdadeiramente humana.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ACKERMAN,
H. Diagnóstico e tratamento das relações familiares. Porto Alegre:
Artes Médicas,1980
DI
SANTO, J. M. R. Família, escola
e suas responsabilidades. [S.l.:s.n.].
Disponível em:
<http://www.webartigos.com/articles/7514/1/a-familia-na-atualidade/pagina1.html>.
Acesso em: 02 dez. 2008.
COSTA,
A. C. G. da. A relação família / escola. [S.l.:s.n.].
Disponível em:
<http://www.educacaoetecnologia.org.br/escolaconectada/?p=180>
Acesso em: 09 maio. 2008.
COLÉGIO
ZARDO. Projeto Político Pedagógico. Curitiba. 2009.
DESSEN,
M. A.; POLONIA,
A. C. A
família
e a escola
como contextos de desenvolvimento humano. In:
Paidéia, Brasília, 2007, p. 21-32.
HOUAISS,
A. e VILLAR, M. S. Dicionário eletrônico Houaiss da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001.
MARQUES,
R. A escola e os pais: como colaborar? 4 ed. São Paulo: Texto
Editora, 1993.
MINUCHIN,
S. Famílias: funcionamento & tratamento. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1990. p. 25-69.
STANHOPE,
M. Teorias e desenvolvimento familiar. In STANHOPE, M.; LANCASTER, J.
Enfermagem Comunitária: Promoção de Saúde de Grupos, Famílias e
Indivíduos. 1.ª ed. Lisboa: Lusociência, 1999. p. 492-514.
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