Alexandro Muhlstedt
Que
fique para trás o mundo moderno essencialmente racional, que buscou
(utópica e inutilmente) uma unidade universal de indivíduo, para
que vivamos num mundo moderno reflexivo.
(Anthony
Giddens)
A
educação será tão
mais
plena quanto
mais
esteja
sendo um ato de conhecimento,
um
ato político, um compromisso ético e uma experiência estética.
(Paulo
Freire)
Ninguém
começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro a tarde.
Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador.
A
gente se faz educador, a gente se forma, como educador,
permanentemente,
na
prática e na reflexão sobre a prática.
(Paulo
Freire)
Eu
quero sempre mais do quem vem dos milagres.
(Cecília
Meireles)
Na elaboração e reelaboração do
processo de humanização, o papel desempenhado pelo professor assume
contornos complexos, que exige profissional comprometido e ético,
pois não se pode mais admitir “o ensino como transferência de
informação e a aprendizagem, como o recebimento, a armazenagem e a
digestão de informações” (SCHÖN, 2000, p. 226). É necessário
construir uma identidade profissional combinada com uma prática
pedagógica adequada ao mundo moderno. Neste sentido, é o
conhecimento historicamente elaborado que serve de pano de fundo para
a práxis pedagógica do professor.
Este
tratamento pedagógico dado ao conhecimento é atividade que ocorre
ao longo da carreira do professor. No decorrer de sua existência
profissional, elaborando os saberes da docência, o professor
comprometido passa por um importante processo de reflexão sobre a
própria prática (SCHÖN, 2000. p.21). E é justamente a tomada de
consciência desse processo reflexivo que concretiza a existência
de um professor-reflexivo. Ao estudar essa “cultura reflexiva”
incorporada a um perfil de professor nota-se que um dos autores que
teve maior peso na difusão do conceito de “reflexão” foi Donald
Schön, filósofo e pedagogo norte-americano que tem seus estudos e
suas preocupações centrados nos problemas de aprendizagem, nas
organizações e na eficácia profissional. Os pressupostos de Schön,
apoiados na herança do pensamento de John Dewey1
acerca da reflexão aplicada às questões educacionais, começaram a
ser difundidos por meio de seus livros “The
Reflective Practitioner”2
e “Educating
the Reflective Practitioner”3,
que contribuíram para popularizar as teorias sobre a epistemologia
da prática (termo utilizado para referir-se ao estudo das teorias do
conhecimento, adquirido através de atividades práticas).
Conforme
Lüdke (2000), a partir da proposta de Schön acerca do reflexive
practitioner,
surgiu a idéia de pesquisa como parte do trabalho do professor, e do
próprio professor como pesquisador. Daí a crítica ao processo de
formação de professores principalmente quanto à dicotomia teoria e
prática e à distância entre as pesquisas acadêmicas e os
problemas vividos pelos docentes no dia-a-dia de sua profissão.
Ao
se deparar com a realidade escolar, o professor passa a enfrentar os
dilemas de formação obtida na Licenciatura e as exigências
impregnadas na vivência em sala de aula da escola pública. Isso é
o início de uma aprendizagem docente que constituirá um saber
elaborado por meio do fazer. Segundo
Schön (2000), os professores
criam um conhecimento específico e ligado à ação; é pessoal,
tácito, não-sistemático, espontâneo, intuitivo, experimental e
cotidiano. Esta análise cria a categoria professor-reflexivo e os
conceitos reflexão-na-ação, reflexão-sobre-a-ação e reflexão
sobre a reflexão-na-ação.
De
acordo com Schön, a reflexão-na-ação
consiste em refletir no meio da ação, sem interrompê-la. O
pensamento
conduz a dar nova forma ao que está sendo feito, no momento em que
está sendo feito, possibilitando interferir na situação em
desenvolvimento. Para ele, observando e refletindo sobre
as ações, pode-se descrever um conhecimento que nelas está
implícito. Então, mediante a observação e a reflexão, pode-se
descrever e explicitar essas ações e, para isso, posicionando-se
diante do que se deseja observar, podendo, então, encontrar novas
pistas para a solução dos problemas que se apresentam. É um
processo de diálogo com a situação problemática que exige uma
intervenção concreta. O autor considera que, nesse processo, o
profissional envolvido com a situação, encontra-se constrangido
pelas pressões espaciais e temporais e pelas solicitações
psicológicas e sociais do cenário em que atua. Portanto, como
assevera Gómez (1992) “é um processo de reflexão sem o rigor, a
sistematização e o distanciamento requerido pela análise racional,
mas com a riqueza da captação viva e imediata das múltiplas
variáveis intervenientes e com a grandeza da improvisação e
criação”
A
reflexão-sobre-a-ação
consiste em pensar retrospectivamente sobre o que foi feito,
almejando descobrir como o ato de conhecer-na-ação pode ter
contribuído para um resultado inesperado. Esse
“conhecimento-na-ação”
traz consigo um saber que está presente nas ações profissionais as
quais, por sua vez, vêm carregadas de um “saber escolar”,
entendido como um tipo de conhecimento supostamente possuído pelos
profissionais; uma visão dos saberes profissionais como fatos e
teorias aceitos. É esse “saber escolar” que possibilita ao
profissional transitar no seu meio e poder agir, por possuir “um
conhecimento na ação”. Porém, o “saber escolar” também se
caracteriza por estar colado a um certo modo de enfrentamento das
situações do cotidiano e por revelar um conhecimento espontâneo,
intuitivo, experimental. O
conhecimento, portanto, está na ação em si, e o revelamos por meio
de ações espontâneas e habilidades.
Diferentemente,
a
reflexão sobre a reflexão-na-ação
repousa no ato de pensar sobre a reflexão-na-ação passada,
consolidando o entendimento de determinada situação e, desta forma,
possibilitando a adoção de uma nova estratégia. Esse momento pode
ser considerado
como a análise que o professor realiza a
posteriori sobre
as características e processos da sua própria ação. É a
utilização do conhecimento para descrever, analisar e avaliar os
vestígios deixados na memória por intervenções anteriores. Para o
autor, “na reflexão sobre a ação, o profissional prático,
liberto dos condicionamentos da situação prática, pode aplicar os
instrumentos conceituais e as estratégias de análise no sentido da
compreensão e da reconstrução da sua prática”. Esse
distanciamento da ação presente, para refletir, é um movimento que
pode ser desencadeado sem gerar, necessariamente, uma explicação
verbal, uma sistematização teórica. Todavia, ao produzir uma
descrição verbal, isto é, uma reflexão sobre a reflexão da ação
passada, pode influir, diretamente, em ações futuras, colocando em
prova uma nova compreensão do problema. Esse momento é
caracterizado pela intenção de se produzir uma descrição verbal
da “reflexão-na-ação”. É necessário, ainda, a capacidade de
se refletir acerca da descrição resultante, podendo-se gerar
modificações em ações futuras, ou seja: quando se reflete sobre a
“reflexão-na-ação”, julgando e compreendendo o problema,
pode-se imaginar uma solução para ele.
Esses três processos
descritos - reflexão-na-ação,
reflexão-sobre-a-ação e reflexão
sobre a reflexão-na-ação -
constituem o “pensamento prático” do profissional, com o qual
enfrenta as situações “divergentes” da prática. Esses
processos não são independentes, mas, sim, completam-se entre si
para garantir uma intervenção prática racional.
Sendo no exercício
compartilhado em busca de soluções para dificuldades individuais e
coletivas é que, de acordo com Schön, a reflexão na ação e sobre
a ação podem se constituir em forte aliada profissional. É
possível reconhecer que “todos
nós que habitamos a escola sabemos que fazemos parte de um sistema
social onde coexistem diferentes actores, diferentes filosofias,
percepções e objetivos e muitos jogos de poder conflituosos.”
(ALARCÃO, 2010, p. 96). Assim, construir a si mesmo, num ambiente
dessa natureza, exige a capacidade de mobilizar-se em direção à
concretização de atividades compartilhadas, em constante
desenvolvimento porque coletivamente construídos.
Nesse contexto, merece
atenção o modo como o professor realiza a reflexão sobre as suas
práticas pedagógicas e como procede a relação de sua vida com a
vida profissional. Para assegurar
um processo pedagógico reflexivo há que se investir na formação
de um sujeito ativo e reflexivo, reorganizando atividades escolares,
revendo acumulação de informação e buscar a interpretação da
informação.
Schön
(1992, p. 81) aponta que é importante formar um professor reflexivo,
que dê conta de lidar com confusão e incerteza que surgem na sua
ação, tanto por parte dos alunos quanto do próprio professor, pois
é impossível aprender sem ficar confuso. A formação pedagógica
deve levar em conta, portanto, uma formação de professor que tenha
um practicum
reflexivo.
O
conteúdo da reflexão se forma através das relações sociais de
produção situadas ideologicamente como pessoas de determinada
classe que lutam contra certas práticas. A reflexão
também é, então, ideológica por sustentar, reproduzir,
transformar estas práticas, criando distintas relações entre as
pessoas, entre estas e o processo de produção, de tomada de
decisões e de comunicação.
Nesta proposta fica evidente a
importância da ação prática do professor, que quase se
autonomiza. Assim, para evitar certo espontaneísmo e elaboração de
uma concepção de reflexão com perspectiva meramente individual, é
que a prática reflexiva pressupõe uma situação institucional,
coletiva, e deve levar também à ação, de modo a promover
alterações desde a sala de aula, a escola e a comunidade até as
estruturas sociais mais amplas.
Desse modo, a atenção do professor
estará voltada para a sua própria prática e para as condições
sociais nas quais a mesma se situa, numa perspectiva democrática e
emancipatória. Tornar o ensino reflexivo é tornar mais conscientes
os saberes tácitos: criticá-los, examiná-los e melhorá-los. A
prática reflexiva tem compromisso com a reflexão como prática
social.
A
tarefa de investigar a própria prática, de examinar o rigor e a
coerência ou não com o que foi realizado, de avaliar as próprias
percepções, é uma tarefa de prática teórica que a
investigação-ação escolar,
permite construir uma identidade mais próxima do compromisso social
com o desenvolvimento humano e com o próprio processo de
humanização.
Os professores que refletem em ação
e sobre a ação estão envolvidos num processo investigativo, não
só tentando compreender melhor a si próprios como professores, mas
também procurando melhorar o seu ensino. A profissionalidade desse
professor envolve: o empenho para o questionamento sistemático do
próprio ensino como uma base para o desenvolvimento; o empenho e as
competências para estudar o seu próprio ensino; a preocupação
para questionar e testar teoria na prática fazendo uso dessas
competências e a disponibilidade para permitir a outros professores
observar o seu trabalho – diretamente ou através de registos e
discuti-los numa base de honestidade. Esta perspectiva pressupõe que
ensinar é mais do que uma arte. É uma procura constante com o
objetivo de criar condições para que aconteçam aprendizagens.
A ideia de reflexão surge associada
ao modo como se lida com problemas da prática docente à
possibilidade do professor aceitar um estado de incerteza e estar
aberto a novas hipóteses. Com isso, acaba dando forma a esses
problemas, descobrindo novos caminhos, construindo e concretizando
soluções. Este processo envolve, pois, um equacionar e reequacionar
de uma situação problemática. Num primeiro momento há o
reconhecimento de um problema e a identificação do contexto em que
ele surge e, num segundo momento, a conversação com o “repertório
de imagens, teorias, compreensões e ações” (SCHÖN, 2000, p. 31)
criando uma nova maneira de o ver. A reconstrução de algumas ações
pode resultar em novas compreensões da situação. E isto é
pressuposto do processo reflexivo, que se caracteriza por um vaivém
permanente entre acontecer e compreender na procura de significado
das experiências vividas.
Thompson (1992 apud OLIVEIRA;
SERRAZINA, 2002, p. 34) afirma que o professor é conduzido, através
da reflexão na sua própria prática e, especialmente, através da
reflexão sobre ela a obter uma visão crítica do contexto
estrutural ou ideológico em que trabalha. A reflexão desempenha,
então, um papel essencial sobre o conteúdo a ensinar, sobre as suas
próprias práticas e sobre o que é o ensino e a aprendizagem. Isso
pode levar à alteração de crenças e concepções sobre o que é
ensinar e da relação do professor com a disciplina que ministra.
O processo reflexivo caracteriza-se
por um vaivém permanente entre acontecer e compreender na procura de
significado das experiências vividas. Há, através das práticas,
um ganho na compreensão e esta nova compreensão pode fazer surgir
um insight
sobre o que significa ser professor. Deste modo, a artistry
do professor, metáfora útil para expressar o que os professores em
cooperação são capazes de fazer, vai-se desenvolvendo. Claramente,
os vários tipos de reflexão têm um papel importante no
desenvolvimento da artistry,
segundo Schön (1987).
Só a reflexão, no entanto, não é
suficiente para empreender mudanças. Ela tem de ter força para
provocar a ação. A ação exige um ambiente propício, como por
exemplo, uma equipe comprometida com o projeto de escola e de
sociedade, como uma forma de enriquecer a reflexão individual. Esta
equipe de reflexão funciona como o espaço onde se colocam e
discutem as questões que resultam da prática, onde se sentem novas
necessidades e se constroem novos conhecimentos.
Refletir sobre a ação e na ação,
constituindo-se sujeito reflexivo, leva o professor a extrapolar o
âmbito de questões pedagógicas. A realidade, longe de ser trivial,
aproxima de questões da esfera macro, fazendo pensar sobre as
políticas públicas em suas finalidades e intencionalidades. E nesta
perspectiva, o processo educativo assegura os espaços de
interlocução, de identificação de relações de poder, de papéis
sociais, de diferenças e de identificações. Por isso mesmo, o
professor que reflete em ação e sobre a ação está envolvido num
processo investigativo, não só tentando compreender melhor a si
próprio como professor, mas também procurando melhorar o seu
ensino.
Assim, construir a identidade de
professor reflexivo é analisar o saber escolar tendo como ponto de
partida o professor e sua ação. Não se pretende, portanto,
analisar a reação do saber escolar com o saber de referência,
embora seja o fio condutor da prática docente. A concepção que se
pretende explorar é sobre o saber escolar que surge de preocupações
com o saber do professor e não com o saber escolar propriamente
dito. Nesta perspectiva, ensinar
os saberes escolares é uma procura constante com o objetivo de criar
condições para que aconteçam aprendizagens.
Conforme
afirma Zeichner (1981), o
ensino reflexivo requer uma permanente autoanálise por parte do
professor, o que implica abertura de espírito, análise rigorosa e
consciência social. Esse mesmo autor dá um exemplo: quando se fala
em ensino de Química, o professor tem de analisar a situação
concreta, perceber os alunos com que trabalhará, o que se espera que
eles aprendam em Química, o que se entende hoje por aprender e
ensinar Química e o seu papel na formação pessoal e social do
aluno. É este processo investigativo realizado pelo professor, em
termos individuais e coletivos, que o leva a ação. Para que este
processo tenha sucesso é necessário que o professor questione e
reflita sobre situações de sala de aula e que o faça no contexto
da sua realidade.
De acordo com Resende (apud VEIGA,
2003, p. 255) os sujeitos reflexivos são sujeitos coletivos, pela
consciência do não isolamento científico; sujeitos concretos e
históricos, tendo o contexto e as circunstâncias vivenciadas como
referenciais; sujeitos sociais, pela não-neutralidade e pela ênfase
no pressuposto das intervenções; sujeitos éticos, pelo compromisso
e pelo respeito a si e ao outro; sujeitos políticos, pela
intencionalidade de suas ações.
Na constituição desses sujeitos
reflexivos, há que se considerar ainda um importante elemento que é
a consciência histórica que constrói o ser humano. Sem essa
consciência, o mundo passa a ser entendido como uma fatalidade, um
determinismo resultante da assimetria na relação do opressor com o
oprimido. O
saudosismo, o desejo da volta a um mundo em que não havia
contestação, o professor tinha status
e era o centro da sala de aula, ditando normas, pontos e conceitos,
não se coadunam com o professor reflexivo, homem de seu tempo, de
passo acertado com a evolução que continua. Vasconcellos (1995,
p.67) explica que “o espaço de reflexão crítica, coletiva e
constante sobre a prática é essencial para um trabalho que se quer
transformador”.
Na sociedade atual,
plural e diversa, caracterizada pelos conflitos, incertezas e
complexidades, o professor precisa desenvolver uma prática reflexiva
no sentido de transformar a sala de aula. As práticas reflexivas na
medida em que vai envolvendo o professor em um trabalho coletivo e
colaborativo podem constituir um modo de lidar com a incerteza,
encorajando a trabalhar de modo competente e ético tendo como meta a
melhoria educacional. Construir uma identidade reflexiva é
vivenciar, então, uma prática pautada numa identidade social, ética
e política.
Por
meio do processo reflexivo, o professor tem como resultado, em
primeira e em última instância, um estranhamento, uma dúvida, uma
interrogação, uma indignação que, em função disso, pode
desencadear
o pensamento crítico. Até porque, nas
situações decorrentes da prática, não existe um
conhecimento profissional para cada caso-problema, que teria uma
única solução correta. O profissional competente atua refletindo
na ação, criando uma nova realidade, experimentando, corrigindo e
inventando por meio do diálogo que estabelece com essa mesma
realidade. Na base dessa perspectiva, que confirma o processo de
“reflexão-na-ação” do profissional, é que se encontra uma
concepção construtivista da realidade confrontada.
Espera-se evidenciar o
importante papel da profissionalização do professor, elevando o
status
do saber docente e colocando tal profissional como pólo de
referência ao pensamento e à prática pedagógica na escola de
educação básica da rede estadual. Tal empreitada passa,
obrigatoriamente pela
compreensão crítica das razões que antecederam a
profissionalização docente e das motivações que impelem ao
compromisso com a escola, passando pela análise dos elementos que
constituem a identidade profissional construída junto com os saberes
docentes, contextualizados na sociedade contemporânea.
Freire reforça a necessidade da
postura crítica e da prática reflexiva para compreender o mundo. O
professor, em sua prática pedagógica, ao refletir sua ação, deve
levar seus alunos a constituírem uma compreensão crítica do mundo.
Também salienta que são verdadeiramente críticos os professores
que vivem a plenitude da práxis. Isto é, que incorporam na ação
uma crítica reflexão que organiza o pensamento e conduz à
superação de um conhecimento estritamente ingênuo da realidade.
Estes precisam alcançar um nível superior para que os sujeitos
cheguem à razão da realidade. Para concretização disso, antes de
mais nada, há a exigência de um pensar constante, que não pode ser
negado às massas populares, se o objetivo visado é a libertação e
a transformação (FREIRE, 1987).
Nesse sentido, a
prática docente tendo em vista a formação de um aluno crítico,
observador, questionador, exigente, que cobra qualidade, que precisa
ser formado cidadão, exige um professor, ele também, crítico de
sua ação e sempre pronto a se questionar-se para progredir.
Vasconcellos (1995, p. 56) descreve que o professor necessita
“conhecer,
acolher criticamente, buscar o aprofundamento da proposta da escola;
procurar unidade de ação com colegas; postura de investigação em
relação à sua disciplina; abertura; não querer ser o dono da
verdade; ser observador; saber ouvir; confiar nos companheiros;
disponibilidade para aprender; desenvolver a postura
interdisciplinar”.
A
construção desse processo de reflexão crítica permite aos
professores avançar num processo de transformação da prática
pedagógica mediante sua própria transformação como intelectuais
críticos, isto requer, de acordo com Contreras (2002) a tomada de
consciência dos valores e significados ideológicos implícitos nas
atuações docentes e nas instituições, e uma ação transformadora
dirigida a eliminar a irracionalidade e a injustiça existentes
nestas instituições. Como sinaliza Ghedin, (2012) “a reflexão
crítica apela a uma crítica da interiorização de valores sociais
dominantes, como maneira de tomar consciência de suas origens e de
seus efeitos” (p. 170).
Há
que se levar em consideração, no entanto, uma questão fundamental
explicitada por Aquino e
Mussi (2001, p. 225): “A experiência dessa vivência peculiar
contemporânea,
acreditamos, obriga os sujeitos-professores desse tempo a cogitarem
sobre quem são diante das novas ingerências do presente sobre a
profissão, quase a exigir que o professor dilate antigos códigos do
'dever ser' da profissão e se insira no interior de seu próprio
presente. Que, enfim, ele aprenda a se ver altercado pelas teorias
educacionais que o legitimam como um sujeito da reflexão,
autodeterminação e autonomia”. Nessa perspectiva, há que se
considerar alguns aspectos e algumas atitudes a serem desenvolvidas
por aqueles que se desejam profissionais críticos-reflexivos. De
acordo com Zeichner (1981), esses professores necessitam analisar e
enfrentar os dilemas que se colocam na sua atividade; assumir os seus
valores; estar atento aos contextos culturais e institucionais;
envolver-se na mudança e tornar-se agente do seu próprio
desenvolvimento profissional.
Finalmente, levando em
consideração a sociedade plural em que se vive, caracterizada pela
conflitualidade,
incerteza e complexidade, os professores precisam de desenvolver uma
prática reflexiva no sentido de transformar a sala de aula. E a
discussão em torno das práticas reflexivas e do professor
reflexivo, longe de estarem concluídas, permanecem em aberto.
Afinal, muitas perguntas emergem no processo de estudo de tais
questões, como por exemplo a percepção que os professores têm
sobre a reflexão, como reconhecem seu papel na educação, como
constroem suas identidades, como realizam sua prática, entre outras.
Assim, as práticas reflexivas na medida em que envolvem equipes de
professores em trabalho coletivo e engajado ao Projeto Político
Pedagógico da instituição, podem constituir um modo de lidar com a
incerteza de modo competente e ético.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ALARCÃO, I. Professores
reflexivos em uma escola reflexiva. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2010.
AQUINO, J. G.; MUSSI, M.
C. As vicissitudes da formação docente em serviço: a
proposta reflexiva em debate. In: Educação
e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.2, p.211-227, jul./dez. 2001
CONTRERAS, J. A autonomia
de professores. São Paulo: Cortez, 2002.
FREIRE, P. Educação na
cidade. 4.
ed. São Paulo: Cortez, 2000.
__________. Pedagogia do
oprimido. 38 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
GHEDIN. E. Professor
reflexivo: da alienação da técnica à autonomia da crítica. In:
PIMENTA, S. G.; GHEDIN, E. (orgs). Professor reflexivo no Brasil:
gênese e crítica de um conceito. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2002. p.
148 – 173.
GÓMEZ, A. I. P. O
pensamento prático do professor: a formação do
professor como profissional reflexivo. In: NÓVOA, A. (org.). Os
professores e a sua formação. Lisboa (Portugal): Publicações Dom
Quixote, 1992. p.95-114.
______. A função e
formação do professor/a no ensino para a compreensão: diferentes
perspectivas. IN: SACRISTÁN, J. G; GÓMEZ, A. I. P. Compreender e
transformar o ensino. 4 ed. São Paulo: Artmed, 1996. p. 353 – 379.
LÜDKE, M. A pesquisa e o
professor da escola básica: que pesquisa, que professor? In: CANDAU,
V. M. (Org). Ensinar e aprender: sujeitos, saberes e pesquisa.
Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE). Rio de
Janeiro: DP&A, 2000.
OLIVEIRA, I; SERRAZINA,
L. A reflexão e o professor como investigador. In: GTI – Grupo de
Trabalho de Investigação (org.). Reflectir e investigar sobre a
prática profissional. Portugal: APM, 2002, p.29-42.
PIMENTA, S. G. Saberes
pedagógicos e atividade docente. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2012.
RESENDE, L. M. G. O
sujeito reflexivo no espaço da construção do projeto
político-pedagógico. In. VEIGA, I. P. A.; FONSECA, M. (Orgs.). As
dimensões do projeto político-pedagógico: novos desafios para a
escola. 2 ed. Campinas: Papirus, 2001. p. 239 – 256.
SCHON,
D.
A.
Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a
aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000.
VASCONCELLOS,
C. dos S.
Para onde vai o professor? Resgate do professor como sujeito de
transformação. São
Paulo: Libertad, 1995.
ZEICHNER,
K. M. A
Formação Reflexiva de Professores: Ideias e Práticas. Lisboa:
Educa, 1981.
1
John Dewey
(1859-1952) foi um filósofo, psicólogo e educador norte-americano
que influenciou, de forma determinante, o pensamento pedagógico
contemporâneo. Suas obras foram fundamentais para que o movimento
da Escola Nova tomasse impulso e se propagasse por quase todo o
mundo, sendo citado, por muitos, como o pai da educação
progressista. O enfoque que dava à pedagogia era voltado à
experiência prática, sendo, por isso, às vezes, chamada de
fazendo
e aprendendo.
2
SCHÖN, D.
The reflective practitioner. New York (EUA): Basic Books; 1983.
3
SCHÖN, D.
Educating the reflective practitioner. New York (EUA): Jossey-Bass;
1987.
Nenhum comentário:
Postar um comentário