Alexandro Muhlstedt
INTRODUÇÃO
Ser professor não se
configura como uma opção profissional para grande parte dos jovens
hoje. Pesquisas têm mostrado que nem mesmo o próprio magistério,
habilitação a que se destina seu curso superior, não é, para muitos
alunos dos cursos de licenciatura, uma alternativa
sedutora ou um projeto de vida profissional (DINIZ-PEREIRA, 2011).
Isso torna-se um problema, considerando que “assumir-se
enquanto professor e optar conscientemente por um curso que o
credencie para o exercício da profissão é um dos primeiros passos
na direção da construção da identidade docente. Tal
reconhecimento e escolha estão hoje comprometidos em função da
representação social da profissão, fortemente marcada por um
sentimento de inferioridade, mediocridade
e incapacidade”
(DINIZ-PEREIRA
e FONSECA, 2001, p.58).
Com a intenção
de dar continuidade à pesquisa feita junto a um grupo de 38
professores que atuam na escola pública estadual de Curitiba -
Paraná, na qual, num primeiro momento, perguntou-se como se deu a
escolha da profissão, é que, num segundo momento foi perguntado a
este mesmo grupo o que os mantém na profissão e quais seriam as
principais dificuldades no cotidiano de seu fazer pedagógico. Ou
seja, tendo em vista que o magistério não tem sido uma escolha
profissional atrativa, interessa investigar o que este possui de
positivo na visão daqueles que o escolheram, e quais seriam os
problemas concretos que afetam as práticas docentes.
1. A construção da
identidade docente
A formação inicial pode
contribuir para que o futuro professor construa uma “[...] bagagem
sólida nos âmbitos científico, cultural, contextual,
psicopedagógico e pessoal que deve capacitá-lo a assumir a tarefa
educativa em toda sua complexidade, atuando reflexivamente com a
flexibilidade e o rigor necessários” (IMBERNÓN, 2002, p. 60).
Para Tardif (2011, p. 31), “ensinar é trabalhar com seres humanos,
sobre seres humanos, para seres humanos. Esta impregnação do
trabalho pelo ‘objeto humano’ merece ser problematizada por estar
no centro do trabalho docente”. Depreende disso que ser professor é
uma atividade profissional que exige uma sólida formação acadêmica
para possibilitar a formação da novas gerações.
Tardif e Raymond (2000)
destacam a importância da escolarização inicial na construção
das representações sociais que se tem da profissão. Segundo os
autores, antes de começarem a trabalhar, os professores já passaram
longos anos imersos na escola e nesse processo de socialização
escolar construíram uma bagagem de conhecimentos que tem grande
permanência no tempo, atravessando, sem mudanças substanciais, os
processos de formação inicial. O ingresso na carreira e no espaço
de socialização profissional, na instituição escolar, é marcado
pelas tensões e contradições, conflitos, acordos e acomodações
resultantes da assimilação dos valores e regras específicos da
organização escolar. Afinal,
É
nas relações intersubjetivas, entre atores que têm diferentes
trajetórias, objetivos e perspectivas, ocupam posições com níveis
de poder desiguais, convivendo num espaço físico e
simbólico, que as expectativas e papéis institucionalizados vão
sendo ressignificados e reconstruídos, permitindo a emergência dos
processos partilhados de significação que constituem a unidade de
cada escola, orientando e dando sentido às ações de seus membros
(SARMENTO, 1994).
Esses pressupostos,
largamente estudados nos últimos tempos, levam a considerar que ser
professor significa tomar decisões pessoais e individuais
constantes, porém sempre reguladas por normas coletivas, as quais
são elaboradas por outros profissionais ou regulamentos
institucionais. Embora
se exija dos professores uma capacidade criativa e de tomada de
decisões, boa parte dessa energia acaba por ser direcionada na busca
de solução de problemas de adequação com as normas estabelecidas
exteriormente. E, de modo contundente, acaba sendo o elemento que constitui a identidade profissional.
De acordo com Ciampa
(1992), o
processo de constituição da identidade ocorre no interior das
relações socialmente estabelecidas, cuja negação do outro e
afirmação de si mesmo como indivíduo é, ao mesmo tempo, negação
de
si mesmo e auto-afirmação como ser social. Dessa forma, a
construção de uma determinada identidade perpassa pela inserção
em um grupo social. No entanto, esse processo não significa o
alocamento do indivíduo a um substantivo (eu sou “professor”, eu
sou “engenheiro”, eu sou “médico”), mas, ao contrário, a
constituição da identidade se materializa pela intervenção do
indivíduo no mundo e nas relações com outros sujeitos.
A constituição da
identidade é um processo de permanente construção inserido nas
contradições do modo de produção vigente. Construção de
identidade não é algo posto/dado como aquilo que o sujeito tem que
ascender, mas sim um contínuo processo situado nas relações que o
indivíduo estabelece com outros e que se remete necessariamente a um
determinado projeto político.
Nesse sentido, a
constituição de uma identidade política dos trabalhadores da
educação significa a afirmação desses como agentes históricos
ligados a um projeto de classes que é antagônico ao atual modelo de
sociedade. A luta, a resistência, as formas de se posicionar, de
pensar e de expressar os conflitos e contradições da sociedade de
classes constituem elementos que compõem a identidade política dos
trabalhadores.
2. A identidade
profissional e o (des) prestígio da docência
O prestígio de uma
profissão, segundo Nóvoa (2011), depende em parte da visibilidade
social e, no caso dos professores, depende da qualidade do trabalho
interno nas escolas e da sua capacidade de intervenção e de
presença no debate público da educação, o que implica trabalho
político para conscientização da relevância da educação na
contemporaneidade, ao combater a ideia de que ensinar é uma tarefa
fácil, que o ensino é uma atividade natural ao alcance de qualquer
um. Para isso, o autor entende que é necessário reconhecer e
valorizar o ensino, enquanto atividade que exige a compreensão de
determinado conhecimento (disciplina) e de sua reelaboração
(transformação) no ato de ensinar e compreensão sobre os alunos e
seus processos de aprendizagem.
Sabe-se
que a identidade do professor constrói-se a partir da relevância
que cada profissional dá a sua própria atividade docente, através
de valores, atuação no mundo, das representações de vida,
saberes, sentimentos, expectativas presentes no seu cotidiano, com as
relações estabelecidas enquanto seres como um todo, dentro das
escolas, sindicatos e também as relações entre os próprios
professores. Além
de todos os discursos, existe a experiência de vida que influi na
formação da identidade. A realidade existente se mostra através de
situações veiculadas na sociedade tais como: baixa remuneração,
salas de aula com alunos turbulentos e em alguns casos falta de
material didático.
A presença de uma
identidade própria para a docência aponta a responsabilidade do
professor para o seu papel social, emergindo daí a autonomia e o
comprometimento com aquilo que faz. Porém, é importante salientar
que o professor adquire estes quesitos por meio da formação
escolar, formação inicial, experiências adquiridas, processos de
formação continuada, influências sociais, entre outros. De fato
este processo está fortemente atrelado à cultura que se apresenta
na sociedade.
A
identidade pessoal e a identidade
construída coletivamente
são essenciais para definir a identidade
profissional do indivíduo, a esse respeito Pimenta (1997) define que
a identidade profissional
[..]
se constrói a partir da significação social da profissão [...]
constrói-se também, pelo significado que cada professor, enquanto
ator e autor confere à atividade docente de situar-se no mundo, de
sua história de vida, de suas representações, de seus saberes, de
suas angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida: o ser
professor. Assim, como a partir de sua rede de relações com outros
professores, nas escolas, nos sindicatos, e em outros agrupamentos
(p.
07).
Por isso, quando se trata da
identidade de professores, sujeitos sociais que partilham espaços,
tempos e representações sociais na/sobre a escola, não se pode
deixar de considerar que o contexto mais amplo em que estes sujeitos
estão inseridos interfere profundamente em suas expectativas e
percepções. Isso quer dizer que a antiga imagem de um professor
como símbolo da autoridade e da providência moral tem sido
substituída pela imagem de um adversário a ser derrotado pelo
aluno; a imagem da escola como ambiente seguro onde crianças e
jovens poderiam desenvolver os valores morais e democráticos é
substituída pela imagem de um território conflagrado; a imagem do
aluno como aprendiz dócil a ser encaminhado para vida em sociedade é
substituída pela imagem de um aluno rebelde, problemático, portador
de todos os vícios e de nenhuma virtude. Os extremos dessas
“representações” não deixam dúvidas de que as expectativas em
relação à escola, alunos e professores mudaram radicalmente.
A representação de “ser professor”
assume outros sentidos para os quais nem sempre os candidatos ao
magistério estão devidamente preparados. Essas mudanças podem ser
explicadas, de acordo com Law (2001) a partir de três aspectos:
1. a identidade dos professores deve
ajustar-se à concepção de educação da nação;
2. uma das formas de acompanhar a
escola e os professores é a criação de mecanismos, através do
discurso oficial, que sejam capazes de monitorar a identidade dos
professores;
3. a identidade de professores pode,
de forma sub-reptícia, ser manobrada a favor de interesses que não
são necessariamente dos próprios professores e dos demais sujeitos
que partilham o espaço escolar.
E a esses aspectos, é possível
também analisar a compreensão da profissão pela visão adotada
pelos docentes que, do seu ponto de vista, o identifica e propicia
manter-se na profissão.
3. A pesquisa
A fim de analisar a
percepção que profissionais que atuam na docência, na rede pública
estadual do Paraná, têm, a respeito da própria profissão, foi
proposto a um grupo de professores responder as seguintes questões:
01. Quais são os motivos que o mantém na profissão docente? e 02.
O que é mais desgastante na profissão docente?
As
questões solicitadas foram publicadas como link do Google Drive, no
blog: www.docentescep.blogspot.com,
as quais puderam ser respondidas entre os dias 02 de outubro a 24 de
novembro de 2013.
A partir das perguntas
sugeridas, respondidas por um grupo de 38 professores, de diversas
disciplinas e diferentes tempos de atuação, foi possível analisar
as respostas para a primeira questão sob três dimensões: Uma
dimensão que demonstra motivos relacionados à identidade do
professor enquanto trabalhador, dimensão na perspectiva de professor
com identidade cientista e uma terceira dimensão que se relaciona à
identidade profissional de educador; e para a segunda pergunta, foi
possível perceber as respostas em dois campos distintos: um primeiro
campo diz respeito às dificuldades oriundas do próprio sistema
público de ensino (governo), burocracia e espaço físico da unidade
escolar e outro campo relaciona-se com os comportamentos dos alunos e
seus pais.
Essa análise mostrou que
as formas pelas quais o professor socializa-se profissionalmente são
fundamentais no fortalecimento da identidade docente e que a
percepção de si mesmo colabora para construir a sua visão da
profissão e a determinar motivos para continuar atuando na docência.
Ao serem questionados sobre os principais problemas ou adversidades
existentes na profissão, deixam claro que a perda da autonomia, as
dificuldades de relacionamento com os alunos, outros professores e
pais de alunos, bem como o descaso dos governos,
podem fragilizar a identidade docente comprometendo o seu
envolvimento com a profissão e o trabalho.
Esta pesquisa apoia-se na
vertente da pesquisa qualitativa, da qual se utilizou a técnica de
coleta de dados de um grupo focal, situada aqui para além de uma
entrevista em grupo, onde a voz de cada participante é primordial.
Partindo desse pressuposto, as falas dos participantes do grupo focal
vão sendo apresentadas, optando-se pelo seu anonimato. A pertinência
desta técnica responde pelas suas possibilidades de “compreender
processos de construção da realidade por determinados grupos
focais, compreender prática cotidianas, ações e reações a fatos
e eventos, comportamentos e atitudes (...) representações e
valores” (GATTI, 2005, p. 11).
4. Análise das
respostas para a Questão 01: O que mantém o professor na profissão
Os impactos da reconfiguração do
mundo contemporâneo, notadamente ao longo da última década do
século XX e primeira década do século XXI, evidenciaram-se nas
representações cada vez mais negativas sobre a função docente. A
escola, tradicionalmente marcada pelas possibilidades de ascensão
social e de superação das desigualdades sociais, tinha no professor
a imagem da autoridade constituída capaz de conduzir jovens e
crianças ao convívio social e à vida em democracia. Essas práticas
democráticas são marcadas pelas formas como os sujeitos as
representam socialmente; a escola e os professores têm um papel
fundamental na construção dessas práticas. Assim, pode-se definir
identidade como um conjunto de características pelas quais alguém
pode ser reconhecido. Do ponto de vista sociológico, identidade pode
ser definida como: Características distintivas do caráter de uma
pessoa ou o caráter de um grupo que se relaciona com o que eles são
e com o que tem sentido para eles. Alguns
autores consideram que a identidade não é exclusiva do campo
individual, mas também do coletivo, a identidade coletiva não é
decorrência direta da individual, mas possui outro “sistema de
relações ao qual os atores se referem e em relação ao qual tomam
referimento” (VIANNA, 1999, p. 52).
4.1.
Dimensão que demonstra a identidade do professor enquanto
trabalhador
Os professores são em
geral funcionários públicos ou empregados de instituições
privadas que cada vez mais trabalham submetidos a orientações e
controles exteriores. Segundo Nóvoa (2008), a crise de identidade
dos professores, objeto de inúmeros debates ao longo dos últimos vinte anos pelo menos, relaciona-se com uma evolução que foi
impondo a separação entre o eu pessoal e o eu profissional desses
sujeitos. Para esse autor, a transposição dessa atitude do plano
científico para o plano institucional contribuiu para intensificar o
controle sobre os professores, favorecendo o seu processo de
desprofissionalização.
É nesse contexto que a
tese da tendência à desprofissionalização surge com bastante
força, a despeito da profissionalização em si não ter sido
sanada.
A ameaça à
proletarização, caracterizada pela perda do controle pelo professor
sobre o seu processo de trabalho, contrapunha-se à
profissionalização como condição de preservação e garantia de
um estatuto profissional que levasse em conta a autorregulação, a
competência específica, rendimentos, licença para atuação,
vantagens e benefícios próprios, independência etc. A discussão
acerca da autonomia e do controle sobre o trabalho é, então, o
ponto essencial.
O
aumento do assalariamento e a entrada dos profissionais em
organizações teriam como principal consequência a proletarização
técnica – perda do controle
sobre o processo e produto do seu trabalho – e/ou a proletarização
ideológica – que significa a expropriação de valores a partir da
perda de controle
sobre o produto do trabalho e da relação com a comunidade
(RODRIGUES
2002, p. 73).
A
confluência das teses da profissionalização e da proletarização
coloca em evidência o problema da identidade do magistério. São
trabalhadores que não se veem plenamente como tal, pela herança e
tradição que tem o magistério na noção de vocação e
sacerdócio. A identificação como trabalhadores os remetem à
condição economicamente determinada de que estão inseridos em
relações objetivas e são contratados para executarem suas
atividades ao longo de uma jornada, de forma subordinada, recebem um
salário
e do seu trabalho é retirado mais-valor. Esta identificação é
objeto de fortes resistências, possivelmente por retirar esses
trabalhadores do seu lugar tradicional.
Referente a essas
questões foi possível selecionar um conjunto de respostas de parte
do grupo de professores que dizem manter-se na profissão docente em
função de uma identidade política, de trabalhador. Nessa
dimensão foram agrupadas as respostas que revelaram os aspectos
sobre tempo de serviço, aposentadoria, número de horas trabalhadas
semanalmente, licenças, concurso e estabilidade no emprego.
Em primeiro lugar o amor
que tenho pela profissão, depois aparecem o salário, a carga
horária, (tenho só 20 horas), dessa forma tenho tempo livre para
fazer o que preciso sem faltar ao trabalho.
O salário, comparado aos
outros membros da minha família é um dos melhores. Já estou
estabilizada como profissional.
Financeiramente está
compensando, tenho projetos que pretendo realizar com esse dinheiro.
Mesmo assim acredito que minhas aulas valem muito mais e devo,
devemos lutar por melhores salários.
Do ponto de vista
prático, flexibilidade de horários.
Penso que hoje é porque
trabalho apenas 20 horas e consigo dar conta do recado do jeito que
acho que é preciso, mas me privo de uma qualidade de vida melhor, ou
seja, o salário não colabora muito, mas penso que o dia a dia do
professor exige muito, exige um equilíbrio emocional, exige
profissionalismo, o que falta muitas vezes pelo excesso de carga
horária.
Apesar de todas
dificuldades, principalmente com a família do aluno, não gosto de
grandes mudanças, não sou adepta a mudanças radicais. Outra
questão é que em todas as profissões existem dificuldades, e para
me aventurar em outra profissão que pague o eu ganho hoje teria de
sair para outra cidade. E por fim, gosto de ser professora, me sinto
realizada apesar das dificuldades.
Pelo simples prazer de
ter essa profissão, de ser professora! O que sempre quis ser. Gosto
do que faço. Trabalho a 27 anos como professora. Sempre em sala de
aula.
Estou no fim da carreira,
meu salário está satisfatório e gosto do convívio com os alunos.
Falando a verdade,
continuo por conta que está próximo de me aposentar.
Hoje é a questão de ser
concursada e o mercado de trabalho estar competitivo.
Segurança de emprego,
salário razoável se comparado ao mercado e liberdade na execução
do serviço.
4.2.
Dimensão que demonstra a identidade do professor enquanto educador
Quando
o professor se percebe como o possuidor de uma “missão redentora”
da educação, pode-se inferir que a representação do que é ser
professor tem sido construída e reconstruída alicerçada nas
expectativas que o conjunto da sociedade tem em relação ao
professor (que também podem ser compreendidas como representações
sociais) e no próprio repertório adquirido ao longo da formação
inicial. Na dimensão de uma identidade de educador, o professor tem
em suas
práticas educativas a realização de experiências de natureza
teórico-vivencial que se nutrem com os saberes instituídos, mas
procuram, cotidianamente, recriá-los e ressignificá-los
contextualmente buscando atingir caminhos mais vastos da sabedoria.
Desse modo, as práticas educativas vislumbram muito mais que a mera
instrução para os papéis e funções sociais, elas conduzem os
indivíduos para a formação da inteireza do ser entrelaçando razão
e intuição, corpo/emoção e mente/espírito.
Pelas respostas dos
professores do grupo focal, foi possível identificar ações
docentes que o definem como educador. Nesse sentido, o professor
educador celebra paixões, realça a busca do qualitativo, da
globalidade do ser, da dignidade e da beleza humana; passa pelo já
instituído e busca instituir novos saberes e sentires procurando
rasgar os papéis e as máscaras que empacotam e escondem, instigando
a autenticidade, o espírito criador e transgressivo, reinventa
permanentemente seus procedimentos, renovando-se e reencantando-se
com o aprendizado vigoroso de cada experiência vivida, tece aulas
imprevisíveis, abertas ao fluxo das aventuras, ruminando o saber com
sabor, convertendo-as em vivências vívidas e encantantes; em
constantes ritos de iniciação e de renovação dos pensares e
sentires, ousa as veredas ainda não trilhadas, mais desafiantes e
difíceis, inaugurando caminhos novos, extraordinários,
fundamenta-se em lógicas dialógicas, flexíveis e includentes,
concebe a necessidade mínima de burocracia, sendo esta, mero
instrumento que deve estar a serviço dos direitos e liberdades
fundamentais do ser humano, busca as competências técnica e
teórica, mas, principalmente, as competências éticas e estéticas,
as inteligências cognitiva, intuitiva e emocional, prima pelos
princípios da tolerância, da ética da solidariedade e da escuta
sensível, assume as múltiplas dimensões do humano, passando pelo
instinto e atingindo o coração e o espírito de fineza, fomentando
a solidariedade e a amorosidade.
Paulo Freire ensina que
não há docência sem discência (FREIRE, 1996, p.23). Portanto, o
educador deve refletir constantemente sobre a relação teoria e
prática, ou seja “(...) quem forma se forma e reforma ao formar, e
quem é formado forma-se e forma ao ser formado” (FREIRE, 1997.
p.25). Há, portanto, uma ligação entre o aprender e o ensinar.
“Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”
(FREIRE, 1996, p.25).
Nessa dimensão ficaram
agrupadas as respostas que revelam posicionamentos idealistas e
sentimentais, uma relação humana entre o fazer pedagógico do
professor e seus alunos.
São inúmeros os
motivos, estar diariamente em contato direto com crianças e
adolescentes, e ao mesmo tempo ensinar e aprender, gostar muito do
ambiente da escola e sua movimentação em todos os sentidos.
Colaborar mesmo que
minimamente na melhoria da qualidade de ensino, no incentivo à busca
do conhecimento, enfim, por amar demais o que eu faço.
Os motivos que favorecem
em acreditar no processo educacional, com pretensão de desenvolver
sempre o melhor trabalho no espaço da sala de aula, pelo fato de
buscar mecanismos que possibilitem uma formação continuada adequada
a realidade contemporânea.
Nesse sentido, acreditar hoje e sempre
na formação humana dos estudantes, bem como na relevância social e
intelectual como princípio norteador da prática pedagógica, ou
seja um compromisso político, pedagógico e social com a educação
brasileira. Assim, tais questões vêm favorecendo para sonhar sempre
com um mundo mais humano e justo!
Gosto pela profissão, me
sinto bem em estar ao lado dos estudantes, funcionários e
professores (aqueles motivados, interessados e comprometidos com sua
profissão e com a educação escolar). Não tenho mais a intenção
e o ideal de mudar a sociedade por meio da educação escolar, sei
que uma mudança efetiva, que vise a igualdade das condições de
acesso aos bens culturais, de direitos e deveres às pessoas não
será alcançada somente por meio da educação. Entretanto, sei que,
por meio do meu trabalho, se bem planejado, coerente e comprometido
para com as pessoas, posso auxiliar sobremaneira na vida delas, na
minha e daqueles que estão à nossa volta. Ainda estou na profissão
docente por que gosto do que faço, faço com entusiasmo, carinho e
vontade. Preparo as aulas que sempre quis que meus professores
desenvolvessem comigo e que muitos dos estudantes de agora gostariam
que fossem desenvolvidas. Enquanto tiver este entusiasmo e vontade
vou continuar na profissão. Quando não tiver mais brilho no olhar,
criatividade e vontade sei que será a hora de parar e fazer outra
coisa.
Porque acredito na
educação. Me realizo com meu trabalho.
Acreditar que mesmo
diante das dificuldades ainda vale a pena.
Porque acredito fazer a
diferença, mais do que transmitir conhecimento me fascina o fato de
poder trocar experiências.
Ser docente nos aproxima
mais das pessoas como seres humanos.
Acreditar, ainda, que é
através e pela educação que transformaremos simples pessoas em
cidadãos críticos atuantes realmente na sociedade.
É acreditar que apesar
de muitas turbulências, a educação é primordial para a formação
do cidadão, que acredita e participa da construção de seu país e
tem orgulho de ser chamado de brasileiro.
Realização
profissional: a cada dia que passa minhas aulas são melhores, sinto
isso no interesse que despertam nos alunos, eles já chegaram a me
aplaudir ao final da aula.
A satisfação de poder
ensinar aos outros o que um dia a mim foi ensinado e, mesmo com
tantas dificuldades que enfrentamos nesta profissão, o contato e a
convivência com os alunos.
Vontade
de ajudar na melhoria da educação, enfim, estou feliz por isso,
continuo.
Eu gosto do que faço!
O gostar do que faço; a
possibilidade de acompanhar o crescimento e amadurecimento pessoal e
de conhecimento dos alunos; a utopia da educação como processo de
transformação pessoal e social.
O gostar do que faço e
do meu trabalho. Amo meu trabalho e minha profissão. Escolhi minha
profissão. Desde pequena queria ser professora e "queria educar
as bonecas". Hoje em dia, apesar da grande dificuldade da arte
educar, busco enriquecer meus conhecimentos a cada dia para poder
superar as expectativas e dificuldades encontradas. Mas o amar meu
trabalho é o que mais me fortalece para me manter nesta profissão
que a cada dia se torna mais difícil pelos problemas gerados na
sociedade.
Sou
apaixonada por "ensinar";
Estar
ensinando é estar estudando, e isto é muito bom. Mesmo assim busco
outra opção, apesar que minha formação limita as oportunidades.
Ainda gosto da magia da
sala de aula. Quanto mais estudo (porque nunca parei) mais gosto de
compartilhar o conhecimento. Não tem nada melhor do que uma aula bem
aproveitada com participação(dos alunos), com debate, com aquele
comentário de alguns, muitas vezes na segunda feira: Professora, eu
assisti na TV (pode ser no Faustão mesmo) a orquestra sinfônica que
estudamos na última aula... e por aí vai.
Os agradecimentos dos
alunos, principalmente quando passam no vestibular. são mínimos,
demorados, mas sempre tem aqueles que agradecem.
A satisfação de ver um
aluno evoluindo na sua aprendizagem, na vida, como você.
Na atualidade o maior
desafio é a manutenção dos adolescentes no mundo esportivo. Hoje
eles apresentam outras prioridades, namoro, estudo, idiomas,
cursinho, shopping, cinema, internet, qualquer coisa menos treinar e
ter responsabilidades. Contribuí diretamente na formação humana,
valores obtidos através do esporte, disciplina, espírito de equipe,
responsabilidade, compromisso e respeito.
4.3.
Dimensão que demonstra a identidade do professor enquanto cientista
Um bom professor pode ser
definido como o profissional que detém conhecimento sólido e
atualizado em sua área específica – o cientista. Esse
conhecimento é constituído por saberes reconhecidos e identificados
como pertencentes aos diferentes campos do conhecimento (linguagem,
ciências exatas, ciências humanas, ciências biológicas, etc.).
Esses saberes, produzidos e acumulados pela sociedade ao longo da
história da humanidade, são administrados pela comunidade
científica e o acesso a eles deve ser possibilitado por meio das
instituições educacionais. E é o professor que possibilita esse
acesso.
Segundo Tardif (2002)
“...um professor de profissão não é somente alguém que aplica
conhecimentos produzidos por outros, não é somente um agente
determinado por mecanismos sociais: é um ator no sentido forte do
termo, isto é, um sujeito que assume sua prática a partir dos
significados que ele mesmo lhe dá, um sujeito que possui
conhecimentos e um saber-fazer provenientes de sua própria atividade
e a partir dos quais ele a estrutura e a orienta.” Ainda de acordo
com Tardif (2002) “...reconhecer que os professores de profissão
são sujeitos do conhecimento é reconhecer, ao mesmo tempo, que
deveriam ter o direito de dizer algo a respeito de sua própria
formação profissional, pouco importa que ela ocorra na
universidade, nos institutos ou em qualquer outro lugar”.
Até
porque uma das tarefas no trabalho do professor é arranjar
contingências que favoreçam a generalização dos conteúdos e
habilidades aprendidos na escola para um ambiente natural. A partir
das contingências organizadas em sala de aula, é preciso preparar o
aluno para que ele possa enfrentar as contingências naturais da
vida. O professor deve agir no sentido de tornar o seu aluno cada vez
mais independente. Conforme descrito por Skinner (1972)
“quanto melhor o professor, mais importante é que ele liberte o
aluno da necessidade de auxílio instrucional” (p.
136).
Sobre isso, foi possível
agrupar algumas declarações dos professores que responderam à
pesquisa que demonstram uma identidade de cientista, ligada à
socialização dos conhecimentos historicamente construídos e
socialmente legitimados:
A certeza que a educação
é o único meio pelo qual podemos transformar o mundo
Os anos de carreira, e
por ainda acreditar que a educação (conhecimento) é a solução
para o desenvolvimento de um país.
Vontade de retribuir de
alguma forma, pelo conhecimento, as oportunidades que recebi.
Ensinar o que sei e
perceber que o que foi passado foi aprendido é muito gratificante.
Perceber os problemas da sala de aula e procurar uma forma de
contorná-los torna a docência interessante, mas a vontade de
ensinar é o maior motivo.
O interesse que alguns
alunos demonstram por aprender.
Ainda acredito no ato de
educar como uma troca de conhecimentos, e tento fazer com que meus
alunos vejam em mim pelo menos 30% das qualidades que eu via em meus
antigos professores.
5.
Análise das respostas para a Questão 02: Os percalços da profissão
docente
Para um grupo de 27 professores, de
diferente disciplinas e tempo de atuação, foi perguntado o que
seria mais desgastante na profissão docente, ou seja, ao pensar no
cotidiano da profissão, o que existe que mais dificulta o fazer
pedagógico docente.
A partir das respostas do grupo,
também enviadas por meio da ferramenta blog, foi possível agrupar
as respostas em dois campos distintos: um primeiro campo diz respeito
às dificuldades oriundas do próprio sistema público de ensino
(governo), burocracia e espaço físico da unidade escolar e outro
campo relaciona-se com os comportamentos dos alunos e seus pais.
Dificuldades
oriundas do sistema de ensino, falta de segurança, burocracia e
espaço físico
|
Dificuldades
advindas do comportamento dos alunos e seus pais
|
Lidar
com o sistema, querer sempre culpar o professor. Exige-se muito e
cumpre pouco.
A
falta de comprometimento dos governantes com a educação.
A
falta de segurança devido ao grande aumento de violência dentro
e fora do ambiente escolar.
A
falta de remuneração (baixos salários) para tantas horas de
trabalho, caso o professor queira preparar boas aulas.
Espaço
pedagógico precário, falta de tomada de atitude das direções
escolares em muitas situações, pessoas que estão na escola só
pra ocupar espaço, cumprem o protocolo de horários, sem se
importarem em fazer algo para realmente auxiliar, nesse caso, em
setores de parte pedagógica (professores, pedagogas ,
bibliotecárias ), falta de material extra para ser trabalhado com
alunos, promessas não cumpridas dentre outras...
Laboratório
de informática em péssimo estado.
Os
livros de chamada, sem dúvida nenhuma! Os diários intermináveis
de lançamento de conteúdos e preenchimentos de campos
(repetidos) por várias páginas.
Burocracia
na manutenção dos livros de chamadas.
O
número de alunos em sala de aula, e muitas vezes a falta de
suporte na parte pedagógica da escola, por falta de material
humano.
Excesso
de alunos em sala de aula (o ideal seria entre 15 a, no máximo,
20 alunos).
|
A
falta de vontade dos alunos em aprender.
O
desinteresse dos alunos em obter o conhecimento, pois muitos vem à
escola porque são obrigados por lei.
Grande
desinteresse dos alunos em estudar, pouco estudo.
Competir
com os celulares dos alunos e o desinteresse deles por qualquer
aula que eu prepare.
Alunos
mal educados e sem limites.
Falta
de perspectiva de vida.
Ter
que cuidar de problemas familiares, pois os pais delegam para a
escola o dever que é deles.
É
falta de vontade dos alunos e a negligência dos pais.
A
falta de comprometimento dos pais.
A
falta da família na escola.
A
falta de educação dos alunos, que trazem seus problemas de casa
e você tem que "lidar" com eles. São problemas e
frustrações que não fazem parte da aula, nem da sala de aula,
mas que contamina, desvirtuando todo o processo
ensino-aprendizagem. O professor acaba tendo que se voltar para
questões existenciais, pois na escola está desembocando todo
tipo de problema para a própria escola resolver.
A
falta de respeito pelo profissional e de comprometimento com a
escola, muitas vezes os alunos e a família veem o professor como
seu inimigo e não como alguém que pode proporcionar um
direcionamento positivo.
Perder
muito mais tempo chamando a atenção dos alunos e tentando manter
a ordem do que fazendo o que realmente estudamos e nos
especializamos para fazer, que seria ensinar.
Educar
ao invés de ensinar.
O
maior desgaste ainda está em tentar resgatar o respeito mútuo em
sala de aula, os alunos não possuem nenhum modelo de respeito vem
de suas casas zerados, e é em sala que tentamos passar alguns
conceitos básicos.
O
descumprimento das regras preestabelecidas: uma laranja podre
estraga todo o pacote.
Infelizmente
hoje os percalços que encontramos são grandes: alunos sem
condições de aprendizagem, sem atendimento, falta de limites, de
educação.
|
5.1.
Dificuldades oriundas do sistema de ensino, falta de segurança,
burocracia e espaço físico
Nota-se, pelas respostas do grupo, que
a maioria (17 professores) aponta como maiores dificuldades aquelas
questões relacionadas à postura dos alunos: desinteresse,
descomprometimento, falta de respeito, indisciplina, displicência,
problemas familiares, atrelando isso ao posicionamento igualmente
desinteressados dos pais. Aparece também um aspecto que é
recorrente no discurso de professores que eles de “educar, ao invés
de ensinar”, revelando com isso um posicionamento, de certa forma
simplista, de que ser professor é apenas repassar conteúdos. Essa
afirmação acaba sendo contraditória ao que a maioria respondeu na
questão anterior (o porquê se mantém na profissão) na qual
aparece a identidade de educador com expressivo número de
professores.
Esses problemas citados, revelam, em
certa medida, que o professor se vê imerso em situações de sala de
aula nas quais não consegue resolver. Talvez um dos caminhos seria o
fortalecimento de equipes e coletivos de trabalho a fim de
problematizar com mais profundidade as angústias e dificuldades e, a
partir disso, buscar soluções para resolvê-las.
Para
tentar compreender esse suposto desinteresse dos alunos estudos
tem mostrado que constantes
ausências dos professores, problemas de infraestrutura do ambiente
escola, questão da violência e do bullying
e a repetência, são problemas que deixam claro que a escola precisa
se aproximar da realidade dos alunos, entender as suas expectativas e
anseios e envolvê-los nas questões escolares de forma a adequar
melhor os projetos pedagógicos às necessidades. São problemas que,
de certa forma, causam o desinteresse dos alunos e por isso mesmo é
necessário garantir professores presentes e preparados, melhorar a
infraestrutura, usar as novas tecnologias durante as aulas e zelar
pela segurança no ambiente escolar. Aproximar a escola do universo
dos alunos seria o maior desafio, pois estes devem ser, ao mesmo
tempo, sujeitos e objetos da ação de seu desenvolvimento.
Evidentemente que, para
promover um maior interesse dos alunos pelos estudos, os professores,
em cada momento, devem utilizar a metodologia que pareça mais eficaz
e motivadora, não devendo trabalhar apenas de uma forma. Devem
utilizar procedimentos e métodos variados que consigam suscitar em
seu aluno a vontade de aprender. Mesmo assim, considerando que a
frequência à escola é compulsória, e que, portanto, não foi
produto de uma escolha a participação no “jogo” escolar,
pode-se ainda pensar que o alunado necessitaria de ampla gama de
interesses externos ao campo escolar para aceitar que o que acontece
ali é importante e que vale a pena continuar lutando.
E, ao forjar o
desinteresse pelo conhecimento, a escola, na fala desse grupo de
professores, devido ao seu padrão escolar de desenvolvimento de
conteúdos, comportamentos e habilidades, cumpre a sua função
social de conservação e sua função ideológica de legitimação
(BOURDIEU & PASSERON, 2009). Solo fértil para se ver reforçado
o ciclo reprodutor das desigualdades. E é claro que não basta
observar os problemas e criticar, no caso o desinteresse dos alunos,
é necessário assumir-se como parte da relação pedagógica, dos
dilemas e problemas que o ensino-aprendizagem envolve, sendo
fundamental assumir e agir responsavelmente.
5.2.
Dificuldades advindas do comportamento dos alunos e seus pais
Já
um grupo de 10 professores aponta questões internas (espaço físico,
preenchimento de livros de registro de classe e número de alunos em
sala) e externas (baixos salários, aumento da violência e descaso
do governo) como principais problemas que dificultam a ação
pedagógica do professor. São questões que
mostram a falta de autonomia dos professores para solucionar os
problemas percebidos. Essa falta de autonomia revela a perda de
controle sobre o processo de trabalho, ou seja, o professor cita e
vivencia o problema, sem no entanto conseguir desvencilhar-se dele ou
resolver. Pode-se, a partir desses apontamentos, interpretar que as
relações de trabalho na escola ocorrem como uma reprodução
das relações de trabalho fabril. Uma grande ameaça que pode ser
apontada é justamente perda efetiva de autonomia dos professores,
muitas vezes concretizadas pela padronização de importantes
processos, tais como o livro didático, as propostas curriculares
centralizadas, as avaliações externas, entre outras. Essa
padronização efetiva uma tendência crescente à massificação da
educação, com prejuízos nas condições de trabalho para os
professores, trazendo consigo processos de desqualificação e
desvalorização do corpo docente.
Assim, esses arranjos e cobranças de
cima para baixo que interferem no fazer pedagógico dos professores,
exigem desses novas formas de construção de práticas e ações, a
fim de melhorar as atuais condições de vida e trabalho a que estão
submetidos. Dessa forma, um aspecto fundamental na organização dos
professores diante dos conflitos e das relações de poder – e
nesse trabalho o aspecto central – é o processo de construção da
identidade política. Identidade política é aqui entendida como
“processo de configuração da auto-consciência de um grupo em que
ele elabora sua posição e ação diante dos conflitos e das
relações de poder.” (MASCARENHAS, 2002, p. 15). Assim, a
identidade política dos professores configura-se como um processo de
construção permanente de um pertencimento auto-representado e
auto-definido que se manifesta tanto nas ações como nos discursos
dos sujeitos articulados a esse grupo. Tal perspectiva de identidade
política dos trabalhadores rompe com a ideia de fragmentação em
movimentos isolados e segmentados próprios desta quarta da história,
retomando o trabalho como categoria central e fundante da
constituição do homem como ser genérico. Afinal, o trabalho é o
elemento constituinte da subjetividade dos sujeitos e possibilita a
construção de grupos.
6.
Considerações finais
Como as profissões são
construídas pela ação dos atores é cada vez mais imprescindível
criar espaços de reflexão e discussão, especialmente no interior
das escolas, para fortalecer a ideia de pertença a um coletivo e
também para que a “voz do professor” (GOODSON, apud NÓVOA,
1995) esteja mais presente no debate educativo. Em outras palavras,
incentivar novos modelos de organização da profissão docente
contribui para evitar indicadores de não profissionalidade.
Deve-se
ter em mente que os professores exercem um papel insubstituível no
processo da transformação social. A formação identitária do
professor abrange o profissional, pois a docência vai mais além do
que somente dar aulas, constituiu fundamentalmente a sua atuação
profissional na prática social. Ressignificar a identidade do
professor significa entender que a identidade
do professor é uma só, constituída pela identidade pessoal e pela
identidade profissional. Esta união é indissociável, da qual surge
a identidade do professor, pois ele é uma pessoa, e uma parte
importante dessa pessoa é o professor.
O professor do século
XXI, deve ser um profissional da educação que elabora com
criatividade conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade.
Nessa era da tecnologia, os professores devem ser encarados e
considerados como parceiros/autores na transformação da qualidade
social da escola, compreendendo os contextos históricos, sociais ,
culturais e organizacionais que fazem parte e interferem na sua
atividade docente. Cabe então aos professores do século XXI a
tarefa de apontar caminhos institucionais (coletivamente) para
enfrentamento das novas demandas do mundo contemporâneo, com
competência do conhecimento, com profissionalismo ético e
consciência política. Só assim, estaremos aptos a oferecer
oportunidades educacionais aos nossos alunos para construir e
reconstruir saberes à luz do pensamento reflexivo e crítico entre
as transformações sociais e a formação humana, usando para isso a
compreensão e a proposição do real, sem deixar se seduzir pelos
caminhos deslumbrantes dos anúncios publicitários, pelas opiniões
tendenciosas da mídia.
É necessário que o
professor esteja constantemente atualizando-se. É fundamental
conhecer seus alunos, suas expectativas, sua cultura, as
características e problemas, suas necessidades de aprendizagem. Deve
também refletir permanentemente sobre sua prática, buscando meios
de aperfeiçoá-la, bem como favorecer a autonomia dos alunos,
estimulá-los a avaliar constantemente seus progressos e ajudá-los a
tomar consciência de como é realizada a aprendizagem, valorizando
todo o conhecimento que o educando já possui.
Enfim, a grande tarefa do
professor, hoje, preocupados em viabilizar um amanhã mais eticamente
humano, inclui a luta por políticas públicas de respeito aos
direitos fundamentais dos cidadãos como, entre outros, o da escola e
do trabalho. Mas ao mesmo tempo que por uma política de
estabelecimento de dar mais grandeza e não de subtrair dignidade
humana. Finalmente, a escola deve ser um espaço coletivo de
construção de direitos e deveres do cidadão, primando por valores
éticos e morais, resgatando assim, o exercício da cidadania, da
ação participativa, valorizando mais o diálogo, a escuta, a
solidariedade e a criatividade..
7. Referências
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